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17/01/2022 às 20h39min - Atualizada em 15/01/2022 às 17h16min

Lavagem do Senhor do Bonfim

A história por traz da tradição

William Haxel - editado por Larissa Nunes
Lavagem Senhor do Bonfim. (Foto: Reprodução - Marina Silva/CORREIO).

A Lavagem do Bonfim é uma celebração tradicional inter-religiosa que é comemorado sempre na segunda quinta-feira do ano, a festa é considerada a segunda maior manifestação popular da Bahia, ficando atrás apenas do Carnaval. O festejo começa às 10 da manhã, quando os participantes se concentram em frente à Igreja da Conceição da Praia para dar início a uma caminhada de 8 km até a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim. O cortejo é comandado por baianas com trajes típicos - turbantes, saias engomadas, braceletes e colares - que carregam vasos com água de cheiro para realizar a lavagem das escadarias. Todos se vestem de branco, que á a cor de Oxalá, o Deus Yoruba sincretizado com Senhor do Bonfim.

Baianas fazem a lavagem das escadarias da Igreja do Bonfim após a chegada do cortejo que saiu do bairro do Comércio, em Salvador.
(Foto: Reprodução - Max Haack/Ag. Haack).
  

Foi o capitão português Teodósio Rodrigues de Faria que introduziu na Bahia a devoção ao Senhor do Bonfim. Negociante de tabaco e escravos, possuía uma grande frotas de navios que navegavam entre a América e Europa. Nascido em Setúbal, Portugal, onde essa devoção é muito forte, o Capitão Teodósio enfrentou em uma das suas viagens um temporal em alto mar, e em meio a este temporal, ele prometeu que se passasse por essa fase em vida, iria construir na Bahia, uma igreja no lugar mais alto da cidade específica para louvar o Senhor do Bonfim. Em 1945, O Capitão mandou buscar em Setúbal a imagem do Senhor do Bonfim idêntica à que existe em sua cidade. A imagem chegou na Bahia no dia 18 de abril de 1745, acompanhada da Imagem de Nossa Senhora da Guia, que foi introduzida na capela que logo em seguida virou a igreja. A devoção logo foi ganhando força pelos seus cultos, nas sextas feiras eram realizadas as missas, e antes disso, nas quintas, os escravizados eram enviados para lavarem o templo.

Oficialmente, em 1804, aconteceu a primeira lavagem oficial da igreja, com os fiéis lavando a igreja por inteiro, logo, os grandes padres da época passou reclamar do grande excesso popular e dizia que a lavagem parecia festa de candomblé. Sendo assim, passou a ter várias proibições. Com a abolição da escravatura, a lavagem continuou sendo realizadas pelos negros, não como uma obrigação patronal, e sim como uma obrigação religiosa.

Concentração em frente a Igreja do Senhor do Bonfim. (Foto: Reprodução / Fábio Marconi).
 


Qual a relação entre Bonfim e Oxalá?

O sincretismo religioso entre o catolicismo e o candomblé está presente na vida dos baianos e fica ainda mais evidente nas tradicionais e centenárias festas de largo de Salvador. Neste caso, no sincretismo Oxalá é o Senhor do Bonfim. Mas, qual é a origem dessa ligação religiosa?
 

De acordo com antropólogo e professor da Universidade Federal da Bahia, Vilson Caetano: "De acordo com a cultura Iorubá, Oxalá é o criador dos seres vivos, representa os primeiros grupos humanos que saíram para a povoar a terra. Este orixá também possui o título de 'pai da montanha', o que constituiu uma ligação com africanos que habitavam regiões montanhosas. Esse culto de reverenciar Oxalá, o orixá da criação, possibilitou esse encontro com o Senhor do Bonfim", explicou.

"Já Senhor do Bonfim é uma figura emblemática de Salvador, tanto que muitas pessoas não sabem que é o próprio Jesus de Nazaré. Ele também tem ligação com o salvamento, com a criação e foi colocado no alto de um monte para o pagamento de um promessa (feita por capitão português caso sobrevivesse de uma tempestade no mar)", detalhou o antropólogo em uma entrevista para o iBahia. Desta forma, o sincretismo religioso entre Oxalá e Senhor do Bonfim pode ser estabelecido pela semelhança da origem do orixá, que é adorado nas alturas e é considerado o criador dos seres vivos, com a figura de Jesus, que é cultuado nas colinas e também é reconhecido como criador do universo.


Em 2020, a celebração de Nosso Senhor do Bonfim completou 275 anos. E em 2021 e 2022 a festa foi suspensa devido á pandemia da COVID-19. A festa reúne a participação de diversos blocos populares, entre grupos carnavalescos, folclóricos, religiosos e políticos. Dentre esses, já fizeram o percurso o bloco Afoxé Filhos de Ghandy, o bloco Afro Muzenza, o Ilê Ayê, sindicatos, OAB e até time de futebol, somando mais de 50 entidades; em 2013 a festa religiosa foi reconhecida como Patrimônio Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).


 

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