Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
17/02/2022 às 21h55min - Atualizada em 17/02/2022 às 21h53min

“Quem diabos é Frank Feranna”? A ascensão de uma lenda do rock

Talvez o nome “Frank Feranna” não lhe diga nada, mas você certamente já ouviu falar em Nikki Sixx, baixista e cofundador do Mötley Crue e Sixx: A.M.. De adolescente rebelde a rockstar mundialmente reconhecido, vamos mergulhar um pouco em sua trajetória

María Thereza Chaves - Editado por Larissa Bispo
Créditos/Reprodução: Google
Eram exatamente 7:11 da manhã do dia 11 de dezembro de 1958 na cidade de San Jose, no estado da Califórnia, quando Deana Haight - também conhecida como Deana Richards - deu à luz um garoto. Ela planejava batizá-lo de Russell ou Michael, mas o pai da criança, Frank Carlton Feranna, tinha outros planos. Então, ele registrou o recém-nascido como Frank Carlton Serafino Feranna Jr.

Quem conta essa história é o próprio Frank Feranna Jr. - no livro “The Dirt: Confissões da banda de rock mais infame do mundo” -, que em 1980 mudaria seu nome para o que conhecemos hoje: Nikki Sixx. Exatamente, estamos falando do baixista e cofundador do Motley Crue, a banda que marcou a história do hard rock com suas atitudes provocativas e estilo de vida extremo.

Publicado pela primeira vez em 2001, “The Dirt” é apenas um em uma série de livros onde o músico traz à luz os melhores e piores momentos de sua vida, dentro e fora dos palcos. Recentemente foi lançada no Brasil a autobiografia dos seus primeiros 21 anos de vida, intitulada “Meus Primeiros 21: como eu me tornei Nikki Sixx”. Antes dela já existiam “Diários da Heroína: um ano na vida de um rockstar despedaçado” e “This is gonna hurt” - sem tradução brasileira

Durante seus primeiros anos de vida, tudo que Sixx tinha era a si mesmo e sua mãe, já que, alguns anos depois, seu pai abandonaria a família. "Eu nunca pensei em mim como alguém que veio de um lar desajustado, porque eu não tenho memórias de um lar que seja outra coisa além de minha mãe e de mim”, afirma o baixista em The Dirt. Deana percebeu que também não conseguiria lidar com o ônus da maternidade, então pediu para que os avós da criança viessem buscá-la. Uma parte significativa da vida do rockeiro foi passada ao lado dos seus avós em um trailer, de cidade em cidade. Era uma vida de sacrifícios, mas havia amor e cuidado.

Entretanto, ainda faltava algo. Nikki sentia uma raiva que poderia engolir o mundo inteiro. Não tinha amigos, não se encaixava na escola. Seu refúgio era a música. Quando chegou o momento em que seus avós não conseguiam mais aguentar seu comportamento rebelde, mandaram-no de volta para viver com a mãe em Seattle, onde cedeu de vez à sua fúria, usando drogas e andando com outros desajustados, tentando desesperadamente encontrar seu caminho na música. Como ele mesmo declara: “Eu estava zangado o tempo todo - parcialmente porque as drogas estavam ferrando com o meu humor, parcialmente porque eu me ressentia com a minha mão e parcialmente porque essa era a atitude punk rock”. Seus conflitos com Deana ficavam cada vez piores.

Foi aí que aconteceu um dos episódios mais marcantes da vida dos dois. Para evitar que a mãe continuasse “enchendo o saco”, Sixx destruiu com as próprias mãos tudo que havia em casa, esfaqueou o próprio braço e chamou a polícia, afirmando que Deana o teria agredido.  Eis o plano: ela seria presa e ele ficaria livre para sempre. No entanto, ele só tinha 14 anos quando tudo aconteceu, e a prisão de sua mãe significaria sua ida para o reformatório, onde deveria ficar até os 18 anos. Resolveu fazer um acordo.

Retiraria as queixas contra a mãe se ela o “deixasse em paz”. Deana aceitou. Começaria, então, sua trajetória de vadiagem e estadias em casas de amigos logo teriam início e não demoraria muito até ele ser expulso da escola. Nos piores momentos, quando não conseguia mais pagar aluguel, chegou a morar no closet do apartamento de duas prostitutas que o tinham acolhido. Quando elas também foram despejadas, viu-se obrigado a voltar a morar com os avós em Jerome, Idaho, onde tentaria levar uma vida normal. Mas esse não era seu destino. Seu destino o chamava para um lugar: Los Angeles.

Sharon, irmã da mãe de Nikki Sixx, era casada com Don Zimmerman, presidente da Capitol Records, uma das maiores gravadoras dos Estados Unidos. Durante parte da vida de Sixx em Idaho com os avós, Zimmerman tinha o hábito de mandar-lhe discos. Quando o futuro músico tinha 17 anos, o executivo chamou-o para morar em sua casa, em Los Angeles. Pode-se dizer que ele foi uma espécie de mentor para Sixx, o qual declarou em 2020, ano da morte do tio, que Zimmerman havia “mudado o rock’n’roll nos anos 80”.    

Entretanto, com seu comportamento revoltado, não levou muito tempo para que Nikki fosse expulso do lar imaculado dos tios. Ele mesmo afirmava que era “um garoto volátil que não gostava de ser advertido, mesmo quando estava errado”. Entre idas e vindas com drogas e subempregos, em 1978 ele se uniu a Lizzie Grey e Dane Rage para fundar a banda London, na qual ficaria até encontrar Tommy Lee, com quem fundou o que se tornaria o Mötley Crüe.

Lee e Sixx, respectivamente baterista e baixista do Crüe, começaram então as audições para encontrar o guitarrista ideal, vaga preenchida por Mick Mars em 1981. No mesmo ano, a convite de Tommy Lee, o vocalista Vince Neil fecha o quarteto, dando origem a uma das bandas mais influentes do glam metal mundial. Foi também em 1981 que os quatro lançaram seu primeiro álbum: Too Fast For Love.

A cantora e guitarrista Lita Ford, com quem Nikki Sixx teve um breve relacionamento, cita o surgimento do Crüe em sua autobiografia: “As pessoas estavam falando sobre um grupo de aparência única com três caras de cabelo preto-azulado e um vocalista de cabelo loiro descolorido”. Para ela, “sem ele, Mötley Crüe nunca teria existido. Ele foi o criador da banda e trabalhava constantemente para fazê-los prosperar”. Não demorou muito para eles decolarem.

À medida que a banda crescia, a vida de Sixx se aproximava do precipício. O vício em drogas que ele havia adquirido tão cedo parecia ficar cada vez mais intenso, especialmente depois de conhecer a heroína. Juntamente com a cocaína e o álcool, ele transformou a si mesmo em uma bomba relógio. Em “Diários da Heroína”, o baixista revela que, quando finalmente chegou ao topo e não sabia mais o que fazer com todo o dinheiro que ganhava, gastava-o em drogas. Em 1987, Nikki teve uma overdose que o levou a uma parada cardíaca. Durante dois minutos, foi declarado clinicamente morto pelos médicos, até levar uma injeção de adrenalina diretamente no coração.

Esse foi o ponto de partida de um caminho tortuoso até a sobriedade. Em 1989, o Mötley Crüe lançou Dr Feelgood. Em 1990, Nikki Sixx casou-se com a modelo Brandi Brandt, com quem teve três filhos - Gunner, Storm e Decker. Os dois terminaram a relação em 1996, e pouco tempo depois o baixista casou-se com a também modelo Donna D’Errico, com quem teve mais uma filha – Frankie. Os dois ficaram juntos até 2007. Durante todos esses acontecimentos, Sixx tentou manter-se sóbrio, algo que nem sempre conseguiu. No entanto, em algum momento, ele conseguiu.

O garoto problemático de outrora está sóbrio há 20 anos e prepara-se para sair em turnê com Mötley Crüe ainda este ano. Em 2007, fundou o grupo Sixx: A.M., atualmente em pausa. Em 2014, casou-se com a modelo Courtney Bingham, com que está junto até hoje. Ruby, a filha do casal, nasceu em 2019. De diversas formas, conseguiu mudar a própria vida. Como ele mesmo escreveu em “Life is Beautiful”, do Sixx: A.M.: “Você não pode desistir até que tente”.
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »