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07/02/2022 às 12h20min - Atualizada em 04/02/2022 às 21h07min

O circo itinerário está vivo

Mesmo com dificuldades, espetáculos ainda brilham os olhos do público

Jerusa Vieira - Editado por Larissa Bispo
Fonte: SPP News
Abrem-se as cortinas, o espetáculo começa. Aplausos, risos, olhares atentos preenchem o pequeno espaço sob lonas. No palco, palhaços, mágico, malabaristas, contorcionistas, dão o melhor de si para tornar especial cada sessão de apresentação e entregam um verdadeiro show. 

A arte circense esteve presente na infância de quase todos (ou todos?) os adultos de hoje em dia. Aquele picadeiro montado com uma lona gigante em formato circular era um dos destinos principais para quem precisava de um lazer. Seu valor acessível, a presença nos bairros, a alegria que trazia, as atrações diversas, sempre foram razões que atraiam o público. Desde crianças a idosos, essa arte leva encanto e faz brilhar os olhos dos telespectadores.

Mesmo com o crescimento das novas tecnologias e outras formas de entretenimento, o circo ainda permanece de pé. De fato, a procura por ele se tornou bem mais rara. Sair de casa para assistir a um espetáculo tendo opções de entretenimento através das telas, se tornou recusável. Essa cultura, forte há alguns anos atrás, continua viva, porém com dificuldades. 


Aos trancos e barrancos

Há uma realidade por trás das cortinas, onde o olhar do público não alcança. A desvalorização da profissão de artista de circo, a redução do público nos últimos anos, a pandemia do novo Coronavírus, que forçou o fechamento para apresentações por mais de um ano, a falta de investimento financeiro dos governantes e de legislação que beneficiem os trabalhadores circenses, entre outras vertentes, são barreiras que esses profissionais precisam enfrentar.

Devido à especulação imobiliária, os trabalhadores de circo itinerantes ficam impossibilitados de se instalarem em espaços públicos. A maioria das instalações não possuem subsídio público, e os que recebem quase não é suficiente para o sustento de todos os artistas, fora os custos com equipamentos, manutenção de trailers e das lonas, figurinos etc. Com poucos recursos, eles buscam motivações para continuar, pois a recompensa do trabalho realizado por eles vai muito além do material, mas a satisfação de dar o seu melhor em palco.


O palhaço Facilita













Nas cidades do interior e nos bairros periféricos do Rio Grande do Norte, o Circo do Facilita faz a alegria da população há 40 anos. José Milton, o palhaço Facilita, foi um dos pioneiros a ter um circo. Ele carrega essa arte dentro de si desde os 13 anos. No início ele estava presente vendendo pipoca, vigiando a cerca do picadeiro, ajudando na limpeza, mas foi se revelando com talento para palhaço e iniciou apresentações com o nome de Desmantelo.

Nos espetáculos em que ele trabalhava, artistas famosos eram convidados para se apresentar, como Gretchen e o cantor Luiz Gonzaga, que cantava a música “Facilita” em sua apresentação e, assim, inspirou José Milton a mudar seu nome de palhaço e foi batizado com o nome da canção, que toca até hoje na abertura dos espetáculos.

Para o palhaço, a maior dificuldade enfrentada pelos artistas circenses é a falta de investimento do poder público. Além disso, as pessoas têm medo de sair de casa devido à violência das ruas. Porém, mesmo aos trancos e barrancos, ele tem lutado para permanecer. Segundo o palhaço: “A melhor recompensa pra mim não é a parte financeira, mas o carinho das pessoas. É o que me deixa feliz e o que mais me faz ter forças para continuar lutando pelo circo.” 

Facilita incentiva os pais a darem continuidade a essa cultura de apreciação à arte circense levando os filhos a apreciar os espetáculos. “Quero que todas as pessoas venham ao circo, pois é uma das maiores diversões populares do Brasil. E tragam seus filhos também para que assim como essa arte marcou a infância dos pais, possa ser um marco de alegria e sorrisos para as crianças também”, aconselha Facilita.


O início de tudo

O circo começou a se desenvolver no Império Romano, com atividades semelhantes ao que temos hoje. A palavra “circo” tem origem no latim circus, que significa "círculo" ou "anel". Esse termo se refere justamente às arenas romanas, lugares onde se praticavam esportes e lutas.

O primeiro grande circo que se tem conhecimento foi o Circus Maximus, construído por volta do século IV a.C., durante a Roma Antiga. A estrutura tinha capacidade para 150 mil pessoas e exibia corridas de carruagens, lutas de gladiadores, apresentações com animais ferozes e pessoas com talentos incomuns.

Foi apenas no século XVIII, na Inglaterra, que os circos ganharam características modernas, com picadeiros, apresentando os tipos de artes circenses que conhecemos. Em 1768, foi criado o Anfiteatro Real das Artes, onde eram realizados shows com cavalos e entre uma apresentação e outra havia exibições de malabarismo e palhaçaria.

No Brasil, o circo chega no século XIX, com a vinda de famílias europeias que viviam coletivamente manifestando suas habilidades circenses. Com referências do povo cigano, o circo passou a ter a prática de deslocamento, sempre se mudando de lugar, e o palhaço ganhou características próprias, já que na europa eles eram mais voltados para a mímica. Aqui, eles passaram a ter falas e gestos exagerados, assim como bastante humor.


Circo é cultura e educação

Antes da chegada do circo, as opções de lazer só estavam presentes nas grandes cidades. Com o formato itinerário, os lugares mais esquecidos pelo poder público passaram a ter acesso a algum formato de diversão. 

 

A relação do circo com a população gera oportunidades de desenvolvimento pessoal e de criatividade, possibilitando com que o público não só assista a um show, mas que também aprenda sobre novas culturas e costumes, agregando, assim, um conhecimento intelectual e cultural.

 

Antes tido como uma cultura familiar, hoje, há escolas de atividades circenses para formar novos artistas e, dessa forma, expandir essa arte que conquista todas as idades em todos os tempos.


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