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31/01/2022 às 00h00min - Atualizada em 31/01/2022 às 00h01min

Janeiro branco busca romper o preconceito contra transtornos mentais

Brasil é o país mais ansioso do mundo e o segundo com mais casos de depressão na América, de acordo com a Organização Mundial de Saúde

Lila Sousa - Editado por Júlio Sousa
Foto/Reprodução: Envato
 
Janeiro foi escolhido por profissionais da saúde como mês de orientação e alerta sobre os problemas de saúde mental, tema que ainda envolve muito tabu. Segundo estudo encomendado pelo Fórum Econômico Mundial, 53% dos brasileiros reconhecem que sua saúde mental piorou bastante durante a pandemia. A psicóloga Karoline Nascimento explica que, como tudo era muito aterrorizante, isso acabou desencadeando muitos gatilhos de ansiedade, transtorno do pânico, e muitas pessoas buscaram ajuda para tentar lidar com esse sentimento de medo da morte, estar isolado e não conseguir lidar com esse isolamento.
 
Em 2020 o Ministério da Saúde fez uma pesquisa que apontou a ansiedade como o transtorno mais prevalente na população, principalmente durante o período pandêmico. O estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz e mais seis universidades apontou que metade da população brasileira manifesta sinais de ansiedade e nervosismo, sendo a indicação dos profissionais que esses sintomas não permaneçam por mais de 15 dias.
"Assim como qualquer especialista é procurado quando temos algum problema, seja cardíaco, ginecológico ou qualquer outro, é preciso criar o hábito de pedir ajuda quando sentimos que algo não vai bem", ressalta Raquel Heep, psiquiatra e professora na Universidade Positivo.

Raquel explica que muitas vezes as pessoas não buscam ajuda e acabam levando uma vida de má qualidade, isso acaba afetando o trabalho, a família e pode chegar ao suicídio, se tornando um grande problema. Um dos motivos que impede a busca por ajuda é a psicofobia, preconceito contra as pessoas que sofrem com deficiência ou transtornos mentais, gerado pela falta de conhecimento e compreensão do assunto.

Devido à falta de informação e o tabu, ainda existente na sociedade, a psicofobia vai ganhando força. A psiquiatra Priscila Dossi alerta que as pessoas que buscam ajuda profissional no meio psiquiátrico, ou com a psicologia, são estigmatizadas. Por isso, muitas pessoas, mesmo cientes do transtorno, não procuram ajuda psiquiátrica por receio ou vergonha. Além disso, muito desse preconceito tem origem na família do indivíduo. 

Buscando tratamento

O processo de psicoeducação é importante para que as pessoas compreendam o que são as doenças psicológicas e o que é o tratamento psicológico/psicoterápico que pode ou não ser em conjunto com a psiquiatria. De acordo com a psicóloga Karoline Nascimento, para romper o preconceito é preciso munir as pessoas com informações que permitam a construção ou reconstrução do que pensam com relação às doenças mentais e à psicoterapia.

Nair Cristina, 20, estudante de pedagogia, descreve que percebeu o momento de procurar ajuda quando os sentimentos a faziam pensar em se machucar e nas tentativas de tirar a própria vida. "Eu tinha perdido a minha energia, vontade de viver e fazer planos. Absorvia o que acontecia com tanta intensidade que não conseguia me expressar sobre o que estava sentindo", descreve a jovem.

Durante a pandemia, Nair notou uma piora do que sentia, ficou recuada da família e amigos o que resultou em algumas crises. Como já é acompanhada por um psiquiatra pôde continuar o tratamento durante o período de isolamento. Ao perceber que os sentimentos mexiam com todo o seu corpo, causando crises de ansiedade, depressão, mal-estar e até mesmo convulsão, manteve os cuidados com a saúde mental. "Esse período tem sido um pouco conflituoso, mas, ao mesmo tempo, preciso. Estou crescendo", explica a jovem.

O tratamento não é tão simples, dependendo dos sintomas apresentados e de como o indivíduo responde ao tratamento. "O processo psicoterápico é individualizado, cada um vai responder de uma forma dentro do processo", explica Karoline. Algumas pessoas respondem mais rápido ao tratamento, mas isso é consequência da compreensão do processo, de como a psicoterapia tem auxiliado e do nível de autoconhecimento desse indivíduo.

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