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14/07/2019 às 14h32min - Atualizada em 14/07/2019 às 14h32min

Fado: a história cantada de nossas vidas

Um estilo de música que conta experiências pessoais em forma de poesia

Milena Iannantuoni
Vinícius Rocha começou a carreira como fadista e até hoje segue no ramo (Foto: Arquivo pessoal / Instragram @viniciusrochafado)
A música exerce um papel fundamental na vida do ser humano. Ela preserva memórias e culturas muito ricas, que são passadas de geração em geração. O fado português é um estilo musical, tradicional e urbano de Portugal.  Ele foi originado do latim fatum, que significa destino. Inicialmente era voltado para o proletariado, hoje diferentemente, ele é um dos estilos mais conhecidos no mundo.

Quando surgiu em Lisboa, em 1820, tinha letras anônimas e sinfonias melancólicas, devido a situação política em que o país se encontrava. A estabilização do regime democrático, em 1976, devolveu ao fado um próprio espaço. Com o passar dos anos, grandes cantoras como Amália Rodrigues e Mariza tornaram-se reconhecidas mundialmente.

Hoje em pleno século XXI, a herança da colonização portuguesa no Brasil não é mais tão presente, porém há muitos restaurantes em que cantores fadistas com as violas portuguesas se apresentam para os clientes. E é em um desses lugares que o Vinícius Rocha se apresenta. Ele começou a carreira como fadista tocando viola.

O interesse dele pela música surgiu aos 15 anos, quando questionou ao seu avô paterno – que apesar de ser português tinha muitos hábitos brasileiros – qual era a principal cultura musical do país que ele nasceu, e prontamente Vinícius passou a pesquisar tudo sobre. O neto foi um dos únicos da família que cultivou essas raízes, “eu nunca fui um jovem musical, nunca trabalhei com a música, não fui aquela pessoa que se achava obstinado a ser cantor, artista, nem nada do gênero, eu só fiz essa pergunta”, diz o fadista de 27 anos.

Depois de ouvir muito o fado, estudar sobre a música, cantores e de apreciar a cultura, Vinícius começou a se apresentar em 2010, com 16 anos no Portucalle (um antigo restaurante português, hoje já fechado por causa da crise). O restaurante ficava localizado a cinco minutos de onde ele mora, próximo ao metrô Portuguesa - Tietê na cidade de São Paulo. A madrinha de fado o pôs para cantar mesmo sem saber, e lá ele permaneceu por anos, criando intimidade com a música e com os donos da casa.

As linguagens poéticas e históricas das canções trazem muitas emoções e paixões por quem os canta. “Apesar de não saber do que se tratava, hoje eu gosto e fico muito feliz de ouvir, antes eu me sentia muito deslocada. Ouço muito o Vinícius tocar em shows, e passei a admirar”, comenta Monice Bronchtein, arquiteta.

Monice é namorada de Vinicius e o acompanha nos finais de semana em que ele se apresenta. Com o passar do tempo, ela descobriu que seu avô, de quem era muito próxima, ouvia fado o dia todo. Assim como ela, apesar da convivência de alguns brasileiros com descendência portuguesa, alguns não sabem do se trata é fado, por ter pouco ou quase nada de contato com esta cultura.

Tudo o que o fadista sente é transmitido nas músicas, pois são em grande maioria autorais, ou seja, cantam sobre o que acontece com eles na vida, com toda paixão, emoção e dedicação necessárias.

O fado faz parte da história dos brasileiros e foi declarado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), como Patrimônio da Humanidade em 2011. É um estilo para apreciar e ouvir com atenção, porque nos traz experiências únicas e pessoais de cada fadista. Isso tudo começou como uma homenagem do Vinícius, um presente de aniversário para o seu avô, e agora ele leva uma vida dupla, fadista nos fins de semana e corretor durante a semana. “Quando eu estou cantando, eu sinto que eu entro em uma outra atmosfera. Viro outra pessoa cantando”, admite Vinicius.

Editado por Pâmela Rita 

 
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