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07/03/2022 às 15h03min - Atualizada em 07/03/2022 às 14h53min

Desmatamento e agronegócio: a desvalorização de terras e o lucro

Entenda os riscos do desmatamento de vegetação nativa de 93,5% dos municípios brasileiros para a benefício do mercado agro

Juliana Valillo - Editado por Julia dos Santos
Projeto Colabora; BBC News; UOL; G1 Globo; O Eco;
Desmatamento | Fonte: Pexels
O Instituto Escolha realizou um estudo que mostra que 93,5% dos municípios no Brasil tiveram seus territórios desvalorizados por causa do desmatamento. O agronegócio se beneficia com essa prática, que pode causar prejuízos em terras e danificar o meio ambiente.
 
A destruição da vegetação nativa para a ocupação da agricultura ou pecuária é uma prática ilegal, denunciada com frequência nas regiões do Cerrado e da Amazônia. O desmatamento não é a única prática da qual o agronegócio se beneficia. Um outro estudo feito pelo Instituto Escolhas aponta que o agro se favorece da queda do valor das áreas para a expansão de seus negócios:

 

“Se você é produtor e aumentou sua área de cultivo no período de 2006 a 2017, o desmatamento foi um subsídio para a aquisição das suas terras, mesmo que você não tenha derrubado uma só árvore.” - Instituto Escolhas

 
As pesquisas feitas em parceria com pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e da Universidade de São Paulo (USP) revelam que, ao desvalorizar as terras, o desmatamento favorece somente os produtores que possuem condições de estender sua área cultivada, excluindo aqueles que não têm as mesmas condições, devido às limitações financeiras, escala, de gestão, força de trabalho e oferta de terras. A cientista social, gerente de Portfólio do Escolhas e coordenadora-geral do estudo, Jaqueline Ferreira, acrescentou sobre o assunto:

 

“O desmatamento continua sendo prática corrente para a expansão da fronteira agropecuária. E são os grandes produtores do agronegócio que se aproveitam da desvalorização das terras." - Jaqueline Ferreira, gerente de portfólio do Instituto Escolhas

 
De acordo com os pesquisadores da rede de mapeamento MapBiomas, entre os anos de 1985 e 202, o Brasil perdeu 82 milhões de hectares de vegetação nativa. No mesmo período, áreas equivalentes a 81 milhões de hectares foram ocupadas pela agropecuária. Biomas como o do Cerrado e da Amazônia foram os mais afetados por essa expansão da agropecuária, que desmatou 44 milhões de hectares 81 milhões de hectares na Amazônia e 27 milhões de hectares no Cerrado. Especialistas indicam que a incorporação de novas áreas é uma das estratégias utilizadas pela agropecuária brasileira para aumentar sua produção. Segundo eles, o problema é que tal expansão tem ocorrido por meio de desmatamento, legal ou ilegal.

Os impactos 
financeiros do desmatamento
 
O desmatamento que aconteceu entre anos de 2011 e 2014 fez com que as terras brasileiras valessem, em 2017, R$ 136,7 bilhões a menos do que custariam sem a remoção da vegetação nativa. A queda de 5% corresponde a uma redução média de R$ 391,00 por hectare. Os pesquisadores indicam que a desvalorização das terras atingiu R$83,5 bilhões ou 25% do seu valor total em 2017 nos municípios em que ocorreu a expansão da fronteira, equivalendo a uma diminuição média nos preços de R$985 por hectare.
 
Além disso, o preço dos 60 kg de soja teve uma diminuição em seu preço médio de R$3,10 pelo desmatamento, ou seja, foram -4,5% em relação a 2017. O decrescimento ocorreu de modo mais intenso nos munícipios caracterizados como região de expansão. Isso sinaliza uma enorme expansão na área da agropecuária, com uma significativa vegetação nativa restante, mas até então com pouca produtividade agropecuária. A prática resulta no aumento das taxas de desmatamento. Um estudo aponta que:


De acordo com o Instituto Escolhas, com a ausência do desmatamento ocorrido de 2011 a 2014, o preço da soja em 2017 seria, em média, 22% maior do que o observado.

Os dados também apontam que 93,5% (5.218) dos municípios sofreram uma perda do preço de suas terras pelo desmatamento, porém apenas 61 deles (1,15%) concentraram metade da desvalorização completa de território no país. Os 61 municípios registraram 28% do desmatamento entre os anos de 2006 a 2017, no que se refere ao total de municípios em que as terras perderam o seu valor.
 
As perdas ambientais

Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima e ambientalista, destaca que as perdas causadas pelo descontrole fundiário ao país e afirma:

 

 “O desmatamento empobrece o país porque prejudica o comércio internacional, porque atrasa a mudança para modelos de produção mais sustentáveis. O estudo ajuda a mostrar que a floresta em pé pode ser um negócio melhor do que a floresta derrubada” - Márci0 Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima

 
Um estudo feito aponta que outros fatores proporcionaram ganhos muitos grandes na produção agropecuária do que o desmatamento, como o acesso à tecnologia, à internet, orientação técnica e a infraestrutura adequada. Além de, indicar algumas medidas que possam desvincular o setor agropecuário do desmatamento: o rastreamento dos fornecedores das cadeias produtivas, o registro e georreferenciamento obrigatório dos terrenos, com o monitoramento e regulamento oficial dos dados.

https://projetocolabora.com.br/ods15/desmatamento-desvaloriza-terra-e-beneficia-agronegocio/ https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48875534 https://brasilescola.uol.com.br/brasil/impactos-ambientais-causados-pelo-agronegocio-no-brasil.htm https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2019/07/16/por-que-o-futuro-do-agronegocio-depende-da-preservacao-do-meio-ambiente-no-brasil.ghtml https://oeco.org.br/noticias/relatorio-expoe-agronegocio-como-grande-motor-do-desmatamento-ilegal-de-florestas/ https://pixabay.com/pt/ https://www.pexels.com/pt-br/
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