O reconhecimento veio, de certa forma, tardio. Já com 95 anos, a poetisa Zulmira Nery Praxedes publicou seu primeiro livro, “Zulmira de Z a A”, lançado pela Editora Ponto Z, sobre histórias da sua infância no sertão da Bahia e a fuga para São Paulo devido à seca, em um estilo ritmado, feito literatura de cordel.
Foi esse mesmo livro que foi homenageado por escritores de todo o Brasil após vencer a edição de 2019 do Prêmio Nelson Seixas, um evento anual de São José do Rio Preto, que, além de contemplar a produção e publicação do livro, ainda realizou doação de exemplares às escolas municipais e oficinas de contação de histórias em quatro asilos e um abrigo a crianças carentes do município.
Desde criança Zulmira já colocava no papel versos que surgiam em sua mente e formavam uma rima. Ela até memorizava alguns desses e os recitava, prática que permaneceu mesmo com a idade avançada. Por mais que tivesse uma infância de miséria e marcada pela seca do sertão, a escritora encontrava inspiração nos acontecimentos do dia a dia e até mesmo observando o comportamento dos animais.
“Eu sempre gostei de rabiscar coisas, apesar de ter uma letra péssima e horrorosa. Daí, eu gostava de rabiscar para melhorar minha letra. Todo verso que eu encontrava no pensamento, que rimava e tinha poesia eu escrevia e guardava em um cestinho", recorda Zulmira em uma entrevista para o Diário da Região, de São José do Rio Preto.
"Casa de Repouso Santa Fé, 7 de junho de 2020.
Estou há três meses aqui aguardando os desígnios de Deus.
Este não é meu mundo. Estou no planeta Terra, que em nada se assemelha ao mundo que eu deixei para trás — não parece o Planeta Terra. Nosso mundo anda cheio de expectativas e projetos. Aqui estamos isolados em uma clínica. Sem saber por que e para quê. Muita gente morrendo com um vírus desconhecido. Tudo muito fechado. Não podemos receber visitas nem visitar. O que aconteceu? Onde estão meus amigos, nosso povo, nossa gente? Esse não é o meu mundo. Cadê o Planeta Terra, com seus movimentos de rotação e translação?"
Relembre outras poetisas premiadas
Cecília Meireles
Cora Coralina
Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, mais conhecida como Cora Coralina, foi premiada com o Troféu Jaburu, concedido pelo Conselho de Cultura do Estado de Goiás, em 1981, e em 1984 ela foi a primeira escritora brasileira a receber o Troféu Juca Pato, da União Brasileira de Escritores (UBE). As obras de Cora Coralina falam majoritariamente sobre personagens marginalizados e a vivência na parte mais pobre de Goiás. Os textos possuem uma narrativa simples e linguagem informal, trazendo histórias da população mais humilde e com pouca escolaridade, alguns em forma de prosa e outros em forma de poesia. Assim como dona Zulmira, Cora Coralina teve seu primeiro livro publicado já com idade avançada, aos 76 anos, intitulado de “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais”, livro que foi eleito como uma das 20 obras mais importantes do século XX.
Adélia Prado
Após a morte da mãe, em 1950, Adélia Prado começa a escrever seus primeiros versos. Somente em 1975, aos 40 anos, ela publica seu primeiro livro solo de poesias chamado “Bagagem”, pela Editora Imago. Em seguida, Adélia lançou mais algumas obras em prosa como "Solte os Cachorros" (1979) e "Cacos Para Um Vitral" (1980). Seus poemas possuem forte voz feminina, retratando a vida de personagens do interior mineiro, com uma linguagem coloquial, mais despojada e direta. Também está presente a fé católica da escritora, falando sobre Deus e família. Adélia recebeu da Câmara Brasileira do Livro o Prêmio Jabuti de Literatura, com o livro "Coração Disparado", escrito em 1978. Além de poetisa, ela também é diretora de peças teatrais, atuou como professora, formou-se em filosofia, já esteve na Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Divinópolis como Chefe da Divisão Cultural.