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21/04/2022 às 22h56min - Atualizada em 04/04/2022 às 16h15min

Resenha: Um Estudo em Vermelho de Arthur Conan Doyle e a introdução à Sherlock Holmes

Uma análise-crítica do primeiro conto sobre um dos personagens mais emblemáticos da literatura até hoje

Virginia Oliveira - editado por Larissa Nunes
Saiba um pouco sobre esse romance-policial do século XIX. (Crédito: Virginia Oliveira)
Antes de abordar diretamente a história, é relevante que se entenda de qual cabeça ela surgiu. O autor do conto, o Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930), foi um médico e também escritor escossez. Sua primeira história publicada foi “Um Estudo Em Vermelho”, em 1887 na revista britânica Beeton’s Christmas Annual, e também o estopim dos outros 60 contos que o personagem rendeu à sir Doyle. Sendo também onde o mundo conheceu o detetive fictício, Sherlock Holmes e seu companheiro o Dr. Watson

A obra já teve várias edições, publicadas por diferentes editoras, mas a análise em questão é sobre a versão de bolso do clássico, publicado pela editora L&PM, na coleção “Pocket”. O livro é compacto justamente por essa propósta conveniente e tem ao todo 190 páginas. A história é dividida em duas parte, e cada uma têm sete capítulos, que não são longos. 

A narração fica por conta do fiel escudeiro, o Dr. Watson, numa espécie de relatório. Já nas primeiras páginas o leitor descobre de forma breve que Watson esteve em um conflito no Afeganistão onde era médico do exército real britânico. Depois de quase morrer, e conseguir retornar a Londres, o ex-combatente se encontrava mentalmente debilitado e sem muitas condições financeiras, buscava um lugar com bom custo-benefício para se instalar e ver o que faria da vida.

E é aí que o autor trata de juntar a famosa dupla, já que Sherlock estava justamente procurando alguém para dividir o aluguel, num lugar que era bem confortável. A partir de então, o Watson começa a perceber que seu mais novo companheiro de quarto é uma figura bem peculiar e que exerce sua profissão de maneira sagaz. À medida que o médico vai descobrindo como Sherlock faz o que faz, o leitor pode se perceber desacreditado, assim como o interlocutor, diante da linha de raciocínio do detetive. À começar pelo jeito que Holmes disse que Watson tinha passado um tempo no Afeganistão só de olhar para ele.


Imagem que ilustra a cena descrita no livro sobre o crime.

Imagem que ilustra a cena descrita no livro sobre o crime.

(Fonte: Caio Cacau/ Mundo Estranho - Reprodução: Superinteressante)


Depois de alguns dias morando com Holmes, o doutor já consegue perceber os trejeitos e rotinas do detetive. Até que um dia chega um recado para Holmes solicitando sua ajuda. Um assassinato aconteceu, o corpo foi encontrado numa casa vazia, sem marcas pelo corpo, mas com várias manchas de sangue espalhadas pelo chão e a palavra "Rache" escrita com sangue na parede, e outras coisas interessantes foram coletadas, mas não vou dizer para instigar você.

A polícia estava confusa, o enigma era indecifrafrel, mas bastou uma visita ao local e mais alguns dias para que Holmes resolvesse o caso, que foi batizado de "O mistério de Brixton Road" pelos jornais, mas chamado de "um estudo em vermelho" pelo detetive. Até chegar nessa resolução, uma pessoa foi presa erroneamente, um anel misterioso foi encontrado e mais uma pessoa acabou perdendo a vida, tudo ficando cada vez mais complicado. 

É incrível observar durante essa primeria parte, como os detalhes mais inúteis parecem ser o que dá suporte ao método inovador de Holmes. Fiquei embasbacada quando ele conseguiu distinguir um monte de cinza que foi encontrada no local do crime, dizendo o tipo de cigarro e a marca que produzira tal resquício. Ele se vangloria dizendo que essa habilidade foi fruto de um estudo e testes profundos sobre cinzas de cigarro e charutos. Algo que parece trivial para os outros detetives, é o que faz Holmes se destacar: sua arte da dedução e paixão em observar os mínimos detalhes. 

Falando em detalhes, o
utra coisa que prende a gente, é essa forma com a qual o autor descreve os cenários e as interações dos personagens uns com os outros, é como se eu estivesse dentro do livro, vendo tudo passar diante dos olhos e isso me fez questionar se o autor contemplara cada acontecimento descrito em alguma visão ou sonho anteriormente.
 
Para deixar mais envolvente, há também referências do mundo real dentro da trama, por exemplo, quando Watson em uma das conversas, compara Sherlock a outro detetive fictício, o Dupin, que foi criado pelo escritor Edgar Allan Poe, e foi engraçado ver como Holmes discorda de tal comparação, aliás, o humor é outro elemento usado por Doyle e na medida certa. Fora os nomes dos jornais e de outros livros que são citados e existem de verdade, o que dá um estranho ar verídico ao que sabemos ser ficção.
 

Não ache estranho se vez ou outra você se pegar pensando "Como é que ele fez isso?", pois o ritmo do detetive de primeira parece estar muito à frente do que o leitor pode acompanhar, mas tudo se encaixa no final. A primeira parte se encerra com o assassino preso de forma inesperada, quase que do nada (mas não se preocupe que o autor não vai nos deixar no escuro). E por mais que o conto seja sobre a resolução de um crime grotesco, além de trazer leveza com o humor - como já havia pontuado - a segunda parte é o que faz esse clássico ser encaixado na categoria de romance-policial. 

De cara, fiquei confusa com a interlocução, pelo jeito como tudo é descrito. Agora não é mais Londres o palco, mas sim os Estados Unidos, mais especificamente na região de Utah. Ali fui surpreendida por uma história quase que milenar, de um grupo fazendo o que parecia ser um exôdo para uma terra prometida, quando se deparam com duas figuras quase a beira da morte, super importantes para o enredo e para a compreensão de tudo (e confesso que pensei que o autor só estava enchendo linguiça, mas fez completo sentido depois).

Mais tarde descobre-se que esse pessoal faz parte do povo Mórmon, e isso mostra o embasamento histórico do autor. As coisas ficam bem estranhas a partir daí, e no meio disso tudo temos um amor proíbido, uma fuga e, sem querer dar spoiler, até porque o objetivo deste texto é que você leia o livro, mas é nessa parte da obra que ficamos sabemos das origens do assassino e sua motivação para tal atrocidade: vingança por amor. 

O livro acaba com a conclusão do caso, e quero avisar que é de maneira trágica, até quis me compadecer do assassino, não vou mentir. De qualquer forma, isso deixa o famoso "gostinho de quero mais" para saber o que Holmes faria resolvendo casos mais complicados e ainda bem que tem outros contos de Sir Arthur para acompanhar o detetive mais famoso em ação. Boa leitura!

 

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