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19/02/2022 às 19h50min - Atualizada em 19/02/2022 às 19h02min

A través de mi ventana | Encanta como romance, mas entrega um besteirol nada original na Netflix

O que aparentemente começou com um simples wi-fi tem segredos a esconder, confira!

Ivan Fercós - Editado por Ana Terra
A nova aposta da plataforma de streaming traz uma história já conhecida para os fãs de fanfic’s. Um completo fenômeno literário da web, escrito pela venezuelana Ariana Godoy em meados de 2014, e que inclusive devido ao seu grande sucesso ultrapassou as multi-telas ganhando uma edição imprensa. Enquanto apenas dois anos, em 2016, já se consolidava como um dos romances mais vistos da plataforma, com 335 milhões de acessos. Apesar dos inúmeros êxitos, somente agora, após oito anos de seu lançamento, que ela veio cair nas garras da toda poderosa Netflix.
A Través de Mi Ventana / Capa do Livro

A Través de Mi Ventana / Capa do Livro


Considerado um filme erótico juvenil por parte dos assinantes da plataforma, A través de mi ventana é o que muitos diriam ser os Cinquenta tons de cinzas para adolescentes em sua efervescia hormonal. Inicialmente, escrito como um romance que narra a inocente “obsessão” de uma jovem por um rapaz, que afortunadamente é seu vizinho. Com o tempo, ela passa acompanhar todos os passos do pretendente, no treino de futebol, nas redes sociais, escreve sobre ele e até o persegue no cemitério. Ares Hidalgo (Julio Peña), um legítimo Deus grego – como a própria Raquel Mendoza (Clara Galle) se refere a ele, é o segundo filho do bancário Juán Hidalgo Vila e herdeiro da Alfa3, um grande império no formato de arranha-céu que mais parece o monte olimpo.
Divulgação / Netflix

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Os Hidalgo são uma família muito influente e conhecida em todo a Espanha. Dos três irmãos Hidalgo, Artemis é o mais velho e Apolo, o caçula. Como já era de se esperar do gênero, as referências não são nada originais. Alerta de clichês, a começar pela janela que carrega o peso de titular, usada desde os tempos de Romeo e Julieta. Os protagonistas são de classes sociais diferentes. Ele, quer estudar medicina. Mas não tem coragem de enfrentar os pais e ela uma aspirante a escritora que sofre com a síndrome de impostor. A romantização de amores tóxicos na obra, se ver nítido em como Ares costuma se referir a Raquel, a chamando de bruxa – como se em apenas palavra pudesse resumir toda a revolução que a beleza e formas da jovem lhe causam, fossem uma tentação obra da Santa Virgen de los Abdominales, por acreditar que o amor enfraquece o guerreiro.
 
A propósito, a alergia a cloro realmente existe, como se trata de um químico os danos variam conforme o grau de sensibilidade e quantidade de resíduos. Mas, a principal piada desse enredo deve ser paga na conta de internet. É que a mansão Hidalgo ocupa um quarteirão e a única casa vizinha é a dos Mendonza. E, Ares e Raquel não se conhecem. Até, que o jovem Hidalgo decide roubar a senha do wi-fi. Sem dúvida, as musas estavam ocupadas em algum banquete oferecido a Dionísio, pois somente a embriagues pode explicar a falta de aprofundamento e desleixo com o desenvolvimento dos personagens.

Divulgação / Netflix

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O complexo de boa menina apaixonada por rapaz nada confiável, parece mexer com o imaginário e as emoções de muitos leitores e amantes da sétima arte. Apesar de ser um artifício para lá de batido, uma vez ou outra alguém costuma revisitar essa fórmula. Talvez seja na esperança de salvar esse conceito chato, beirando o risível. Uma menina com síndrome quase que compulsiva de ser “mãe” de um rapaz, que a própria moça pura cultiva fantasias nada castras. Não sei onde está a magia nesses contos contemporâneos. Ver jovens mulheres sofrendo por amor, muitas vezes mendigando sobras de afeto até o que o jovem imprudente e másculo entenda o seu valor e se renda aos caprichos da carne. Tem síntese mais platônica e medonha do que essa?

Cuidado com o que deseja, deveria ser a regra número um para os literários, pois quando menos se espera o que você mais teme pode ganhar formas.  É como diz Raquel, “para contar uma história não basta saber escrever, você também precisa ter a coragem para viver isso”. A través de mi ventana capricha nos cenários, mas fracassa no drama, surfa na comédia e atinge um formato queridinho dos americanos, o besteirol. Nem um, nem outro, nem profundo, nem tão superficial, aquele tipo de obra que não faz e nem tem a menor pretensão te ensinar ou passar a mensagem de algo, o que nada lembra o estilo espanhol.

Divulgação / Netflix

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REFERÊNCIAS:
OLIVEIRA, Felipe. Crítica | através da minha janela. Plano Crítico. 6 de fev. 2022. Disponível em: <https://www.planocritico.com/critica-atraves-da-minha-janela/>. Acesso em: 7 de fev. de 2022.
PEREIRA, Aline. Através da Minha Janela: Filme da Netflix começou como uma fanfic gigante na internet; conheça a origem. Adoro Cinema. 4 de fev. de 2022. Disponível em: <https://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-162307/>. Acesso em: 7 de fev. de 2022.
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