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04/02/2022 às 23h37min - Atualizada em 04/02/2022 às 11h41min

‘Reage, bota um cropped’: expressão explica influência das roupas no comportamento

A peça de roupa que atravessa décadas para mostrar o comportamento da sociedade

Letícia Renata Leite - labdicasjornalismo.com
Reprodução/Instagram/@camilacoutinho

As definições de empoderamento feminino foram atualizadas com sucesso. No último mês, o bordão “Reage, bota um cropped” viralizou na internet, depois que Gabriela Gomes de Souza, de 22 anos, ficou triste por levar um bolo de um garoto, e ao tentar reanimá-la sua irmã mais velha aconselhou Gabriela reagir e colocar um cropped. Depois disso, ela fez um desabafo no Twitter sobre a situação e a frase viralizou nas redes sociais.

"Resumidamente, foi só um bolo que eu levei de um boy. Aí fiquei sem vontade de viver, fazendo drama pra minha irmã mais velha e ela ficou indignada porque eu tava lamentando por macho (que por sinal só tinha visto uma vez na vida)", disse a jovem em sua conta no Twitter.

O bordão tem haver com o termo cognição indumentária, usado por cientistas para explicar como a escolha do que vestimos têm efeito psicológico na autoimagem, na autoestima e, principalmente, na percepção que os outros têm de nós. Quando vestimos uma roupa, inevitavelmente adotamos características que associamos àquela roupa ou até mesmo agimos com o sentimento que aquela peça emana. O cropped surgiu na indústria da moda nas décadas de 1930 e 1940, e a peça reforça coragem, resistência, autoestima e autoaceitação.

O sentimento em torno do cropped é normal, assim como em torno de uma calça de couro, por exemplo, pois são peças que carregam adjetivos de liberdade, sensualidade e autoconfiança. E vestindo-as, um pouco desses sentimentos acabam sendo nossos também. 

Adepta ao cropped para “sentir liberdade”, a estudante Joyce Medeiros, de 17 anos, diz que a peça a ajudou a se desligar das pressões estéticas que sofre por ter um corpo fora do “padrão” imposto pela sociedade.

“Mesmo tendo inseguranças com o meu corpo, hoje encontrei meu estilo e esse padrão proposto não me impede mais de vestir o que eu quero e o que me sinto bem, sem me importar com o que os outros vão pensar”, diz a estudante.

Em um experimento na Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, os psicólogos Hajo Adam e Adam Galinski dividiram um grande grupo de pessoas em duas partes. Para metade deles, eles lhes deram jalecos, enquanto a outra metade os deixou com suas próprias roupas. O resultado? As pessoas de jaleco foram mais rápidas e mais confiantes em testes de agilidade mental. Será que é só vestir uma roupa e o comportamento já muda? Eles fizeram o teste novamente, desta vez colocando jalecos em todos. Para metade disseram que o jaleco era de doutor. Já para os outros, disseram que o jaleco era de pintor. Os que usavam jaleco de pintor não tiveram melhorias, mas aqueles que usavam jaleco de doutor sim. 

“A autoestima é a imagem e a opinião, positiva ou negativa, que cada um tem e faz de si mesmo. E o ato de se vestir estabelece uma relação íntima com a nossa autoestima, visto que o nosso estilo e as peças que escolhemos para usar demonstram a forma como sinto, me vejo e me percebo. Por conta disso, pode-se dizer que a forma de se vestir reflete aquilo que o indivíduo é, a imagem que ele quer ver e a forma como ele quer se apresentar socialmente”, diz a psicóloga, Nathanne Ciriaco.

A moda é uma das muitas expressões culturais. Ela reflete quem somos e por isso se perpetua, continua com a mesma força dos nossos próprios desejos e necessidades de expressão. É interessante pensar que muito da moda foi construída sobre essa busca por pertencimento, aceitação, reconhecimento e formação das identidades individuais e coletivas. Resumindo, existe moda em tudo porque existe expressão em tudo.

 

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