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01/05/2022 às 20h54min - Atualizada em 01/05/2022 às 20h47min

Crítica | 365 Dias: Hoje

Filme é decepcionante e aposta em clichês fracos e estereotipados de outras produções

Tailane Santos - Editado por Fernanda Simplicio
Netflix // Reprodução
A sequência (nem tão) aguardada de 365 DNI finalmente chegou a Netflix. O filme foi disponibilizado no serviço de streaming na última quarta-feira (27) e, assim como o primeiro, prometeu muita coisa, mas não entregou quase nada. A história continua fraca e forçada, apelando para diálogos previsíveis e cenas eróticas mal produzidas e constrangedoras.

Imagine todos os clichês que você já viu nos livros, filmes e séries, e junte TUDO em uma única produção, de forma bem solta, só por querer colocar. Você tem aí 365 Dias. É uma mistura de chefe da máfia autoritário, gangues rivais, problemas familiares, mocinha mal desenvolvida e submissa que tentam fazê-la independente – mas sem sucesso –, cenas de sexo violento, mortes, disputa pela protagonista, etc. Tudo isso sem uma lógica para acontecer ou coerência.



Para quem não assistiu o primeiro filme, a trama gira em torno de Laura Biel, uma diretora de vendas polonesa que embarca para a Sicília em uma viagem para tentar salvar seu casamento com um cara que não a valoriza. Lá, ela conhece Don Massimo Torricelli, chefe da máfia local, que a sequestra e lhe dá 365 dias para se apaixonar por ele.

Partiremos desse primeiro para depois mergulharmos em sua sequência. A ideia do longa, de certa forma, é interessante. Vemos isso em livros nacionais e internacionais com conteúdo erótico – os famosos “hots” – com certa frequência: o mafioso que se apaixona pela mocinha, mas que faz muitas coisas erradas e é rude com ela. Eles têm uma relação tóxica, mas ela vê algo de bom nele e conhece o outro lado da história, no qual ele é só um homem quebrado por seu passado e cheio de problemas psicológicos. Uma vibe meio A Bela e a Fera, não?! Eu indicaria terapia, não um relacionamento.

De todo modo, espera-se que a moça fique revoltada e com medo de seu sequestrador, principalmente por ele ter um motivo louco para tê-la sequestrado: sonhou com ela. Espera-se também que ela tente fugir em toda oportunidade que tenha, chore de medo e cansaço, e que o recuse a todo modo. Mas o que acontece é completamente diferente. Laura aparenta curtir toda a situação, principalmente quando Massimo a toca, mesmo sem permissão, e depois passa a provocá-lo e tentar seduzi-lo para depois “fugir” das investidas dele, principalmente quando pode gastar o quanto quiser do seu dinheiro – o que eu acho no mínimo justo.

O resultado é que ela se apaixona rapidamente e decide se casar com ele. O plot do filme é que Laura engravida e misteriosamente sofre um acidente no final, que nos faz acreditar que ela morreu.

Comecemos a analisar o segundo filme a partir daí.

ATENÇÃO: A partir daqui pode conter spoilers.




Nesta sequência, aparentemente Laura não morreu no acidente e também não contou para Massimo sobre o bebê que acabou perdendo. Eles se casam e vão para uma lua de mel regada a cenas de sexo forçadas e mal feitas, com muita agressividade. Assistindo, percebemos que a intenção do filme não é trazer uma história tão desenvolvida, e sim trabalhar a parte erótica com mais intensidade, explorando a sensualidade e o corpo humano, porém, nem isso conseguiram fazer. Se a ideia era ser sensual, falharam muito, pois as expressões faciais dos dois e a pressa com que tudo acontecia fazia parecer mais uma briga do que algo propriamente sexy.

A falta de desenvolvimento das pontas soltas da história anterior nessa produção também é um ponto extremamente negativo. Imaginamos que ele vá tentar ir atrás do culpado pelo acidente, triplicar a segurança da Laura, mover mundos para mantê-la segura... Mas não! Ele apenas continua mandando nela e deixando-a sozinha o tempo todo. E quando ela tenta falar mais alto que ele, é sempre em momentos onde isso não era necessário ou de forma muito tosca.

Para piorar, além de não ter uma história com sequência lógica, assuntos polêmicos para serem discutidos ou ao menos cenas divertidas para aliviar o péssimo roteiro, o longa é sobrecarregado de “clipes musicais”. Ao todo, contei mais de 20 cenas no filme onde não há falas e só imagens passando com um fundo musical alto e o exagero em câmera lenta em momentos que não era preciso. Tiveram ocasiões em que achei estar assistindo algum clipe da MTV de anos atrás. E isso acontecia em sequência, cena após cena, como um recurso para tomar o tempo que o filme deveria ter.



O clichê de outro cara tentando conquistar a protagonista foi o que chegou mais perto de algo bem feito. Porém, os diálogos e expressões faciais entregavam que eles não sabiam o que estavam fazendo. Um jardineiro bonito que a mulher só conversou uma vez aparece depois que ela vê o marido com outra e aí decidi ir com ele para uma ilha? Forçado. A relação dos dois foi construída de uma forma até legal, mas faltou tempo e empenho do roteiro.

É difícil escolher apenas uma cena “vergonha alheia” no filme – todas são, em algum nível. Entretanto, acredito que nada supera o fiasco que foi o final. O modo como os dois inimigos se juntaram para salvar a Laura, caminhando estilo “Missão Impossível” lado a lado, foi tosco e sem graça. O vilão mal segurou a protagonista direito e o jeito que ela se soltou... Eu precisei pausar o filme, respirar fundo para segurar o constrangimento e continuar assistindo. Pior ainda foram os tiros que cada um levou e o modo como eles reagiram. Ficou pior que novela mexicana – e olha que eu gosto dessas novelas.

Já não fosse a péssima atuação, a dublagem brasileira não ajudou. Veridiana Benassi e Gabriel Noya, dubladores da Laura e Massimo respectivamente, não conseguiram fazer com que suas vozes encaixassem nos personagens de uma forma satisfatória, mas não os culpo. Culpo o roteiro novamente!

Eu não recomendo nenhum dos dois filmes, achei fraco na proposta que tinha e mal desenvolvido. Porém, para quem gosta de algo mais bobo e fútil, corre na Netflix para assistir.

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