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19/02/2022 às 10h26min - Atualizada em 16/02/2022 às 16h15min

A importância da Semana de Arte Moderna de 1922 que completa seu centenário esse ano

Um marco histórico cultural-artístico que mudou os rumos da arte no país, defendendo a liberdade de expressão e alinhando o país com o futuro que impacta até hoje a cultura brasileira ao completar 100 anos.

Ana Lara Venturini - Revisado por Isabelle Andrade
Obra "Operários" (1933), Tarsila do Amaral. (Foto: Reprodução / Pinterest)


Vaiado. Assim foi recebido um dos maiores eventos de manifestação cultural, histórica e artística do Brasil. A revolucionária Semana de Arte Moderna de 1922 foi inspirada nas ideias do Modernismo Europeu, um movimento artístico que buscava romper com o tradicionalismo e o conservadorismo da arte, produzida até então para a burguesia e impondo costumes estrangeiros, por meio da implatanção da liberdade de expressão estética, da experimentação constante e, principalmente, pela independência cultural do país, valorizando a identidade nacional. Ela esteve composta por artistas, escritores, músicos e pintores que buscavam inovações e mudanças para a arte brasileira e foi um marco na história do país.

Esse evento aconteceu no Theatro Municipal de São Paulo entre os dias 13 e 17 de fevereiro 1922 e esse ano completa 100 anos. A Semana de Arte Moderna foi uma grande fronteira cruzada para o meio artístico brasileiro que inseriu ideias modernistas no país. Desse modo, foi de extrema importância para a formação cultural do país com as apresentações inovadoras e fora dos padrões que romperam com a arte acadêmica e elitista e mudaram o conceito de arte conhecido por aqui tornando a arte mais "acessível" a todos os públicos. Os artistas da época marcaram tanto que sua influência pode ser sentida até hoje. Por isso, nesse centenário é muito necessário entender a importância que foi essa semana que buscou quebrar com os paradigmas antigos da arte e como isso é importante até hoje no mundo em que vivemos.
 

"Era a vontade de romper com padrões estabelecidos. A irreverência e o espírito de reverter o processo de mesmice, criando uma arte inovadora e polêmica", disse a professora de literatura e autora de livros com críticas literárias Zuleide Duarte sobre a Semana.


O intuito desses artistas realmente era chocar o público e trazer à tona outras maneiras de sentir, ver e fruir a arte. Mas ela não foi muito bem aceita pela sociedade conservadora e elitista que consumia arte no Brasil, e os revolucionários tinham consciência desse fato e desejavam justamente mudar esse pensamento comum e classicista para popularizar a arte.

“Para muitos de vós, a curiosa e sugestiva exposição que gloriosamente inauguramos hoje é uma aglomeração de horrores". Foi assim que Graça Aranha, um dos artistas revolucionários que faziam parte do movimento, iniciou seu discurso de abertura. Com a mente fechada, a recepção foi de muitas vaias e desaprovações do público, mas a sua grande dimensão foi consolidada tempos depois.


Seleção das melhores cenas da minissérie "Um Só Coração" exibida pela Rede Globo em 2004 sobre a Semana de Arte Moderna (Reprodução: m4arth - Youtube)

Criticada e ignorada por parte da imprensa da época, o evento de 1922 atravessou o tempo. O que se seguiu à semana foi muito mais marcante do que ela própria e seus ideais sucederam gerações.

Luiz Armando Bagolin, professor do IEB-USP, afirmou que o modernismo influenciou em várias áreas, como arquitetura, urbanismo e na produção cultural como um todo e que nos ensinou que nós precisamos investigar o Brasil profundo, porque é esse Brasil do qual nós fazemos parte e viemos. “O principal legado na minha opinião é fazer com que a gente ainda continue sonhando com a utopia de uma sociedade mais justa”, disse Bagolin.

O professor de Letras da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e presidente da Academia Pernambucana de Letras (APL), Lourival Holanda, pontuou: "devemos pensar se é um marco que já se fechou ou uma espiral que percebemos ecos? Que relação temos hoje com a capoeira e a beleza do street dance, por exemplo? Devemos esse acesso à 22. Não celebrar apenas os nomes, mas a atitude que continua ativa".

Já o editor e escritor Sidney Rocha, ganhador do prêmio Jabuti de Literatura, defende: "Os tais ecos estão na Tropicália, quem mais devedor do modernismo que Caetano Veloso, que Gilberto Gil, que os poetas concretistas? Os ecos são sobretudo na linguagem, em que predomina mais que a liberdade, a libertinagem total".

No entanto, contrariando essa importância, dias antes do centenário da Semana de 22 acontecer, o Brasil testemunha um novo episódio de embate do Governo Federal contra o setor cultural. Alterações anunciadas para a Lei Rouanet podem causar apagão de futuros projetos culturais, estipulam profissionais da área. Atualmente, também pode-se perceber declarações e atos que promovem ideias perigosas do passado, um cenário que destoa da mensagem edificada pelos modernistas 100 anos atrás, a de se pensar o futuro, o novo, a liberdade.

Diante do atual cenário, a professora Regina Teixeira reflete que a mensagem dos artistas de 1922 pode ser uma força inspiradora. "A representatividade é uma questão que ganha espaço. O debate em torno disso, nos obriga a olhar para trás e nos posicionar no contemporâneo, reconsiderarmos posições. Olhando para o passado e aprendendo com ele, com os erros", disse a especialista.

AInda sobre o legado da Semana para o Brasil atual, o professor Italo Gomes descreve que o caráter coletivo do evento tem muito a nos ensinar. "Considerando os tempos atuais, temos que valorizar a arte como forma de expressão, conhecimento e erudição. Entender que arte é essencial para a expressão do tempo. Não pode ser combatida ou limitada. A Semana de 22 é um exemplo em prol da coletividade, não é uma individualidade, é para todos. Esse é deveria ser o verdadeiro nacionalismo", concluiu.

À luz desses fatos, é inegável a enorme importância dessa semana para a cultura do país até os dias hoje, pois os pensamentos arcaicos ainda assombram a sociedade brasileira em alguns lados.

Portanto, em celebração aos 100 anos da Semana de Arte Moderna, o Palácio dos Bandeirantes, sede do Governo de São Paulo, será palco do espetáculo “100 anos de Modernismo – São Paulo celebra a Semana de 1922”, uma homenagem ao movimento cultural que entrou para a história da arte do Brasil e do mundo. Entre os dias 13 e 17 de fevereiro, das 19h às 22h, um vídeo mapping vai envolver o Palácio com imagens de personalidades e obras fundamentais da Semana de 22 e exibir projeções de artistas e obras modernistas.



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