18/11/2019 às 10h29min - Atualizada em 18/11/2019 às 10h29min
Disney+ exibe aviso nas sinopses de obras clássicas preconceituosas
"Este programa é apresentado como originalmente criado. Pode conter representações culturais desatualizadas’’, informa a empresa em criações como Peter Pan e Fantasia, presentes na plataforma
Gustavo Martins - Editado por Bárbara Miranda
FONTE : Print do filme Dumbo na plataforma Disney+, que mostra o alerta
O serviço de streaming Disney+ foi lançado na última terça-feira (12), nos Estados Unidos, competindo com os já consolidados Netflix e Amazon Prime. O catálogo conta com produções antigas, sem modificações no seu conteúdo original. O aviso antecede os filmes que apresentam visões racistas e sexistas como: ‘’A dama e o vagabundo’’ (1955) e ‘’Dumbo’’ (1941).
Em relação a esse último, a gigante do entretenimento informou em abril que editaria as partes nas quais aparecem os corvos fumantes de charutos – que representam um imagem racista – mas acabou optando por lançar sem alterações, assim como ‘’Mogli, o menino lobo’’, que igualmente apresenta certo teor de racismo. De acordo com a crítica de Abigail Disney, documentarista e sobrinha-neta de Walt Disney, esse é ‘’um filme sobre como você deve ficar próximo a seres do seu tipo no auge da luta contra a segregação’’, refletindo o conformismo na divisão do povo. Já ‘’A dama e o vagabundo’’ é um dos exemplos de xenofobia. Nele, dois gatos cantam a canção We are siameses com um sotaque asiático de maneira estereotipada.
FONTE : Cena dos Corvos fumantes no filme Dumbo/Reprodução: Disney.
Apesar da decisão na exibição de seus clássicos, a Disney removeu alguns considerados mais polêmicos, como é o caso do musical Song of the South, que narra contos populares afros, mostrando um personagem negro feliz na condição de escravo. "Não espere vê-lo novamente por algum tempo — se é que algum dia", declara Robert A. Iger, executivo-chefe da empresa, sobre o primeiro live action da companhia, em uma reunião com acionistas em 2011,
A Disney é conhecida há tempos por essa visão ultrapassada que ela mesma reconhece.
O livro ‘’Para ler Pato Donald’’ (1971), de Ariel Dorfman e Armand Mattelart, analisa os quadrinhos e relata diversos casos, como a representação velada do México inferiorizado recebendo o nome de Aztecland, tendo toda a banalização e preconceito clichê do mexicano com poncho, sombreiros grandes, machismo, burros e cactos. Os autores afirmam a política de bom-selvagem, em que os protagonistas das histórias conhecem personagens habitantes de outros países que são apresentados de uma forma marginalizada ou até estúpida, como é o exemplo de Gu, o abominável homem das neves, habitante do Tibete, que não sabe o valor de seus pertences e apenas balbucia o seu próprio nome.