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30/08/2022 às 15h01min - Atualizada em 09/02/2022 às 11h23min

Trajetória do gênio da arte mato-grossense eternizada: Clóvis Irigaray ganha exposição virtual

Internautas podem fazer um verdadeiro tour pelo museu virtual de Irigaray para conhecer mais sobre sua vida, fases artísticas e obras de destaque

Mariana da Silva - Revisado por Jéssica Meira
(Foto: Protásio de Morais/Clóvis Irigaray e suas obras)

Homenageado mestre da cultura mato-grossense, o falecido artista plástico Clóvis Irigaray, tem suas obras eternizadas em exposições que podem ser visitadas por qualquer pessoa em qualquer lugar. O "Projeto Irigaray Mestre" traz exposições virtuais que contam sua história, trajetória artística e de suas obras, e chegou inclusive a ser acompanhado por ele antes do falecimento.
 
Em tempos de pandemia, onde o distanciamento social é requisitado e as aglomerações são evitadas, a arte ganha novos caminhos por meio das exposições virtuais. Além de ser uma alternativa para quem não pode se deslocar até os locais onde seriam realizadas, essas "visitas virtuais" são uma forma mais acessível e inclusiva de proporcionar acesso a pessoas de todos os lugares, classes, entre outros, a ter contato com a arte.
 
Para quem deseja apreciar mais a vida e obras do artista, as exposições estão disponíveis através no site Artsteps - onde é possível se deslocar virtualmente como se estivesse caminhando em um museu ou exposição propriamente dita - ou site oficial da Exposição Irigaray Mestre, onde é possível ler mais sobre a biografia de Irigaray e as fases de sua trajetória artística.

Em berço de cultura regional, surge o artista
 
Predestinado, ou não, Clovis Hugueney Irigaray nasceu em Alto Araguaia (415 km de Cuiabá) em 23 de março de 1949, coincidentemente no mesmo ano em que o documentário “Aspectos do Alto do Xingu” estreou no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Filho de Dorothy Hugueney e Carlos Irigaray Filho, foi o quarto dos dez filhos do casal, e desde cedo a arte entrou em sua vida por meio dos incentivos da mãe em seus desenhos.
 
Ainda no ginásio, em 1963, Clóvis ganhou o primeiro prêmio em um concurso artístico com o seu conhecido desenho “Retrato de Cristo”. Mais tarde, enquanto fazia faculdade de Direito em Campo Grande, desenhava em giz pastel. No mesmo ano de 1968, iniciou sua carreira com a exposição “Cinco artistas de Mato Grosso”, na galeria do Cine Bela Artes de São Paulo e do XXIII Salão Municipal de Belo Horizonte. Já na capital Cuiabá, em 1975, começa a desenvolver suas artes no Museu de Arte e Cultura Popular da Universidade Federal de Mato Grosso (MACP-UFMT), a conhecida universidade da selva e um ano depois inicia sua fase indigenista com a série "Xinguana".

É quase impensável falar em Irigaray e não lembrar de imediato das figuras indígenas retratadas com um hiper realismo que impressiona. E é ainda mais surpreendente quando se sabe que, na verdade, o artista jamais pisou em uma aldeia indígena, sendo as inspirações de suas obras os cartões postais da época, revistas e outros materiais publicitários, fato esse que demonstra a tamanha precisão que o artista dominou em suas técnicas devido a proximidade que desenvolveu com o tema.
 
Frequentemente representava figuras indígenas com elementos ligados ao consumismo, mesclando a interação entre a natureza e a sociedade da vida urbana. Índios tomando refrigerante em um piquenique, participando de missa, estudando em biblioteca, assistindo televisão em uma canoa, tomando café, entre outras cenas que à primeira vista parecem curiosas e utópicas, por misturar dois mundos completamente distintos.
 
Mas o que se sobressai de sua arte é a relação na qual os indígenas, com seus aspectos culturais e tradicionais, e os não-indígenas, com hábitos urbanos da sociedade capitalista de consumo, convivem harmoniosamente apesar dos contrastes explícitos e compartilham de momentos e espaços nos quais é possível notar que as duas culturas não se chocam, mas que convivem com respeito na perspectiva de suas obras.

Clovinho, como era carinhosamente chamado, tem seu nome eternizado no grupo da gênese da pintura moderna de Mato Grosso junto de grandes nomes como Humberto Espíndola, que inclusive foi seu amigo e conselheiro artístico, Dalva de Barros e João Sebastião. Foi nomeado em 2013 como Embaixador das Artes pela Academia Francesa de Artes, Letras e Cultura e convidado a expor no Museu do Louvre, em Paris. No ano de 2020 teve sua última exposição (ao menos de forma presencial), intitulada "Exposição Gestual - Irigaray - Arte – Ikuiapá", em 2020, no Centro Cultural Casa Cuiabana.
 
Faleceu em 2021, aos 72 anos, deixando um legado artístico e cultural inestimável de grande inspiração para novos artistas. Mesmo com postura transgressora, sendo contestador, irreverente, excêntrico e de estilo único, valorizava as origens do seu Estado e levou ao Brasil e ao mundo a história da identidade cultural de Mato Grosso, da religiosidade local e dos povos indígenas, tornando-se referência indiscutível da arte mato-grossense.

No site Visual Virtual estão expostas mais algumas de suas obras, você pode conferir clicando aqui, e ainda apreciar as obras de outros artistas regionais.


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