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17/07/2022 às 21h07min - Atualizada em 07/07/2022 às 11h47min

Crônica: pelos muros e viadutos de Cuiabá.

Onde o cinza do concreto domina, ainda pode existir cor e beleza camuflada.

Mariana da Silva - editado por David Cardoso
Arte representando a Via Sacra nos muros ao pé da Igreja do Bom Despacho. (Foto: Arquivo pessoal/Mariana da Silva.)

O ônibus segue a lógica da vida humana: cumpre horários. Entre as idas e vindas às vezes ele atrasa ou adianta, mas vem. Às vezes vazio, mas quase sempre lotado. Quem dorme no ponto, não sobe. Quem não acompanha, fica para trás. Quem chega por último, não senta na janela, é assim. Mas uma coisa é certa, independente do horário, ele passa.

A pressa diária e o turbilhão de pensamentos entram junto com cada passageiro no coletivo. Mas ao longo do percurso, através das janelas do veículo surgem novos cenários, novas construções e novas possibilidades. A rotina do dia a dia muitas vezes não permite que sejam feitos desvios da rota para além das obrigações do cotidiano, porém, é possível tornar as viagens menos tediosas com uma observação mais detalhada.

Lá fora, Cuiabá está cheia de cor. Alguns muros, construções e viadutos em vários pontos da cidade são verdadeiras telas a céu aberto na grande galeria da cidade. As pinturas que contrastam com o cinza do concreto dos edifícios e do asfalto levam cultura aos olhos de quem transita pelas vias da cidade. As cores avivam a paisagem urbana e reconectam com a simbologia inerente a história do local.

 

Arte de Régis Gomes com figuras ilustres da cuiabania.

Arte de Régis Gomes com figuras ilustres da cuiabania.

(Foto: Arquivo pessoal/Mariana da Silva.)

Em muros antigos e novos as formas e cores se destacam. Algumas mais recentes e ainda vivas pulsam e hipnotizam. Outras feitas há mais tempo registram o que já foi um dia arte viva, que em tons desgastados pela ação do tempo e do clima foram castigadas devido ao calor intenso de 40º C da capital e pelas fortes chuvas de verão.

Mas a arte resiste e persiste no ambiente urbano. Desde os viadutos da Avenida Fernando Côrrea, passa pelas pinturas ao pé da Igreja do Bom Despacho, próxima a Praça Maria Taquara, até os muros e viadutos ao longo da Avenida Rubens de Mendonça, a famosa Avenida do CPA. As pinturas colorem a visão dos motoristas e pedestres que por essas vias trafegam diariamente, que presos no modo automático da vida acabam nem percebendo a permanência destas.

As construções deixam de ser somente parte estática da sustentação do tráfego urbano e da arquitetura e levam aspectos artísticos com função social de propagar a arte e a cultura. Em especial, as colunas dos viadutos, que dificilmente passam despercebidas e ganham vida embaixo das grandes estruturas cimentadas.

Representadas nessas colunas se vê as mais diversas formas de manifestações culturais pintadas, onde representam elementos como: flores, plantas, peixes, frutas, violas de cocho, personagens conhecidos das artes e do teatro, figuras étnicas indígenas, africanas, ribeirinhas, o imaginário coletivo do que remete a cultura cuiabana e regional.


Viaduto Clóvis Roberto, mais conhecido como viaduto da UFMT.

Viaduto Clóvis Roberto, mais conhecido como viaduto da UFMT.

(Foto: Arquivo pessoal/Mariana da Silva.)

A arte no cotidiano enfeita, aviva e oportuniza os artistas a mostrarem suas obras em locais de fácil acesso e circulação de pessoas, de forma que a população não precise se deslocar até galerias ou locais específicos para acompanhar exposições.

Feitas há anos atrás nas comemorações de 300 anos de Cuiabá como forma de revitalizar estes espaços urbanos, essas pinturas podem ser vistas como um meio de democratização artística praticada nas vias públicas e locais de fluxo intenso de veículos e pessoas, além de viabilizar o acesso do público independente das classes a apreciar um pouco da arte durante seu dia.

Colorir foi para alguns e ainda é a missão de muitos outros artistas na capital. Alguns deles ainda vivos, outros já finados, que deixaram seu legado e contribuição artística marcados visualmente pelas avenidas e ruas da capital.


Pintura de Régis Gomes na Avenida do CPA retratando ancestralidade e cultura afro.

Pintura de Régis Gomes na Avenida do CPA retratando ancestralidade e cultura afro.

https://dw8.hostwebmedia.com.br/~labdicasjorn/websg/(Foto:%20Arquivo%20pessoal/Mariana%20da%20Silva.)

 

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