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05/03/2022 às 16h29min - Atualizada em 05/03/2022 às 15h24min

O terror de Jordan Peele

O famoso cineasta mistura horror, críticas sociais profundas e humor ácido em suas obras.

Ana Beatriz Magalhães - Revisado por Isabelle Marinho
Jordan Peele, cineasta e produtor norte americano. (Foto: Joel C Ryan/Invision/AP)
No mês passado, foi divulgado o trailer do mais novo filme de Jordan Peele. NOPE, que tem estreia prevista para julho de 2022, foca em algo misterioso no céu que assombra o único haras de uma família negra em Hollywood. A trama, assim como as outras, promete surpreender e cativar o público. 

Peele se destaca no mundo do horror. De maneira geral, em um ramo em que a mesmice é comum, ele mostra que filmes de terror podem oferecer muito mais do que sustos e aversões. Em suas obras, usa e abusa no gênero para criar narrativas sociais e criticar e, até mesmo debochar, de problemas enraizados. 

O cineasta aborda o terror de maneira inovadora, aventurando-se em um estilo único em que descaracteriza estereótipos e aborda temáticas sociais e políticas. Além disso, um tópico constante em seus filmes é representatividade negra, comum em todas as suas produções e em seu discurso.

Com um ponto de vista único, Jordan Peele promete e cumpre ao conseguir encantar, entreter e incomodar o telespectador em diferentes níveis. Alívios cômicos cheios de crítica, um terror psicológico e inúmeras metáforas sutis fazem parte do repertório de Peele e arrancam elogios da crítica especializada.

Para conhecer e entender sua maneira de contar histórias, suas inspirações e mensagens por trás de suas narrativas, veja três obras indispensáveis: 

Get Out (Corra!) – 2017: O racismo e suas faces


Seu filme de estreia foi a produção mais lucrativa de 2017 e lhe garantiu o Oscar de melhor roteirista, sendo o primeiro negro a vencer essa categoria e também o primeiro a ser indicado simultaneamente aos Oscars de melhor roteiro, direção e filme. Na obra, Peele desenvolve uma narrativa genial acerca do racismo e suas manifestações.
 
Diferente dos filmes de terror comuns, em que adolescentes são perseguidos por um serial killier ou por seres sobrenaturais, a história acompanha Chris, um homem negro que se envolve com uma mulher branca e, ao conhecer a família dela, acaba descobrindo segredos horríveis.
 
Ao longo das horas do filme, o público acompanha Chris cercado de brancos neoliberais obcecados pelo estilo, modo de falar e a vida de pessoas negras. Sem muitos spoilers, o protagonista é analisado como uma verdadeira mercadoria a ser adquirida pelos amigos e familiares de sua namorada. 
 
O horror surge a partir dessa vulnerabilidade: uma pessoa, que faz parte de uma minoria, em um ambiente onde não é vista como um ser humano. Na versão original, o filme se chama de Get Out, que em uma tradução livre, seria como “caia fora!”, e, para quem assistiu, sabe qual o significado dessas palavras.

Us – 2019: Natureza Violenta

 
Essa produção de terror teve a maior bilheteria de estreia da história e possui um final chocante. Provoca o público ao apresentar que o maior inimigo não é um monstro sobrenatural, mas sim, nós mesmos, ou melhor, os outros.
 
Em sua proposta, Peele apresenta a ideia de que as faces da maldade estão presentes em todos. A natureza violenta e a crueldade se encontram, habitam e guiam a sociedade. Na trama, um casal viaja com seus dois filhos para a praia, mas o que era para ser um final de semana tranquilo, transforma-se em algo assustador com a chegada de um grupo de sósias malignos da família querendo vingança.
 
Ao mostrar pessoas idênticas em suas versões “do bem” e “do mal”, o filme relembra que ninguém está apenas de um destes lados. Jordan Peele desenvolve isso: duas versões de uma mesma coisa.  Tanto que, os “monstros” utilizam como armas tesouras, ferramentas que fazem um paralelo com a história que fala sobre pessoas iguais, mas que percorrem caminhos diferentes.

CandyMan – 2021: a violência estrutural de gerações 

 
É um revival da história de 1992, onde a pesquisadora Helen Lyle (Virginia Madsen) descobre o espírito raivoso de um ex-escravo, espancado e assassinado por se envolver com uma garota branca.
 
Depois de quase 30 anos, Candyman retorna, por meio do artista plástico Anthony McCoy (Yahya Abdul-Mateen II), quem redescobre a história e a leva para uma exposição de arte. Então, os assassinatos pelos espelhos recomeçam.
 
O filme evidencia que o racismo e a violência policial podem ser mais assustadores do que a existência de um serial killer sobrenatural, fazendo uma ligação com a realidade de milhares de negros nos Estados Unidos. A produção de Jordan Peele entrega, como sempre, uma trama muito realista, apesar do tema sobrenatural, mostrando como as pessoas lidam com o medo diário. 

Além disso, a obra também aborda a questão de gentrificação e exploração de corpos e da arte feita por pessoas negras. De maneira geral, essa história trata da violência estrutural e enraizada e cumpre a função de continuar a trama de lenda urbana original, só que o verdadeiro vilão é o sistema e a sociedade como um todo. 

É notório que Peele gosta de envolver simbologias em suas obras. Também, é possível perceber que ele não tem o costume de encerrar seus filmes com final feliz. Nas narrativas, os personagens principais sempre resolvem os problemas, porém é mostrado que o mal ainda existe e ainda permanece na sociedade.
 
Cada vez mais, ele cresce na indústria, mostrando sua autenticidade e “assinatura”. Em sua nova obra, ele reúne Daniel Kaluuya, estrela de Corra!, Keke Palmer e Steven Yuen. Confira o trailer:
 
Trailer de NOPE, nova produção de Jordan Peele. Vídeo: Youtube/Reprodução Universal Pictures
 

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