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24/03/2022 às 12h41min - Atualizada em 21/03/2022 às 17h35min

Mulheres que marcaram a história de conflitos mundiais

Historicamente, mulheres destacaram-se, apesar da misoginia e da resistência ao combate violento, em confrontos em escala global

Lívia Nogueira - Revisado por Isabelle Andrade
Mulheres soviéticas atuando diretamente no conflito armado (Foto: Reprodução/ Arquivo Rússia Beyond)

Considerando a reincidência de um conflito passível de descomunal proporção - Rússia e Ucrânia - que alerta toda a população mundial e põe em questionamento as motivações e as ações dos combatentes nesse contexto, discussões revivem narrativas de personagens marcantes historicamente que destacaram-se em conflitos em grande escala.

Nesse sentido, é fundamental direcionar a atenção aos desempenhos de mulheres que, por espontânea vontade e disposição, adaptaram suas habilidades às diligências de guerras e revoluções. Apesar de serem retratadas quase sempre em setores alternativos nos períodos de combate, como nos cuidados de alimentação e saúde dos combatentes, diversas figuras femininas estiveram presentes nos mais variados campos de atuação em contextos de conflitos.



Entre essas personalidades, podem ser citadas:

Marie Curie

Reconhecida mundialmente por sua atuação no campo científico, a estudiosa foi uma das maiores pesquisadoras sobre radioatividade da história e isso lhe rendeu o primeiro Prêmio Nobel conquistado por uma mulher - condecoração que foi alcançada duas vezes por ela: uma vez pelas atividades no âmbito da Física e outro, no da Química. Marie Curie atuou, além disso, de forma marcante na Primeira Guerra Mundial, apesar de não ter recebido grande notoriedade por isso, assim como outras mulheres nesses contextos.

Quando as tropas alemãs se direcionaram ao território europeu, a cientista interrompeu os seus estudos para dedicar-se à luta em defesa da nação francesa no conflito mundial de 1914. A técnica de Raio-X, que já havia sido desenvolvida por outro teórico, foi aliada aos conhecimentos de Marie e adaptada para as condições da guerra, já que a tecnologia era encontrada apenas em unidades de saúde distantes de campos de conflito. 

A estudiosa criou o “Carro Radiológico” com o apoio da organização União das Mulheres da França, que consistia na possibilidade de executar o raio-X em soldados feridos pelas batalhas de forma prática e móvel. Após o sucesso do equipamento, outros financiamentos foram oferecidos à Marie Curie, que desenvolveu mais 20 veículos para a rota e treinou cerca de 150 mulheres para aplicarem a técnica em defesa dos combatentes. Trabalhou ainda como diretora do serviço de radiologia da Cruz Vermelha na França e auxiliou na fundação do centro de radiologia militar no território. Não foi possível contabilizar até hoje o número de soldados salvos graças à atuação de Marie Curie na Primeira Guerra Mundial.

Maria Bochkareva

 

Grupos femininos de combate foram criados na Rússia a fim de motivar o espírito de luta durante a Primeira Guerra Mundial. A ideia do governo russo era apropriar-se da ideia de reunir mulheres diante desse contexto para autopromoção e manipulação da população, porém, cerca de quinze Batalhões de Mulheres se formaram e, entre eles, se destacou o Batalhão da Morte Feminino da Rússia. Diferente do que os governantes imaginavam, o grupo, liderado por Maria Bochkareva, chegou até a linha de frente no conflito ao lado do exército masculino.

Em 1917, o Batalhão e sua liderança foram responsáveis por vencerem uma batalha em Smorgon, cidade bielorrussa, onde os soldados não obtiveram êxito. Yasha, como era conhecida a combatente russa, conquistou condecorações três vezes por sua trajetória militar e chegou a reunir mais de 2000 mulheres para lutar no conflito mundial.

Dorothy Lawrence

Com recém-completados 18 anos, a jovem inglesa, que tinha a vocação da escrita jornalística e o apreço pela narração de conflitos em grande escala, trabalhou como correspondente durante o período da Primeira Guerra Mundial, na França. Como mulher e atuante em um setor alternativo no contexto, a jornalista foi, em primeiro momento, recusada de executar a cobertura da Guerra.

Considerando a única alternativa disponível, Dorothy disfarçou-se com vestimentas masculinas e assumiu a identidade de um soldado, Denis Smith. A escritora adaptou a sua forma de agir, a sua aparência e até mesmo a sua personalidade para inserir-se no espaço militar. Após conviver e sobreviver como uma combatente, Dorothy precisou entregar-se por questões de saúde, o que resultou na sua prisão, exigência de acordo de confidencialidade sobre as experiências e posterior repatriação para a Inglaterra. Apenas décadas depois, a jornalista publicou o famoso livro "Sapadora Dorothy Lawrence: A única mulher soldado inglesa", no qual narrava toda a sua trajetória na Guerra.

Maria Quitéria

O “soldado Medeiros”, como ficou conhecida a combatente baiana, foi o codinome e o disfarce adotados por Maria Quitéria de Jesus para conseguir permissão para lutar pela Guerra da Independência do Brasil no século XIX. Ela foi a primeira mulher a servir ao exército brasileiro oficialmente na ocasião do combate contra as tropas portuguesas, que resistiam às mudanças regimentais da política brasileira.

"Ela assumiu a identidade masculina com muita propriedade. Apesar de ser iletrada, ela tinha um conhecimento militar de montaria, tiro ao alvo, que fazia diferença naquele contexto de conflito. Eram habilidades irrecusáveis pelos militares brasileiros", relata Patrícia Valim, professora de História da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A combatente atuou no Batalhão de Voluntários do Príncipe no regime de artilharia. Condecorada por D. Pedro I como heroína, Maria Quitéria é considerada referência na luta de organizações femininas pela anistia durante a Ditadura Militar brasileira

Contrariando qualquer possibilidade de negação de sua capacidade militar, Maria Quitéria contrariava o senso tradicional e demonstrava aptidão armamentista, por isso, mesmo após a sua verdadeira identidade ser descoberta, a combatente obteve permissão para continuar no exercício por conta de suas habilidades com armas de fogo.

Leymah Gbowee 

Natural da zona central da Libéria, a ativista foi a primeira mulher presidente de um país africano. Leymah foi responsável por organizar o movimento que pôs fim à Segunda Guerra Civil da Libéria no ano de 2003, que já havia resultado na morte de cerca de 250 mil pessoas. Nesse contexto, a ativista realizou um trabalho fisioterapêutico de recuperação das crianças que lutaram no conflito. 

Em 2011, Leymah Gbowee foi condecorada com o Prêmio Nobel da Paz, juntamente com outras duas mulheres, as quais são reconhecidas por lutas feministas. A ativista africana é uma das fundadoras do Women Peace and Security Network e foi retratada por suas lutas sociais no documentário Pray the Devil Back to Hell.
 
Pray the Devil Back to Hell - Official Trailer. (Reprodução: Ro*co films - Youtube)

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