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07/02/2022 às 00h00min - Atualizada em 07/02/2022 às 00h01min

Homossexualidade na terceira idade

Idosos LGBT+ relatam suas experiências de vida em diferentes momentos

Nicole Duarte - Editado por Júlio Sousa
Observatório G
Antes de tudo, é importante falar sobre a sigla, que, ao longo dos anos, teve algumas alterações para agrupar adequadamente todos os grupos existentes. A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexuais (ABGLT) usa o LGBTI+, porém, outros grupos preferem adotar LGBTQ+ ou LGBTQIA+. Os termos considerados mais corretos são: LGBT+, LGBTI+, LGBTQ+ e LGBTQIA+. Os significados são lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, queer, intersexuais, assexuais e outros grupos e variações de sexualidade e gênero.

Com relação à sexualidade na terceira idade, a visão manifestada é a de que 
“Os heterossexuais da terceira idade estão esquecidos, abandonados, postos de lado, segregados. Mas os idosos LGBT são simplesmente invisíveis. Ninguém sabe que nós existimos. Queremos satisfazer a mais básica das necessidades: acabar com a solidão e podermos nos reunir como uma grande família”, diz a ativista transexual Samantha Flores de 84 anos.

No último Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, realizado entre 29 de abril e 3 de maio de 2014, no Pará, a psiquiatra Carmita Abdo, professora da USP (Universidade de São Paulo), divulgou dados de uma pesquisa mostrando que o preconceito e o descaso que atingem os idosos brasileiros se tornam ainda mais graves no caso dos homossexuais. Isso implicaria, segundo a especialista, em índices mais elevados de depressão nesse grupo: enquanto a estimativa de depressão entre idosos heterossexuais (homens e mulheres) é de 13,5%, entre as lésbicas esse número sobre para 24% e, entre os gays, chega a 30%.

Deixando de lado esses dados, e, tendo uma visão mais otimista e esperançosa, u
m projeto de lei – 7524/2014 –, elaborado pelo deputado federal pelo PSOL/RJ, Jean Wyllys, atualmente aguardando designação de relator na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, altera ligeiramente o texto do Estatuto de Idoso para garantir que as entidades que desenvolvam programas de institucionalização de longa permanência aos idosos – como as casas de repouso, por exemplo – exerçam suas funções “de modo a preservar a dignidade dessas pessoas, respeitando-as independentemente de orientação sexual ou identidade de gênero”.

"Abro espaço aqui para contar uma história de amor" 


Otto Santo, 59 anos, sempre percebeu que havia “algo diferente” em sua personalidade. Ele era um jovem atleta da década de 1980, que quando não conseguiu mais lidar com dualidade e da descoberta de sua sexualidade, viajou para os Estados Unidos, que na época era terreno fértil para o movimento LGBT. 

Ao voltar para o Brasil, conheceu o Mauro, que era 14 anos mais velho que ele e, segundo Otto, foi amor à primeira vista. “Trocamos os olhares, parecia que tinha ligado um botão. Fomos nos conhecendo e aos poucos tudo ia ficando mais sério”, explica ele. Mauro, por sua vez, tinha uma posição profissional importante e vivia entre políticos – o que fazia com que o casal fosse o mais discreto possível, por medo de possíveis escândalos.

Os dois viveram juntos por 33 anos, viajando e conhecendo o mundo. Mas no dia 13 de novembro de 2018, Mauro passou mal e foi levado ao hospital por Otto. A despedida entre os dois não aconteceu, porque três horas depois, Mauro faleceu, aos 70 anos. “Eu ouvi frases que ninguém deve dizer pra outra pessoa que acabou de perder um ente querido. Coisas do tipo ‘já foi, acabou, é melhor você se recompor e tocar a vida’”, recorda Otto, que foi impedido por sua família de sentir a perda do companheiro. “O fato de não me deixarem chorar, foi motivo de afastamento da minha mãe e dos meus irmãos, porque a mágoa em não me deixarem sentir o luto era grande”.  Amigos do casal também se afastaram após a partida de Mauro, e a rede de apoio de Otto era cada vez menor, já que os principais amigos moravam longe. 

“Eu sinto muita falta. Foram os melhores 33 anos da minha vida, mas eu queria só mais cinco minutos pra poder me despedir dele. Não deu tempo. O luto LGBT é tão violento que consegue cortar a tristeza com faca pra poder passar. Poucas vezes você tem alguém que te estende a mão. Temos os mesmos problemas de uma pessoa hétero, mas somos invisíveis”, diz Otto.


Na foto, temos Otto à direita, e seu companheiro Mauro. Referência: Otto Santo/Arquivo pessoal.  

Referências: https://claudia.abril.com.br/sua-vida/dia-do-idoso-idosos-lgbts-eternamentesou/ (responsável pela entrevista com Otto).
 
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