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10/02/2022 às 18h13min - Atualizada em 10/02/2022 às 17h55min

A precária acessibilidade de livros em braille

Apesar da evolução tecnológica que possibilita deficientes visuais a terem acesso a audiobooks, muitos ainda preferem a leitura física, mas as possibilidades são bastante limitadas

Emily Prata - Editado por Andrieli Torres
Reprodução: Comando Notícias

“Nada como sentir aquele toque do papel, o prazer de abrir um livro e poder ler. Foi isso que me motivou”, contou Celso Antônio Franco, o aposentado de 57 anos que há 12 anos perdeu a visão, em entrevista ao jornal O Liberal. Apesar da evolução tecnológica que possibilita deficientes visuais a terem acesso a audiobooks, muitos ainda preferem a leitura física, mas as possibilidades são bastante limitadas. 

 

Livros não acadêmicos em braile são raros de serem encontrados e apesar dos acervos existirem eles são poucos divulgados, limitando assim a possibilidade de leituras para deficientes visuais. Todos têm acesso ou ao menos a possibilidade de acesso à livros físicos, deficientes visuais encontram uma dificuldade não só física, mas também uma mercado pequeno e pouco divulgado. 

 

ACESSIBILIDADE

 

O braille é essencial não só para a literatura, mas representa também a possibilidade de independência, é dessa forma que se tornam hábeis para ler e escrever de forma autônoma, mas apesar de sua importância ele é extremamente ausente dentro da sociedade. Para os que nascem com a deficiência a adaptação ocorre de forma natural, mas para aqueles que desenvolvem a deficiência ao longo da vida o processo é bem mais complicado e a adaptação bem mais difícil. 

 

“Sempre gostei de ler, e depois que perdi a visão não queria perder o meu principal passatempo. O braile era a única solução, mas ele é muito difícil, principalmente para quem já enxergou um dia. Tem que esquecer tudo que aprendeu na tinta e se alfabetizar de novo. Mas eu persisti e agora sou leitor assíduo”, conta Celso.

 

Para muitos o audiobook é a opção mais viável e prática, muitos ainda preferem o prazer do cheiro, toque e sensação do papel, apesar de precisarem ser maiores e adaptados, os livros em braille devem ser mais acessíveis para aqueles que precisam. Não apenas livros acadêmicos, mas também literários, que não são apenas essenciais mas também uma valiosa forma de entretenimento para muitos. 

 

ACERVO

 

Apesar de pouco divulgados e raramente reabastecidos, os acervos de livros em braile existem, uma delas é a Fundação Dorina Nowill para Cegos, que possui 508 livros em braille, 3675 audiobooks e 945 conteúdos digitais. Porém, as editoras encontram uma barreira significativa para colocar esses livros no mercado, o custo da produção de livros em braille é 70% maior do que livros convencionais. “Outro ponto que também dificulta o processo é a falta de profissionais capacitados para a criação do conteúdo, tornando a mão de obra escassa no mercado”, diz Carla De Maria, gerente de soluções em acessibilidade em entrevista ao jornal Estadão. 

 

A única forma de tornar a produção mais barata e tornar os produtos mais acessíveis, é possível fazer isso investindo em tecnologias editoriais especializadas na produção desse conteúdo em alta escala. Além da possibilidade de parcerias entre fundações especializadas e as editoras interessadas na conversão e adaptação dos títulos para que sigam as normas do braille, já que há pouca mão de obra qualificada. Somado a isso tem-se o tamanho específico dos livros dependendo do seu conteúdo, normalmente os volumes possuem 23 centímetros de largura por 31 de altura, por isso precisam de máquinas específicas para sua produção.

 

“A Fundação Dorina tem dois tipos de máquinas de impressão. As digitais, dispositivos de mercado, preparadas para a impressão de braille em papel de gramatura mínima offset 120mg, que imprimem por arquivos. E as manuais, Heidelberg, adaptadas para impressão em papel com gramatura mínima offset 120g por matrizes, as chapas de alumínio”, explica Carla.

 

O desenvolvimento tecnológico é necessário para tornar essas máquinas mais acessíveis às fundações como a Dorina Nowill e para as editoras, para, como dito anteriormente, tornar os livros em braille mão só mais populares, mas também mais acessíveis. Os livros têm papel fundamental na vida das pessoas, de formação intelectual, emocional e psíquica e devem estar disponíveis para todos, independente de suas deficiências e barreiras econômicas.


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