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02/06/2022 às 18h24min - Atualizada em 02/06/2022 às 18h19min

Cena do crime: o sucesso do true crime no Brasil e no mundo

Quando surgiram as narrativas sobre crimes reais e como elas caíram no gosto popular

Eduardo Ozorio - Editado por Larissa Bispo
Créditos/Reprodução: Google
O termo true crime pode ser traduzido para algo como "crime real", mas raramente traduções são usadas para se referir a ele. Despido de roteiros ficcionais e marcado por um discurso muito similar ao do jornalismo investigativo, o gênero é ilustrado por entrevistas e documentos sobre os casos tratados, permitindo análises mais responsáveis das histórias reais que despertam verdadeiro fascínio.

O true crime teria aparecido, pela primeira vez, nos anos de 1550, época em que os detalhes sobre atos de violência estampavam folhetos que eram distribuídos pelas ruas da Grã-Bretanha. Foi apenas em 1845, com a revista Nacional Police Gazette, que pisou em solo norte-americano, de onde, anos depois, seria exportado para todo o mundo. Também nos Estados Unidos, em 1924, surgiu a revista True Detective. As publicações se mantiveram por muitas décadas e consolidaram a visão norte-americana sobre a narrativa de crimes reais na década de 1950, mesmo período em que a indústria literária apresentava ao público uma grande quantidade de obras com a mesma temática. Chegando ao Brasil, invadiu as ondas do rádio na década de 1970 e ganhou destaque em programas sensacionalistas que desmembravam crimes em muitos detalhes, para o divertimento do público.

O sucesso resistiu ao tempo e, em 2014, o podcast estadunidense “Serial”, apresentado por Sarah Koenig, conquistou a preferência da podosfera mundial e inspirou novos podcasts em diversos países. O investimento de plataformas de streaming foi outro tiro certo para conquistar o público. A série “Tiger King:Murder, Mayhem and Madness” (traduzida, no Brasil, como “A Máfia dos Tigres”), dividida em sete episódios, se tornou sucesso absoluto da Netflix, abrindo caminho para ainda mais produções.

Talvez o gosto por este tipo de entretenimento possa parecer estranho para muita gente, mas não é difícil de entender: a curiosidade humana é o primeiro motivo para a existência de tantos fãs. Além disso, o caráter documental das obras promove a quebra de muitos tabus e propõe olhar diretamente para os problemas que, muitas vezes, não recebem a devida atenção. Outro dado interessante sobre o gênero é a maioria feminina em seu público. Apesar do mistério ser atraente para homens e mulheres, algumas pessoas acreditam que o interesse específico do público feminino pode indicar a tentativa de auto-preservação, visto que violência sexual e feminicídio são amplamente retratados. Também não é difícil encontrar crimes ligados a racismo, xenofobia, intolerância religiosa, vícios e aos abismos sociais. Por isso, falar sobre o processo de um crime e sua resolução acaba sendo uma análise da sociedade e dos indivíduos, uma reflexão sobre as necessidades de mudanças e também um exercício de compreensão da nossa realidade.
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