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18/02/2022 às 08h03min - Atualizada em 18/02/2022 às 07h37min

Literatura japonesa escrita por mulheres

Escritoras japonesas buscam o respeito às diferenças individuais das mulheres

Ianna Oliveira Ardisson - Editado por Larissa Bispo
Fonte/Reprodução: Google
O mundo moderno retratado por autoras japonesas é ainda ditado por tradições, tendo em vista que um passado fortemente patriarcal deixou marcas no dia a dia da sociedade oriental. Uma dessas evidências da tradição que acompanha a sociedade é as estantes das livrarias serem separadas por gênero: de um lado autores homens e em outro, as mulheres. A literatura de autoria feminina no Japão data de muitos séculos. O primeiro romance da literatura mundial “A lenda de Genji” (Genji monogatari), escrita no século XII, é de autoria de uma mulher, Murasaki Shikibu.

A partir da Restauração Meiji, 1868, despontam autoras politizadas e feministas na cena literária do país. É nesse contexto que, em 1911, Raicho Hiratsuka, junto a outras feministas, fundam a primeira revista literária feminina do Japão que recebeu o nome de “Seito”. Hiratsuka, pioneira do feminismo japonês, teve grande influência no movimento de mulheres do Japão. Na revista trazia discussões francas sobre sexualidade feminina, castidade e aborto. Ela continuou a defender os direitos das mulheres no pós-guerra e prosseguiu escrevendo e dando palestras até a sua morte em 1971.


 
As autoras japonesas contemporâneas, de forma discreta, buscam despertar para o respeito às diferenças entre homens e mulheres; elas procuram destacar as mulheres como indivíduos que podem ter escolhas diante de questões tradicionais como casamento e maternidade. Uma dessas escritoras, com obras difundidas pelo mundo, é Sayaka Murata, 43. Ela é conhecida pela famosa obra “Querida Konbini” que vendeu mais de 1,4 milhões de exemplares em todo o mundo e rendeu-lhe o prêmio Akutagawa em 2016, uma das mais prestigiadas honras literárias japonesas. A trama é sobre Keiko, uma jovem solteira que trabalha em uma konbini, loja de conveniência. A personagem não vê sentido nas exigências sociais em relação a mulher e a vida dela só ganha mais objetivo quando começa a trabalhar na konbini e se ‘adapta’ a esse universo que exige dela atitudes e comportamentos simples para ser como os outros funcionários. Curiosamente, Sayaka também trabalhou como empregada de balcão a meio tempo numa loja de conveniência em Tóquio. Além dessa obra, já publicou diversas outras e percebe-se que a escritora trata em seus livros sobre os papéis desempenhados por homens e mulheres na sociedade. Muitos temas e histórias surgiram das observações dela enquanto trabalhava em uma konbini. É recorrente nas obras de Sayaka a aceitação social assexuada em várias formas, incluindo a assexualidade, celibato involuntário e celibato voluntário.
 


Outra autora japonesa reconhecida pelo mundo é Banana Yoshimoto. Ela nasceu em 1964, em Tóquio, é casada e tem um filho. Considerada uma das vozes literárias da juventude japonesa, seus livros já foram classificados como literatura Young Adult.Tsugumi” já foi publicado em mais de 20 idiomas e é um livro de memórias narrado em primeira pessoa por Maria Shirakawa. A protagonista relata lembranças de sua infância com alguns familiares e em particular com a prima Tsugumi, a qual era uma pessoa difícil de lidar e que tinha uma saúde debilitada. Há exploração de questões psicológicas e ganha destaque o peso das mudanças e desafios de convivência. Banana Yoshimoto já declarou que os dois principais temas trabalhados por ela são "a exaustão da juventude no Japão contemporâneo" e "a maneira como experiências terríveis modificam a vida de uma pessoa".


 

Para nos aproximarmos mais da cultura japonesa, Yooko Kojima Sommerfeld compartilhou um pouco da experiência dela no Japão. Yooko é brasileira e neta de japoneses; ela morou e trabalhou no Japão entre 1993 e 1995. Sobre a diferença de comportamento das pessoas de lá em comparação com o brasileiro, ela destaca “a preocupação em não incomodar ou prejudicar o próximo. Claro que há exceções, mas isso traz vergonha para o nome da família, o que é imperdoável para eles.”

Existe um costume de submissão das mulheres aos homens, “algumas mulheres da geração atual tentam mudar, mas é muito arraigado na cultura oriental”, comenta Yooko. Ela descreve uma situação em que observava a diferença no comportamento de homens e mulheres no período de descanso no trabalho:
 
“Na fábrica em que trabalhei, os homens desfrutavam os 15 min de intervalo na totalidade ou até ultrapassavam. As mulheres corriam para ir ao banheiro e tomar água ou chá e voltavam correndo. Enquanto todos os homens desfrutavam da sala de descanso, as mulheres japonesas nunca iam. A cobrança partia delas mesmo, porque como as brasileiras iam para a sala de descanso, recebíamos crítica delas enquanto nunca dos homens porque lei é lei e eles sabiam, mas as mulheres tinham receio de usufruir dos seus direitos.”

A educação e os costumes japoneses são diferentes do que vivemos no Brasil, a entrevistada faz algumas considerações sobre a disciplina e organização deles:
 
“A cobrança com a disciplina começa muito cedo, primeiro com os pais, para não envergonhar a família quando saírem para a vida pública. Depois na escola e mais tarde na empresa em que trabalhar. As normas instituídas para a organização da sociedade são rigorosamente obedecidas.”

Com a literatura como canal em que as mulheres podem ter voz e grande visibilidade, é possível contribuir para que as diferenças individuais das mulheres sejam cada vez mais respeitadas. Conhecer uma cultura distante por meio dos livros abre nossos horizontes para enxergarmos novas possibilidades e aprender com a diversidade de visões vinda de outros povos.

 

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