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31/03/2022 às 13h43min - Atualizada em 30/03/2022 às 22h55min

A resistência das baianas de acarajé

A luta durante a pandemia e a resistência histórica das baianas de acarajé

Maria Gabriella Santos Nascimento - Editora Giovana Rodrigues
Foto: Nara Gentil/CORREIO
'Estamos passando dificuldades e cestas básicas estão acabando', afirma Baiana em entrevista para o jornal CORREIO, em 2020, após o início da pandemia. Esse vírus trouxe graves problemas no faturamento dessas mulheres trabalhadoras.

O bolinho frito no dendê garante o sustento de mais de 3,5 mil baianas e baianos de acarajé espalhados pela cidade de Salvador. Em qualquer praia que se vá é fácil de se ver baianas preparando o acarajé.

Com a chegada da pandemia, esses lugares foram limitados e a circulação de pessoas na rua diminuiu. Essas mulheres e homens sofreram muito com esse início de pandemia, Meire chegava a vender R$ 2 mil em acarajés por semana. “Fora o final de semana que, às vezes, eu tirava mais R$ 1 mil”.

No início da pandemia, várias dessas mulheres tiveram que renunciar à produção do quitute para conseguir sobreviver. Desde março, Meire explica que virou cuidadora de dois idosos, em Itapuã. Recebendo por isso R$ 500 por mês, com os quais sustenta o neto, a filha deficiente auditiva, além do outro filho e da nora, que estavam desempregados.

“Algumas [baianas] montaram tabuleiro na porta de casa, principalmente as dos bairros populares. São poucas que conseguiram e seguiram trabalhando por delivery. As baianas das praias estão totalmente paradas”, explica Rita Santos, em 2020, presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM). 

Atualmente algumas dessas mulheres voltaram a trabalhar, com as praias reabrindo e várias delas conseguiram voltar a lutar pelo seu sustento. Em outras áreas da cidade a situação também já voltou a se normalizar, pois a circulação das pessoas começou a aumentar retornando a rotina de antes.

Importância dessas mulheres para Salvador:

É muito comum as baianas de acarajé serem as primeiras pessoas que os turistas têm contato quando chegam. Representam uma grande importância da luta e resistência histórico-cultural e econômica para a cidade de Salvador dentro do turismo.

“A resistência dessas mulheres tem uma importância imensa para a cidade de Salvador”, afirma Tiago Motta, professor de filosofia e história. Para entender mais sobre essa importância, o professor explica que os africanos eram proibidos de praticar sua cultura e que, portanto, o próprio fato de o acarajé existir e chegar ao nosso tempo, é uma prova de resistência.

 
“Resistiram contra a escravidão e contra ao ataque a sua cultura”, afirma o professor.

O próprio acarajé tem uma importância muito grande, além de ser um atrativo turístico, é um alimento saudável e equilibrado. O professor de história explica: “rico em frutos do mar que reflete a cultura da Bahia de todos os santos e a cultura pesqueira. Então a culinária tem uma importância muito forte, inclusive na identidade do próprio povo baiano.”

“A Bahia era uma cidade quase que 90% africana e ainda é”. Conta Tiago Motta. Então essa superpopulação africana em Salvador foi a causa dessa predominância na culinária aqui na Bahia e é por isso que não se tem o costume cultural culinário de produzir acarajé em outros lugares que também abrigam a cultura africana.

Na África, é um pouco diferente. O akara produzido na Nigéria, que é menor e não tem recheio, nunca foi proibido, esta é uma das diferenças, no Brasil é uma resistência mesmo porque eles foram proibidos de praticar sua cultura.  


  
Autor: desconhecido. Imagem enviada por Tiago Motta. Akaras dispostos sob uma bandeja.  

Jé = comer em Yorubá
Acara jé = comer akará 

Quando questionado como a crença religiosa de matriz africana está ligada na produção desse alimento, Tiago explica que, no caso do acarajé, a religião está diretamente ligada, porque o akara é uma oferenda, na África todo alimento tem ligação a um orixá.

No Brasil o candomblé juntou orixás de várias cidades africanas diferentes e criou um grupo que se tornou uma religião só. “O acarajé também entra nesse campo da oferenda, assim como o caruru e várias outras comidas africanas, pode ter certeza de que tem um orixá que é oferecido esse alimento.” 

Referencias: 

CORREIO* -- 'Estamos passando dificuldade e cestas básicas estão acabando', dizem baianas de acarajé -- Pandemia deixou 80% das baianas paradas; total de 630 das mais de 2 mil recebem auxílio da prefeitura – Escrito por: Alexadre Lyrio – Publicado em: 01.08.2020, 05:00:00 – Última data de acesso: 06/03/2022 --https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/estamos-passando-dificuldade-e-cestas-basicas-estao-acabando-dizem-baianas-de-acaraje/  

G1 BA -- Campanha de valorização das baianas de acarajé é lançada pelo Iphan -- Baianas são consideradas patrimônio cultural imaterial do Brasil. Peças da campanha são divulgadas no telão do aeroporto, ônibus, elevadores de hotéis, restaurante e demais espaços da capital baiana. – Publicado em 18/12/2018 11h04 – Última data de acesso: 06/03/2022 -- https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2018/12/18/campanha-de-valorizacao-das-baianas-de-acaraje-e-lancada-pelo-iphan.ghtml
 
SALVADOR -- Baianas de Acarajé: a arte e a energia da Bahia -- Uma homenagem a um dos símbolos da nossa cultura -- publicado em: 2020 – Última data de acesso: 06/03/2022 -- https://www.salvadordabahia.com/baianas-de-acaraje-a-arte-e-a-energia-da-bahia/#:~:text=Em%202005%2C%20o%20of%C3%ADcio%20de,tabuleiro%20nas%20ruas%20das%20cidades
 
CORREIO* -- Adote uma baiana de acarajé: contribua com as mais afetadas pela pandemia em Salvador - Conheça histórias de baianas que estão passando necessidade, deposite qualquer quantia na conta delas e ajude-as a voltar ao trabalho - Alexandre Lyrio - 12.09.2020, 07:00 – Acesso em: 06/03/2022 - https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/adote-uma-baiana-de-acaraje-contribua-com-as-mais-afetadas-pela-pandemia-em-salvador/  
 
 

 

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