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29/04/2022 às 19h46min - Atualizada em 29/04/2022 às 19h17min

MÍDIA E IDENTIDADE: SERÁ QUE EXISTE RELAÇÃO?

A formação identitária está cada vez mais associada a mídia, tornando fundamental compreender esta relação e seus efeitos.

Thuany Menezes - Editado por Giovana Rodrigues
Reprodução: Amanda Denise da Costa

A identidade é o conjunto das características e dos traços próprios de um indivíduo ou de uma comunidade, que se consolida por fatores internos e externos ao longo da vida. A mídia é um destes elementos externos e, atualmente, tem ganhado muito espaço na formação identitária de crianças e jovens. Entender os impactos que as redes sociais têm na formação identitária dos jovens e como isto tem consequências desde a infância é fundamental.

 

MÍDIA X DESENVOLVIMENTO DO INDIVÍDUO 

É comum crianças imitarem os personagens que consomem na TV ou, como nos dias atuais, na Internet; elas se encantam com essas figuras e querem ter as mesmas características. Isto pode ser saudável para o desenvolvimento da criança mas se torna prejudicial a partir do momento em que passa a impactar na sua forma de viver - ou seja, quando o indivíduo passa a vivenciar aquela imitação. Além disso, gera uma certa estereotipização que pode, desde cedo, fazer com que os indivíduos busquem se enquadrar em padrões que, muitas vezes, são utópicos.  

 

Em 2018, a jornalista Mariana Kotscho foi motivo de polêmica devido à proibição feita a seus filhos de assistirem aos vídeos do youtuber Felipe Neto. Mariana tomou esta atitude pois, na época, os vídeos tinham um conteúdo repleto de bullying e preconceito, e influenciou na mudança de comportamento de seus filhos. Ao perceber isto, a jornalista optou por impor limites a eles para que não crescessem com uma personalidade oposta aos seus valores. Embora sua atitude tenha gerado opiniões na internet, traz uma reflexão sobre como os pais têm agido diante da exposição de suas crianças aos conteúdos midiáticos. Evidenciando, portanto, a necessidade dos responsáveis acompanharem aquilo que a criança está consumindo, entendendo como isso influencia na personalidade e estabelecendo limites que devem ser respeitados.  

 

“Meus pais não deixam eu ver ou jogar qualquer coisa porque às vezes não é para minha idade ou tem palavrão, aí eu tiro correndo. E eu também acabo repetindo toda hora as danças e gírias que eu vejo, porque fica na cabeça.” João Gabriel, 7 anos. 

Reprodução: Canteiro de Ideias

Já na fase da adolescência, a imitação é derivada de uma admiração às celebridades e aos influenciadores digitais. Nesta fase, os sujeitos se identificam com essas pessoas, pela linguagem utilizada, pela temática ou por gostos pessoais, e sentem a necessidade de se autoafirmar, buscando construir uma identidade baseada nessas figuras. De acordo com a psicóloga Maiara Lima Cesar, tal admiração contribui para a modulação do caráter do jovem, positiva quando se é dosada mas negativa quando se há um excesso na idealização. 
 

UMA GERAÇÃO DE INFLUENCIADORES 

O sociólogo Stuart Hall, em seu livro “A identidade cultural na pós-modernidade”, centra sua discussão na chamada crise de identidade, a qual ele percebe que é um abalo dos quadros de referência e ancoragem social em uma perspectiva de nação, gênero, classe e etc. Em uma era globalizada, as identidades nacionais acabam entrando em risco uma vez que a globalização da cultura faz com que o mundo fique cada vez mais parecido a partir daquilo que consome. Assim, Hall segue em seu livro a teoria de que as identidades modernas estão descentradas ou fragmentadas, logo, percebe-se que o que chamamos de identidade não se trata de algo natural ou biológico, mas sim feita de um fenômeno simbólico e narrativo derivado de discursos e de processos históricos. 


Nos dias atuais, percebe-se esta teoria de Hall na medida em que os influenciadores digitais, com seu poder de afetar o comportamento e a decisão de seus seguidores, são grandes referências de personalidades para os jovens, principalmente. É verdade que muitos influenciadores podem gerar aprendizados positivos para estes jovens, porém, nem sempre isto acontece pois, pode acontecer de aquilo que é transmitido pelos influencers não é a realidade vivenciada pela grande parte das pessoas.

Considerando que a necessidade de pertencer a um grupo, a construção de uma autoimagem, a aceitação consigo mesmo e a autoestima são alguns dos dilemas comuns na juventude, o anseio destes sujeitos por uma vida “perfeita” vendida pelas redes sociais pode afetar sua a saúde mental provocando transtornos de personalidade, ansiedade e etc. 
 

“O não uso das redes sociais tem um impacto positivo para mim, pois, basicamente, elas mostram o lado ‘daora’ das pessoas e gera uma intensa auto comparação, as vezes até involuntária, o que acaba gerando ilusão e frustração. Então, não usar faz com que eu não precise lidar com isso.” comenta o jovem Humberto Dimas.

É perceptível, portanto, que as redes sociais têm seus pontos positivos mas que devem ser usadas de forma consciente, para que não sejam controlados pelos conteúdos midiáticos consumidos nem tenham que lidar com consequências negativas. 

 


Referências: 
"Como os influenciadores digitais impactam vida dos adolescentes?" Escola da Inteligência Emocional, 2021. Disponível em: Acesso em: 09/02/22
FROES, Daniel. “Pesquisa revela os impactos afetivos e sociais das tecnologias digitais no comportamento dos jovens”. Razões para acreditar, 2019. Disponível em: <https://razoesparaacreditar.com/tecnologias-digitais-jovens/> Acesso em: 09/02/22
“A construção das identidades juvenis, participação e potencial de transformação: Um olhar da sociologia da juventude”. Disponível em: <https://ebooks.pucrs.br/edipucrs/acessolivre/anais/simposio-juventudes-contemporaneas/assets/edicoes/2018/arquivos/48.pdf> Acesso em: 09/02/22
HALL, Stuart. “A identidade cultural na pós-modernidade", 1992. Disponível em: <https://leiaarqueologia.files.wordpress.com/2018/02/kupdf-com_identidade-cultural-na-pos-modernidade-stuart-hallpdf.pdf> Acesso em: 09/02/22
ALMEIDA, Natacha. “A influência das redes sociais e aplicações na vida dos jovens”. Instituto de Administração da Saúde. Disponível em: Acesso em: 09/02/22
RIBEIRO, Raquel. "Mídia e costrução de identidade". SOS Imprensa, 2018. Disponível em: Acesso em: 15/04/22

 

 


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