O filme coreano de comédia romântica, Amor Com Fetiche (Love and Leashes), produção da Netflix inspirada no weebton intitulado Moral Sense — que é assinado como Winter por Gyeoul —, equilibra o clichê com a quebra dos estereótipos na representação do BDSM, e também, das relações hétero-românticas, a partir de uma abordagem particular.
Na semana seguinte da estreia no streaming, Amor Com Fetiche ocupou o Top 10 Global da Netflix em 42 países, e gerou repercussão nas redes sociais por dispensar o erotismo para retratar práticas de fetiches; uma vertente da sexualidade que normalmente acende a curiosidade do público.
A obra original, Moral Sense, foi publicada pela primeira vez em janeiro de 2017 na plataforma Comico para, posteriormente, ser transferida para a Naver Comic, a qual disponibiliza gratuitamente o quadrinho para leitura. Atualmente, o título está concluído, contabilizando seis capítulos.
SINOPSE:
Ao ser apresentado aos colegas de escritório do seu novo emprego, Jung Ji Hoo conhece Ji Woo, uma jovem que tem um nome muito semelhante ao seu, e que, apesar de reservada, aparenta ter uma personalidade forte, implacável e admirável.
Apesar de adaptar-se bem ao seu novo emprego, Ji Hoo procura manter a discrição, visto que sente receio de ser rejeitado, principalmente, após uma experiência desagradável com seu recente término de namoro.
Contudo, em um certo dia no escritório, uma encomenda de Ji Hoo é entregue por engano para Ji Woo. E mesmo tentando contornar a situação, ele não consegue evitar a ocorrência de um momento desconfortável, que acaba por expor um dos seus fetiches.
Assista o trailer na íntegra:
Com medo de se tornar alvo de fofocas, e consequentemente, ser prejudicado no trabalho, Ji Hoo procura se esclarecer com a colega. No entanto, a reação da moça é inesperada, e nisso, ele enxerga a chance de superar o medo de rejeição.
BDSM, FETICHE E RELAÇÕES AFETIVAS
Em 2015 o primeiro filme baseado na trilogia da E.L. James, 50 Tons de Cinza, se popularizou por abordar o BDSM, que depois disso, se tornou não só mais frequente nas produções audiovisuais, como também, mais aceito pelo público. Recepção essa que motivou o lançamento de outros títulos, como: 365 Dias e Amizade Dolorida.
No entanto, em contrapartida dos bons números de bilheteria e audiência, estas produções foram negativamente criticadas devido à associação do BDSM a doenças psicológicas, a glamourização das práticas Kink e a romantização dos relacionamentos tóxicos.
Em relação a isso, Amor Com Fetiche demonstra-se estar um passo à frente desses, uma vez que se dedica a mostrar os “bastidores” do BDSM, apostando em uma relação consensual de poder, submissão e fetiche, a partir de um casal que prioriza a comunicação, companheirismo, respeito e planejamento das práticas.
Logo, considerando as referências mais populares do gênero, o público esperou do filme, uma abordagem mais intensa. No entanto, aos adeptos às produções coreanas, as expectativas não foram quebradas com relação à ausência de erotismo, visto que é algo comum especialmente nos Doramas.
O PAPEL FEMININO E AUTOCONHECIMENTO
Sendo um filme de comédia romântica, Amor Com Fetiche respeita os padrões clássicos dos roteiros desse gênero, mesclando os clichês com a temática da sensualidade Kink de modo a atribuir leveza e dinamismo ao enredo, que se desenvolve rapidamente, deixando até, algumas lacunas na narrativa, principalmente, nos momentos finais.
Mesmo assim, para além do BDSM e fetiche, o filme propõe também, um olhar sobre a sexualidade como um caminho de autoconhecimento, em que se explora o prazer a fim de descobrir minúcias da própria personalidade e, a partir disso, trabalhar a autoestima frente ao preconceito, independente da situação.
Mas do que isso, é possível pontuar também, o empoderamento feminino, visto que as personagens do filme não só se assumem e se posicionam sobre sua sexualidade e prazer, como também, ocupam o lugar de dominação e poder, que na maioria das vezes, é representado por homens.
Desse modo, Amor Com Fetiche vai além do BDSM, refletindo sobre afetividade, autoaceitação, feminismo, prazer e relacionamentos, a partir de uma abordagem engraçada e didática que, apesar de não contemplar fielmente a realidade, é uma ótima opção para entretenimento para aqueles que se interessam pela assunto.
REFERÊNCIAS:
BRAZ, Rafael. "Amor com Fetiche": comédia da Netflix sobre BDSM é leve e divertida. A Gazeta, 13 de fev. de 2022. Disponível em: < https://www.agazeta.com.br/colunas/rafael-braz/amor-com-fetiche-comedia-da-netflix-sobre-bdsm-e-leve-e-divertida-0222 >. Acesso em: 18 de fev. de 2022.
COLETTI, Caio. Amor com Fetiche reintroduz sensualidade divertida e desavergonhada ao cinema. Omelete, 14 de fev. de 2022. Disponível em: < https://www.omelete.com.br/filmes/criticas/amor-com-fetiche >. Acesso em: 18 de fev. de 2022.
LUXOR, Dommenique. BDSM, Fetiche e Sociedade (leia a descrição). Youtube, 3 de fev. de 2021. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=UcXY0qLu9Ac >. Acesso em: 18 de fev. de 2022.
LUXOR, Dommeninque. Diferenças e Semelhanças entre Fetiche e BDSM | Extended. Youtube, 20 de jan. de 2022. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=kWSZ6Iu1FoU >. Acesso em: 18 de fev. de 2022.
SENA, Junno. Crítica: Amor Com Fetiche quebra vários estereótipos das produções coreanas. Legião de Hérois, 13 de fev. de 2022. Disponível em: < https://www.legiaodosherois.com.br/2022/critica-amor-com-fetiche.html >. Acesso em: 18 de fev. de 2022.