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24/06/2022 às 18h07min - Atualizada em 24/06/2022 às 17h21min

[ANÁLISE] ‘Obi-Wan Kenobi’ apresenta bons lampejos, mas decepciona como um todo

Nostalgia e ótimo elenco não são suficientes para contornar o roteiro bagunçado da série

Luann Motta Carvalho - Editado por Ana Terra

*contém spoilers!

As narrativas das produções de Star Wars estão sendo cada vez mais influenciadas pelos videogames. Quem diz isso não sou eu, mas a presidente da Lucasfilm, Kathleen Kennedy, em entrevista recente ao Empire.

De certa forma, isso é perceptível em Obi-Wan Kenobi. A influência de Star Wars Jedi: Fallen Order é bem nítida em vários momentos da série. Nos episódios 4 e 5, por exemplo, podemos notar algumas semelhanças com as missões de Cal Kestis na Fortaleza dos Inquisidores e em Dathomir, quando o jedi enfrenta Taron Malicos. Esses traços estão principalmente na ambientação do cenário.

No entanto, os traços também podem ser vistos no roteiro e estrutura da série. É aí que entra um problema que parece básico, mas um erro que precisar ser lembrado: videogames e TV são mídias diferentes.

A história de Fallen Order é ótima, mas o roteiro, apesar de amarrado, é uma estrutura simples pensada para as ações imersivas de uma plataforma eletrônica. Em vários momentos de Obi-Wan Kenobi, as missões que envolvem os personagens da série parecem narrativas criadas para um jogo de videogame.

Contudo, o fator imersão é algo que faz a diferença nos games, compensando o roteiro mais simples. Não é à toa que as adaptações de jogos sofreram e continuam sofrendo para se estabelecerem no universo das séries e filmes. Inclusive, isso é algo que Neil Druckmann, criador da franquia The Last of Us, ressaltou quando comentava sobre a série da HBO Max que irá adaptar os títulos de sucesso da Sony. Algumas cenas precisam ser distintas em relação às séries e jogos.

E isso traz um gancho para falar das cenas de ação de Obi-Wan Kenobi. Em outro texto sobre a série, falei sobre essa questão, lembrando que O Livro de Boba Fett apresentou cenas de ação fracas e mal dirigidas. Não foi diferente em Kenobi, exceto pela luta final entre Darth Vader e Obi-Wan, no episódio 6. Episódio, aliás, que foi o melhor da produção e se tornou um alento em comparação aos outros capítulos.

Entretanto, essa parte não é nem a pior da série. Ailás, cenas de ação mal dirigidas até são uma marca em Star Wars, com vários exemplos entre os filmes – apesar de haver um exagero nas séries até aqui. As maiores imprecisões estão na direção de Debora Chow e, como citei, no roteiro. Cada episódio parece uma introdução do protagonista em uma missão para derrotar o “boss”, sem levar para lugar algum. Ou seja, um roteiro simples sem a imersão do jogador/espectador.

A premissa da série é interessante, com uma ideia para dois arcos paralelos. Obi-Wan é um jedi carregado por um sentimento de angústia e culpa, dez anos após os acontecimentos da Ordem 66, que resultou na suposta morte de Anakin Skywalker. Durante a série até o último episódio, há uma transição entre esse jedi e uma pessoa “livre” dessas emoções, depois do último encontro com Vader.

O outro arco é justamente o do vilão sith. Se observarmos, há sempre um questionamento no ar durante a passagem da história envolvendo as figuras de Vader e Anakin Skywalker. Digamos então que o antagonista ainda não era um vilão completo, embora estivesse no auge da sua força. O símbolo do seu afastamento total da pessoa Anakin está no diálogo com o Imperador Palpatine, onde Vader afirma que Kenobi não era nada para ele. No fundo, surge a trilha da Marcha Imperial, tocada pela primeira e última vez na série.

Nostálgico, sem dúvidas. A nostalgia é um ponto alto da produção. É impossível não sentir um arrepio ao ouvir a trilha do Império, ou não dar um sorriso ao ver o flashback de uma luta entre Obi-Wan e Anakin, ainda um padawan e com a interpretação de Hayden Christensen. Além, é claro, da ótima sacada que foi o “Hello there” de Kenobi para Luke Skywalker, uma marca do jedi desde o Episódio IV.

Já que falamos de uma parte boa da série, acho justo citar outra: o elenco da série é excelente. O citado Christensen mereceu esse ponto de virada na sua interpretação de Anakin/Vader e trouxe uma atuação digna para um dos maiores vilões da cultura pop. Além dele, a pequena Vivien Lyra Blair como Leia Organa é uma espécie de mini Carrie Fisher e uma explosão de fofura.

Moses Ingram supera a falta de profundidade que os produtores lhe entregaram para a Inquisidora Reva, uma personagem que tem um potencial maior do que foi retratado. Como no outro texto sobre a série, saliento que a construção ruim da personagem não abre margem para insultos racistas. Repugnante e repudiável.

Mas a melhor atuação do elenco está justamente no protagonista. Ewan McGregor simplesmente nasceu para o papel e traz uma interpretação impecável como Obi-Wan Kenobi. Do jedi angustiado ao guerreiro livre, McGregor carrega consigo uma figura nobre, mas saturada após anos de batalhas, conflitos e situações estressantes na sua vida. E toda a sua jornada entra em prova no último episódio, com uma mudança fascinante de postura corporal.

Porém, as boas coisas de Obi-Wan Kenobi não apagam os graves erros da série. Assim como a personagem Reva, a produção tinha um potencial enorme com uma premissa pra lá de estimulante, afinal, estamos falando de um dos maiores jedi da galáxia! Nesse caso, temos um exemplo de ideias ótimas com execuções precárias.

Portanto, Obi-Wan Kenobi é uma das grandes decepções de 2022 até aqui, após as expectativas que foram formadas em torno da produção. Por outro lado, é bem provável que teremos uma segunda temporada e pode ser uma oportunidade para resolver problemas e potencializar os bons pontos dessa primeira parte. Não tem jeito, sempre seremos eternos otimistas com qualquer produto de Star Wars.


REFERÊNCIAS:
CARLOS, Diego Souza. “Obi-Wan Kenobi: Como a série do Disney+ expande universo de Star Wars”. ADORO CINEMA. Disponível em: <https://www.adorocinema.com/noticias/series/noticia-163927/>. Acesso em: 25 de junho de 2022.
GARÓFALO, Nico. “Obi-Wan Kenobi, Ms. Marvel e nosso direito de ser bobo”. OMELETE. Disponível em: <https://www.omelete.com.br/series-tv/obi-wan-kenobi-ms-marvel-direito-de-ser-bobo>. Acesso em: 25 de junho de 2022.
ROMARIZ, Thiago. “Por que fazes isso Star Wars?! OBI-WAN KENOBI EP5 | CRÍTICA”. THIAGO ROMARIZ. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=WgYrCfZ_0HQ>. Acesso em: 25 de junho de 2022.
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