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20/05/2022 às 11h12min - Atualizada em 20/05/2022 às 11h12min

Look do dia, será que chega para todos os corpos?

Natasha Miranda da Silva - Editado por Beatriz Seguchi
Reprodução: Instagram | @yitty
Incomodada com a falta de acessibilidade para com as pessoas gordas, a cantora Lizzo anunciou recentemente sua nova marca de shapewear, YITTY. Diferentemente de grande parte do cenário brasileiro, a marca contará com uma ampla variação de tamanho e mostra na prática, além do que apenas um discurso, o que significa prezar pela diversidade de corpos.

Imagina entrar em diversas lojas e não ter nenhuma roupa do seu tamanho? No Brasil, isso acontece diariamente com pessoas gordas, que na maioria das vezes, só encontram numeração PP indo ao máximo ao GG, isso quando se chega ao G. Outros departamentos escancaram tanto o preconceito, que só produzem um único tamanho de vestimenta, o qual geralmente só serve ao corpo magro.
E onde entram os corpos gordos? Como ficam essas pessoas sem acesso ao básico como a vestimenta? A inclusão que estampa as propagandas, onde está ela?
 
Numa entrevista dada à revista People, Lizzo expôs sua indignação frente a esse descaso sofrido pela indústria da moda, "Estava cansada de ver essas roupas tristes e restritivas que literalmente ninguém queria usar", disse ela. Sua fala também expressa o sentimento de exaustão da influencer, designer de moda e modelo, Juliana, de 28 anos, que igualmente a cantora, criou sua marca de roupas chamada Bóuncy. O pontapé para sua criação também foi a partir da indiferença que a sociedade tem perante as necessidades de seu corpo.
 

“Há seis meses abri minha marca, a Bóuncy, e desde a primeira coleção levei essa dor para dentro da marca, precisamos e queremos vestir cada vez mais pessoas e mostrar que existe beleza em todos os corpos”, contou Juliana.

 
A modelo relata que enfrentou dificuldades desde muito cedo para achar roupas que lhe coubessem e que isso, até pouco tempo atrás, afetou sua auto estima. Apesar de saber que atualmente há uma melhor abertura do mercado tradicional a tamanhos maiores, ela conta que ainda não é tão fácil, principalmente para as que possuem a numeração superior ao número 56, acharem roupas.
 
Da cidade de Colatina (ES), a influencer Carol Inácio, de 26 anos, também vive essa violência diária ao seu corpo. Diante à unificação feita pela indústria como se corpos gordos só se vestissem de maneira única e anulando toda individualidade, Carol conta como foi e ainda é complicado encontrar roupas de sua numeração:

“Sempre amei muito me vestir, mas isso nem sempre foi possível e acessível a mim por várias questões, uma delas é a falta de roupas bonitas, elegantes, estilosas para o tamanho do meu corpo”, disse ela.  


Em cidades menores, como no caso da influencer, a proporção desse problema se torna ainda maior. Já com poucas opções de mercado em comparação a outros locais, ainda sofrem com a gordofobia, o que complica, ainda mais, encontrar algo de sua numeração e de seu estilo.
 
Impossibilitadas pelo descaso social aos seus corpos, o direito por coisas básicas, como por exemplo, a escolha de uma roupa, é retirada bruscamente da vida de uma pessoa gorda. Isso faz com que essas pessoas sejam obrigadas a recorrerem a outras alternativas, quando na verdade deveria ser uma ação igualitária no quesito acessibilidade para todos.
 
Carol, embargada no cansaço e indignação, teve de procurar uma costureira para que pudesse se vestir da maneira como queria, o que demandou um custo mais alto.
 
Viver em uma sociedade que estabelece que um corpo de característica X se torne padrão faz com que pessoas diferentes daquilo fiquem de fora do que seja dito como belo. Não somente anulando a diversidade, mas como também modificando as camadas estruturais da sociedade, o não pertencimento a esse padrão faz com que pessoas sejam esquecidas por esse sistema. Seja inviabilizando ou excluindo o acesso dessas pessoas, essa cruel realidade mexe em toda a forma como o indivíduo se enxerga.
 
O preconceito faz com que pessoas gordas se afastem de qualquer possibilidade de uma boa relação com seus corpos, dificultando todos os seus processos de aceitação. Carol disse que ainda não conseguiu nem se vestir da forma que realmente admira por permanecer dentro dessa moda padronizada.
 
A influencer hoje faz provadores para três lojas de sua cidade e promove um amplo debate com as donas para que suas roupas atendam as necessidades de corpos diversos. Carol Inácio compartilha sua vivência nas redes sociais e de passo em passo ajuda nas mudanças sociais que devem ser feitas.
 
Juliana e Carol, após anos de afastamento desse pensamento enraizado puderam se desprender dessa constante luta que a sociedade tentou colocar sobre seu próprio corpo e são inspiração para inúmeras mulheres. Pessoas que antes não podiam se ver nas campanhas comerciais e na mídia, hoje se enxergam através de modelos e influenciadores que têm corpos semelhantes aos seus. E elas são o exemplo disso, representatividade para tantas outras pessoas, influenciam de forma positiva a vida de cada uma delas. A modelo Juliana, que sabe da força que exerce para esses indivíduos, diz que isso é como ver alguém e pensar: “Se ela é bonita, eu sou bonita também, porque também sou como ela”, disse a influencer.
 
Corpos magros tem a variedade do mercado, enquanto corpos gordos são obrigados a se reinventar e permanecer nas poucas opções que são oferecidas. Não há justificativa que faça entender tamanha falta de respeito a existência dessas pessoas. Nem mesmo a que diz que não há produção porque tem pouca procura, sendo essa a que menos faz sentido frente a tantos casos de insatisfações a essa problemática.
 
Se a sociedade é uma esfera que deve ser justa a todos os indivíduos, então há de ser feita e pensada para atender e dar acessibilidade a todos. Se tem para uma, deve obrigatoriamente ter para todas. 
 
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