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18/03/2022 às 22h21min - Atualizada em 16/03/2022 às 19h15min

O dialeto cearense como uma peculiaridade

O que existe de tão arretado no vocabulário cearense que ninguém de fora entende? Confira as origens e as características do cearensês

Ana Faely Nobre - editado por David Cardoso
Exemplos de figuras características do Ceará e um balão de fala expressando uma gíria regional. (Fonte: Reprodução/ Montagem: Ana Faely Nobre)

A língua brasileira tem sua origem e influência princiapal provinda dos portugueses, povos indígenas, povos africanos e de várias nacionalidades, as quais constituíram inúmeros impactos, agregaram um enorme valor e incorporaram uma série de significados a este idioma único.

Na língua portuguesa existem diversas variações. Seja no Sul do país, Norte ou Nordeste, cada região possui sua cultura e modo de falar. No Ceará não é diferente! O povo cearense possui uma maneira de falar que lhe é muito característica. Essa peculiaridade se observa basicamente na pronúncia e na entonação da voz, além, evidentemente, do uso muito frequente dos vocábulos e expressões típicas relacionadas no dicionário.

O dialeto cearense é uma variante do português brasileiro falado no estado do Ceará, na região Nordeste do Brasil. Contando com aproximadamente 8,8 milhões de falantes do próprio estado (nativos ou não), além dos milhares de falantes de origem cearense em outras áreas do Brasil e do mundo! Possui variações internas, principalmente na Região Metropolitana de Fortaleza, na região do Jaguaribe e no sertão do Cariri cearense.


Mas afinal, de onde surgiu essa peculiaridade do Ceará? Quais são as influências para essas expressões típicas? O que elas significam? Por que os não nativos ficam tão confusos com a língua “cearensês”?

De acordo com o professor, Doutor de Latim e Filologia Romântica da Universidade Federal do Ceará (UFC), Josenir Alcântara de Oliveira, antes de abordar alguns vocábulos do cearensês, é fundamental que se faça uma breve introdução no campo lexical.

"Os vocábulos que temos no cearensês têm três origens. A origem nativa, das línguas indígenas, representada pelo tupi, que nós chamamos em filologia de substrato linguístico, que é a língua do nativo. O segundo elemento do vocabulário do cearense são as palavras portuguesas, de origem latina, que vieram com os portugueses. Em filologia nós chamamos essas palavras de superestrato, que é a língua do colonizador, do conquistador".
 
O professor Josenir ainda acrescenta que há uma terceira origem que advém de palavras de outras culturas, que não é a nativa e nem a do colonizador. "São palavras do espanhol, do francês e do inglês".

O vocabulário do povo cearense ou o “cearensês” é variado de verbos, adjetivos, complementos nominais, locuções verbais e orações que são originalmente do Ceará, e pronunciado pelos cearenses nas mais diversas ocasiões. Mas o que é mais recorrente são as gírias.


As gírias cearenses são repletas de deboche e de humor típico do povo cearense que estão inseridas nas palavras usadas cotidianamente, sendo características marcantes da língua falada. Dentre as mais famosas estão:

  1. Butar buneco - Se divertir

  2. Diabéisso - O que é isso?

  3. Deixe de arrudei - Pare de enrolar

  4. É bem pixototim - É bem pequeno

  5. Chei do leriado - Conversador

  6. Estribado - Muito rico

  7. Môco - Surdo

  8. Pelejou quissó - Tentou bastante

  9. Mangar – Zoar, fazer graça com alguém

  10.  Rebolar no mato – Jogar fora, jogar algo no lixo

  11.  Só o buraco e a catinga – Acabado, destruído

  12.  Sibite baleado – Pessoa muito magra ou com as pernas finas

  13.  Baixa da égua – Um lugar muito longe

  14.  Arengar – Perturbar, arrumar confusão, brigar

  15.  Abirobado – Tolo, besta, sem juízo

  16.  Marmota – Fazer algo estranho

  17.  Aperrear – Encher o saco

 
A penúltima palavra deste “minidicionário” (Marmota) vem do francês “marmot”, que é um roedor e esta palavra provem do latim “murmur”, ranger os dentes do roedor. Já a última (Aperrear) vem de “perro”, cachorro em espanhol. Exemplificando assim, como a cultura cearense, especialmente a língua falada, é diversa e deriva-se de vários povos.

Engana-se quem pensa que o Ceará tem um vocabulário homogêneo em toda a sua extensão de território. Incorporada ao local ainda existem as regionalidades. Para Maria Celeste, formada em Letras pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) “O dialeto do Ceará possui consideráveis variações internas de acordo com a região ou mesmo o nível social do falante, havendo notáveis diferenças entre os falares do Norte e do Sul do estado, assim como entre a língua culta urbana e a língua coloquial do interior rural”.

Dessa forma, pode depreender que mesmo dentro do estado do Ceará, as diferenças na língua falada são diversas.  




A pluralidade de gírias e vocabulários é imensa e confusa para as pessoas que não são do Ceará. O dialeto é tão complexo que o filme cearense “Cine Holliúdy” (2013) precisou ser legendado para que boa parte do Brasil entendesse as expressões regionais utilizadas no longa. O dialeto, falado muito rápido, fica mais complicado ainda, visto que o cearense contrai muito as palavras.

É... a marmota que o Ceará faz no “cearensês” não é para qualquer abirobado não!


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