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23/03/2022 às 03h34min - Atualizada em 23/03/2022 às 02h50min

Eco-ansiedade e as consequências psicológicas da mudança climática

Estudo aponta níveis de estresse climático entre jovens

Liza Modesto - Editado por Manoel Paulo
A eco-ansiedade foi reconhecida pela Associação Americana de Psicologia em 2017 e a palavra foi adicionada ao dicionário de Oxford em 2018 e trata-se da expressão clínica dos sintomas que têm se manifestado diante da mudança climática.

Esses sintomas geralmente vem das emoções com que se deparam os indivíduos frente a possíveis cataclismas ambientais, dentre as mais comuns: medo, desespero, culpa e raiva.  A potencialização dessas emoções podem alimentar a eco-ansiedade, e trazer consigo outros sintomas como: isolamento, insônia, problemas de concentração e mesmo desenvolvimento de estresse pós traumático. Podendo se manifestar de diferentes formas, a eco-ansiedade e possui entre seus sinais o sentimento paralisia diante do futuro ambiental. 

A juventude e a ansiedade climática

Wall-e, Interestelar, Expresso do Amanhã, são três dos diversos filmes que refletem nosso medo acerca da mudança climática e do futuro do planeta. A ansiedade com o futuro não é um fenômeno recente, mas tem ela tomado cada vez mais o sentido de urgência, especialmente na população jovem.

O receio com o futuro, fermentado pela presença inevitável do assunto na mídia retroalimenta a situação. O consumo constante dessas informações acende a culpa com a faísca da narrativa de culpabilização individual e faz a sensação de impotência borbulhar. É importante não perder de vista que os maiores responsáveis pela situação climática são as grandes corporações e as lideranças governamentais. 

O estudo realizado pelo Lancet Planetary Health com aproximadamente 10 mil jovens de nacionalidades distintas apontou a desesperança dos jovens quando 56% concordaram com a sentença "a humanidade está condenada", e 45% afirmaram que essa ansiedade climática afeta seu dia-a-dia. Os autores expuseram sua intenção ao realizar o estudo de mostrar aos governos como isso impacta os jovens e expressar as preocupações geralmente negligenciadas.

Com trechos que expressam cansaço, impotência, e por fim, desistência, a trend viral no tiktok do especial de comédia de Bo Burnham ressoaram e refletiram o sentimento de milhares de jovens
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Outro dado importante mostrado pelo estudo é a presença de percentagens mais altas em países mais diretamente impactados pela mudança climática — tendo o Brasil o percentual de 74%. Ou seja, aqueles que já tiveram a experiência de como essa emergência e padrões de clima imprevisíveis causam estresse psicológico e efeitos concretos, como desemprego, falta de acesso a água potável, dentre outros. 

Leslie Davenport, psicóloga e autora do livro "Resiliência Emocional na Era da Mudança Climática" fala da crise climática como uma causadora de "ansiedade ambiente", que aumenta os níveis de tensão básicos. A pandemia é outro exemplo de situação que eleva esses níveis. É algo que se torna onipresente, no fundo da mente. Além disso, a pandemia também expôs a fragilidade dos sistemas e estruturas frente a uma emergência ambiental. 

O que pode ser feito?

Emma Marin em seu artigo "Porque continuarei com raiva sobre as mudanças climáticas" para o jornal internacional The Atlantic, entrevista pessoas que lidam com essas questões diariamente: ativistas ambientais. Ela mostra que uma das coisas mais apontadas foi a importância de se cuidar da saúde mental e da saúde física, e algo a mais: usar a raiva. No artigo, Marin reconhece a gravidade da situação e o peso emocional que traz, e aponta a raiva como algo que pode ser usado para motivar a ação. A raiva é o momento que a ensaísta Mary Heglar afirmou utilizar para se tornar ativa, sabendo redirecionar a raiva de uma maneira produtiva, engajando com sua causa. 

Segundo Leslie Davenport, estratégias internas e externas, em conjunto, ajudam bastante. As estratégias internas, são as que acalmam o sistema nervoso, meditação, tempo na natureza, exercício, bom descanso, dentre outras. No momento da tristeza e desespero, é importante ter compaixão consigo mesmo, e buscar alternativas que ajudem no auto-cuidado. Já as externas, dizem respeito a ações coletivas. Além do trabalho coletivo ajudar com a culpa, também a coloca numa comunidade com outros que compartilham do mesmo sentimento — a psicóloga relembra que isso não significa necessariamente protestar ou se jogar no ativismo. 

A saúde mental é um assunto que enfrenta muitos estigmas e é importante buscar ajuda profissional de acordo com a necessidade.

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