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27/02/2022 às 09h46min - Atualizada em 27/02/2022 às 09h37min

O movimento artístico 'Pop Art' dos anos 50, e a influência histórica no Brasil

Com a chegada do movimento ao Brasil nos anos 60, a comunidade artística incorpora um viés mais político

Adriely Sousa - Editado por Andrieli Torres
https://laart.art.br/blog/pop-art-brasil/#:~:text=A%20chegada%20da%20Pop%20Art,Andy%20Warhol%20e%20Robert%20Rauschenberg.
(Reprodução/Lobo Pop Art)
O movimento 'Pop Art' foi uma representação artística que emergiu na Inglaterra, criado pelo crítico inglês Lawrence Alloway nos início dos anos 50 — com sua expansão na América do Norte, tinha como propósito, uma crítica ao consumismo e ao American Way of Life da sociedade estadunidense. Em decorrência, o movimento em essência, se utilizava de símbolos culturais ligados às esferas da cinematografia e publicidade, tais como: histórias em quadrinhos, fotografias, anúncios publicitários, embalagens de alimentos, desenhos de revistas, reprodução da estética industrial e sexualidade.

O conceito de arte popular correspondia às impressões dos artistas acerca dos símbolos da cultura de massa. Dessa forma, as manifestações artísticas não eram realizadas propriamente pelas classes mais populares da sociedade. Como pioneiros desse protesto da Pop Art, destacam-se nomes como Roy Lichtenstein, Andy Warhol e Robert Rauschenberg.

Com a chegada do movimento ao Brasil nos anos 60, as representações de várias categorias de expressão artística aderiram um viés mais politizado, com fortes críticas ao regime ditatorial que assolava o país. Nesse período, um grupo bastante evidente na repercussão de ideais mais cívicos, eram os grafiteiros, cantores, jornalistas e escritores. 

Brasil antes do Pop Art

O cenário anterior ao surgimento do movimento no Brasil, foi marcado através da arquitetura moderna e nacional, inspirada nos príncipios de “Racionalismo” de Le Corbusier. Esse modernismo influenciou no paisagismo urbano do país, atuando na evolução estética e de construção, utilizando-se do aço, concreto armado, vidro, linhas e formas geométricas simples e puras. Como exemplo, o plano piloto de Brasília de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer constituídos em solo brasileiro. Também, logo no início dos anos 50, imperava o movimento artístico vanguardista chamado de Concretismo abrangendo as artes plásticas, música e poesia. 

O Concretismo brasileiro (1950-1960) teve como principais representantes, na poesia, Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, além de Ferreira Gullar. Já no campo das artes plásticas, os principais representantes do concretismo no Brasil foram Lygia Clark e Hélio Oiticica. Em 1951, a 1ª Bienal Internacional de São Paulo apresenta as tendências do movimento, e em 1956, o Concretismo se instaura no Brasil através da Exposição Nacional de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Além desses movimentos, outra representação cultural foi a Bossa Nova que deu um prestígio internacional à música brasileira, consagrando nomes cantores como João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes.



Pop Art nos anos 60 – chegada do movimento ao Brasil e influência na atualidade

A biografia brasileira nos anos 60 é evidenciada e mais lembrada por conta do regime militar, a Ditadura, bem como, a erupção e influência de movimentos sociais e artísticos antagonistas a esse processo caótico. No Brasil, o domínio da Pop Art se deu através dos protestos e críticas às torturas, censuras e falta de liberdade de expressão desse período. Os artistas se utilizavam de serigrafias contrastantes, cores vivas e inusitadas, colagens, alterações dos formatos de imagens, as figuras de ícones simbólicos e as referências aos gibis são alguns dos moldes da manifestação no Brasil. Com isso, as obras carregavam o viés de um forte instrumento de denúncia política e social.
 
Alguns artistas referenciados do movimento no país, são Caetano Veloso e Gilberto Gil (músicos), Glauber Rocha (cineasta), Zé Celso (ator), entre outros artistas que para driblar o sistema de censura, faziam uso de trocadilhos, metáforas e outros recursos linguísticos. Por conta das características visuais gráficas e da comunicação em massa, a Pop Art conseguiu um grande público e com o passar dos anos, é notória a presença dessa manifestação nas editorias de moda, fotografia, comics e graffite. 

Em entrevista concedida, em outubro de 2006, ao jornal da Uninove (projeto realizado pelos alunos), Paulo Trevisan — professor e pesquisador de História da Arte na Faculdade Paulista de Artes (FPA) pontua acerca da herança do movimento no Brasil e mundo:

 

“A Pop histórica (dos anos 50/60) está museificada, ou seja, ela é documento histórico e seus principais representantes estão mortos. Portanto, não dá pra dizer que ela continua com a mesma força, uma vez que ela já não existe como movimento ativo. Entretanto, a herança que ela deixou – a adoção de caracteres da cultura visual urbana da comunicação e do consumo pela esfera mais “nobre” das manifestações artísticas – continua a ganhar cada vez mais adeptos. E o limite entre estas esferas é cada vez mais tênue e ambíguo. 

 
Atualmente, as técnicas e estratégias da representação artística estão infiltradas em publicidades, cinema, design, e na moda internacional, serviu de inspiração para grandes grifes como Prada, Kenzo, Tom Ford, Valentino etc. O estágio inicial da propagação da Pop Art no Brasil, foi destacado pela exposição “Opinião 65” que reuniu cerca de 17 artistas brasileiros e 13 de outros países participaram da exibição, que tinha o intuito de dar visibilidade à voz da juventude. 
 

POP ART: PRINCIPAIS ARTISTAS BRASILEIROS

RUBENS GERCHMAN (1942-2008)

Em 1967, Rubens Gerchman foi premiado no Salão Nacional de Arte Moderna com uma viagem aos Estados Unidos. Ele se baseou em Nova York, entre 1968 e 1972, realizando várias exposições. Uma de suas obras — a serigrafia ‘A Bela Lindoneia – A Giaconda do Subúrbio’, serviu de inspiração para Caetano Veloso escrever uma de suas principais composições que marcou o Movimento Tropicalista: Lindoneia.


ANTONIO DIAS (1944-2018)

Antonio Dias era um artista multimídia. Estudou no Atelier Livre de Gravura da Escola Nacional de Belas Artes (Enba) com Oswaldo Goeldi (1895 – 1961). Em 1977, estudou técnicas de produção de papel em uma viagem a Índia e ao Nepal. Depois, começou uma série de trabalhos que tiveram como suporte o papel artesanal, o qual se integra às obras pela textura e mistura de pigmentos. Um desses trabalhos foi o álbum ‘Tramas’ de xilografias.

HÉLIO OITICICA (1937-1980)

Hélio Oiticica foi outro dos principais artistas da Pop Art no Brasil. Era um artista performático, pintor e escultor. Começou seus estudos de pintura e desenho com Ivan Serpa. Logo no primeiro ano de aprendizado, escreveu seu primeiro texto sobre artes plásticas. A partir daí, o registro escrito de reflexões sobre arte e sua produção tornou-se um hábito.

VIK MUNIZ (1961-)

Vik Muniz é outro artista da Pop Art moderna no Brasil, um representante contemporâneo com suas fotografias cobertas por balas e geleias. Atualmente, radicado em Nova York, suas obras já passaram por diversas exposições no Brasil. Uma das suas obras famosas é a Monalisa’ desenhada com geléia e pasta de amendoim.
 

**No site Lobo Pop Art , página oficial do artista plástico brasileiro Lobo, influenciado pela cultura e estética do Brasil e Pop Art, é um exemplo contemporâneo desse seguimento artístico. 


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