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15/07/2022 às 20h22min - Atualizada em 24/06/2022 às 00h00min

Por outros olhares: Clarice Lispector e o jornalismo

Para além da literatura, a importância da contribuição de Clarice para o jornalismo, sob um olhar introspectivo.

Ana Luíza Lima - Editado por Larissa Bispo
Créditos/Reprodução: Google

A carreira literária de Clarice Lispector iniciou-se há muitos anos. No entanto, quando se fala em obras publicadas, Perto do Coração Selvagem é o seu primeiro romance a ser lançado em 1943. Sua trajetória como uma escritora renomada na literatura modernista brasileira é marcante em diversos aspectos, principalmente quando se trata de características específicas que a escritora transmitia em seus diversos escritos. 

 

Clarice é conhecida por uma escrita intimista e introspectiva, e os pensamentos e sentimentos de seus personagens são um dos aspectos mais especiais de seus livros. Em uma entrevista concedida para a TV Cultura em 1977, a escritora revelou que, quando mais nova, era muito "tímida, mas ousada" e os jornais e revistas se tornaram seu principal meio de publicar o que escrevia. 

Ela relembra durante o programa, quando levou um conto à redação da revista carioca Vamos Ler!, que Raimundo Magalhães que a recepcionou e ao ler seu texto ele olhou e a questionou: – Você copiou isso de quem? Eu disse: – De ninguém, é meu. – Você traduziu? Eu disse: – Não. Ele disse: – Então vou publicar".

Entretanto, sua presença se tornou efetiva na imprensa em 1942 e seguiu indiretamente interligado a sua vida como escritora. Trabalhou como colunista no Correio da Manhã, em jornais como A noite e Diário da Noite, na Agência Nacional, além de realizar diversas entrevistas em uma das mais importantes revistas ilustradas, "Manchete"

Alguns de seus textos produzidos entre 1967 a 1973 atualmente fazem parte da coletânea  “A Descoberta do Mundo” que reúne 468 crônicas publicadas originalmente na coluna semanal que a escritora mantinha no Jornal do Brasil, entre 1967 e 1973.

 

Uma de suas técnicas mais notórias em entrevistas para revistas era o uso de sua fala para falar de si e de seu entrevistado. E, ao mesmo tempo, construir perguntas onde existiria uma troca de posições como entrevistadora e entrevistada, assumindo assim os papéis de personagens como em uma ficção.
 

Logo, Clarice assumia um tom introspectivo, um mergulho em suas próprias palavras, emoções  e pensamentos que refletiria em uma melhor exposição do entrevistado. Características evidentes no trecho da seguinte entrevista:

– José Carlos Oliveira, vamos fazer uma entrevista ótima no sentido de sincera? Hoje não é o meu melhor dia porque estou muito gripada e triste [...]. Quem é você, Carlinhos? (E, por Deus, quem sou eu?) Fora de brincadeira, o mundo está se acabando e nós não estamos fazendo nada… Fale. Carlinhos. Fale".

 

Ao todo, sua contribuição é extensa, contando com obras brilhantes, milhares de textos jornalísticos e entrevistas que revelam facetas especiais sobre Clarice como escritora, jornalista e mulher. Sua contribuição para além da literatura brasileira abre um vasto caminho para se refletir sobre o trabalho jornalístico que temos atualmente e a identificação que Clarice gerou e ainda gera sobre seus leitores. Identificação que não se limita a técnicas, mas que se expande em sentimentos, dedicação e autenticidade. 
 


Referências e indicações de leitura: 
 

de Castro Soares, M. I. (2020). Aspectos da Clarice Lispector jornalista. FronteiraZ. Revista Do Programa De Estudos Pós-Graduados Em Literatura E Crítica Literária, (24), 182–198. https://doi.org/10.23925/1983-4373.2020i24p182-198

 

https://agenciadenoticias.uniceub.br/destaque/profissionais-de-jornalismo-afirmam-que-clarice-lispector-e-inspiracao-para-carreira/

 

http://lounge.obviousmag.org/domicilio_literario/2014/05/clarice-lispector-e-o-seu-jornalismo-introspectivo-2.html


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