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20/03/2022 às 20h35min - Atualizada em 20/03/2022 às 18h49min

Sebos e o impacto da criação de conteúdo nas redes sociais

O consumo de livros usados está em alta e os influenciadores literários abrem espaço para o debate sobre o assunto

Maira Soares - Revisado por Isabelle Andrade
(Foto: Reprodução/Mayara Batista)

O setor editorial teve um salto abrupto de vendas em 2022. Segundo dados do Painel do Varejo de Livros no Brasil, pesquisa feita em parceria entre o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e a Nielsen Bookscan Brasil, o ano começou aquecido com uma alta variação em valor e volume. No valor temos um crescimento de 18,70% comparado a fevereiro de 2021 e, em volume, temos um aumento de 19,56%. Em fevereiro houve um aumento de 16,30% no aumento de livros vendidos, totalizando mais de 4 milhões de vendas feitas. O setor arrecadou R$ 210,94 milhões, totalizando um crescimento de 17,11% em relação ao mesmo segundo período do ano passado.

Laís Fernandes, jornalista, e Renato Martins, militar, são os proprietários do Sebo Lar desde 2011. A jornalista resolveu conciliar o início do sebo com seu trabalho formal e desde 2015 ficou trabalhando somente no novo negócio. No começo eram somente fotos dos livros com seus respectivos preços, mas depois Laís apostou em criar conteúdo literário para atrair mais pessoas. As vendas começaram a aumentar durante a pandemia e o conteúdo fez com que o perfil tivesse maior alcance. “Antes de agosto de 2020 a gente estava com 13.500 seguidores. A gente viu crescer absurdamente. Agora a gente está com 24 mil”, afirma Laís.



Um diferencial do sebo é o serviço de clube de assinaturas, o Clube Novo Lar. A ideia surgiu por causa de uma cliente e em setembro de 2021 nascia o clube. A assinatura mensal custa R$ 27 reais mensais, os proprietários fazem a curadoria de acordo com as preferências de cada cliente ao preencherem um formulário e os assinantes também podem receber brindes e mimos. O interesse pelos livros para Laís começou com o incentivo recebido desde cedo e nunca se imaginava trabalhando com livros. “Meu pai comprava gibi para mim, lia e eu gravava a palavra. Não é que eu lia com três anos, mas eu sabia a palavra pelo desenho das letras. Aí eu ficava repetindo as palavras porque eu sabia a ordem. Meio que eu ‘lia’”.

 

O Clube Novo Lar é um clube de assinatura de livros seminovos e usados. (Reprodução: @sebolarlivroserevistas/Instagram)



Influência literária

Os influenciados literários são responsáveis por disseminar conhecimentos sobre a literatura mundial e nacional, incentivando o hábito de leitura entre seus seguidores. Os chamados booktubers, criadores de conteúdos na plataforma YouTube, divulgam suas listas de leituras, fazem desafios literários e mostram as novas aquisições para a comunidade formada.

Na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil de 2020 os leitores de livros literatura afirmaram que a literatura compartilhada nos 12 meses foram conversando com um amigo ou familiar (71%), indicando alguma dessas leituras para alguém (63%), postando algum texto, imagem ou vídeo na Internet (29%), conversando em uma roda ou clube de leitura (13%) ou conversando em um sarau ou slam (5%). Já para os leitores de literatura apenas em outros meios, os números variam: conversando com um amigo ou familiar (43%), indicando alguma dessas leituras para alguém (38%), postando algum texto, imagem, ou vídeo na Internet (27%), conversando em uma roda ou clube de leitura (13%) e conversando em um sarau ou slam (3%).
 

O canal da Mayara Bastista possui vários conteúdos sobre sebos. (Reprodução: Mayara Batista/YouTube)


Uma das criadoras de conteúdo no YouTube que fala sobre livros, dark academia e sebos é a youtuber Mayara Batista. Ela começou o seu canal aos 12 anos quando a comunidade literária na plataforma era incipiente e tímida. Os principais incentivadores para adquirir o hábito de leitura desde cedo foram os pais e professores e o canal surgiu pela vontade de compartilhar os interesses literários com as outras pessoas. “Atualmente, apesar de ainda estar fazendo o que faço pelo puro amor de conversar sobre a literatura, também me sinto muito motivada pelas pessoas que comentam dizendo que eu as incentivei a ler mais, ou que leram algum livro por causa de um vídeo meu. É uma honra saber que existe essa confiança no meu trabalho”, pontua.
 


Consumo de livros usados
 
Para Mayara Batista o consumo em sebos veio com a influência da família — alguns familiares já tinham trabalhado em sebos e o pai e a irmã visitavam os locais, e isso foi aliado ao fato de que os livros usados estavam sempre com preços razoáveis para seu consumo à época. “Nem sempre tive as condições que tenho hoje para comprar livros, então os usados, pelos preços mais em conta, se tornaram uma constância na minha vida”, afirma Mayara. Além disso, os sebos aproximam o leitor da história passada do livro, seja pelas anotações, dedicatórias e marcas de quem era seu antigo proprietário.

“Aos poucos, fui me apaixonando também pela experiência que esses lugares proporcionam, seja pelas mensagens encontradas nos livros deixadas pelos antigos donos, nas edições raras e antigas, ou até mesmo em como nesses espaços é possível se interessar pelos livros de uma forma mais orgânica, não é muito aquilo de só ver a capa num site e já caçar diversas resenhas sobre, mas sim um entusiasmo gerado apenas pelo primeiro contato com aquele objeto”. Da mesma forma que há impactos positivos, também existem influências negativas sobre o comportamento do leitor. Os criadores de conteúdo literários, ao exibirem estantes abarrotadas de livros recém-lançados, podem impactar no consumismo desenfreado dos seus seguidores.

 


 

Mayara comenta que como tudo que se encontra na Internet tem lados bons e ruins, mas que o universo da literatura é mais positivo. "Diria que a minha única preocupação é o consumo desenfreado que alguns acabam influenciando, no qual o ‘ter’ é mais importante até mesmo do que o ‘ler’”. O futuro da venda de livros seminovos e usados para Laís Fernandes tem tendência de crescimento ainda maior. “O primeiro é que as pessoas estão tendo mais consciência ecológica. Você pensa que é uma pegada de reutilização. Então, conforme essa consciência vai aumentando as pessoas passam a procurar inciativas mais sustentáveis. E o sebo é. E, segundo, as pessoas economizam”, esclarece a proprietária do Sebo Lar.

 


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