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25/02/2023 às 13h06min - Atualizada em 25/02/2023 às 10h47min

Eduardo Kobra e a arte de rua como meio de promover cultura de paz global

Nascido na periferia de São Paulo, artista tem trabalho reconhecido mundialmente

Madson Lopes - Revisado por Joyce Oliveira
Kobra foi o primeiro brasileiro a produzir um mural artístico no Walt Disney Word, na Florida, EUA. (Foto: Portal Metrópoles).

Carlos Eduardo Fernandes, conhecido como Kobra, começou a fazer intervenções (ou pichações) artísticas nas ruas de SP, quando tinha apenas 12 anos. O que Eduardo Kobra não imaginaria é que em três décadas se tornaria um dos artistas mais importante do movimento chamado Street Art, a arte de rua. Hoje, o paulistano tem trabalhos reconhecidos mundialmente e obras espalhadas em 35 países. O artista já foi listado pela Revista Time Out como personalidade do ano em 2018, em Nova York.

Um dos seus mais recentes trabalhos foi feito na sede da ONU em Nova York, e fala sobre a urgência dos cuidados ao meio ambiente. (Reprodução: @kobrastreetart/Instagram).



Leia mais: A conflituosa relação da Pichação, Pixação e o Grafite

O início


Muralista ou Grafiteiro? Para Kobra tanto faz. Segundo ele, a diferença é que, o primeiro, o artista pede autorização para realizar a obra, já o segundo, não. E foi assim que ele começou, na clandestinidade, sem pedir autorização, deixando sua assinatura nos corredores e banheiros do Maurício Simão, escola onde estudou e, também, adquiriu o apelido de Cobra, pois segundo seus colegas, ele mandava bem nos desenhos.

Nascido em 1975, no Jardim Martinica, bairro pobre da zona sul paulistana, filho de um tapeceiro e de uma dona de casa, sua infância foi como de qualquer garoto da periferia de São Paulo. Mas sua vocação artística logo lhe traria problemas. Ainda na adolescência, Kobra se misturou com a galera da pichação. Ele conta que pegava ônibus para o centro da cidade e voltava a pé, pichando muros e prédios da selva de pedra. Um trabalho perigoso, ilegal e mal visto pela sociedade dos anos 80.

Após ser detido duas vezes pela polícia, acusado de crime ambiental, sua família descobriu que ele estava pichando. Isso abalou o relacionamento com seu pai, que demoraria anos para reconhecer seu filho artista.


Da Pichação ao Grafite

Foi questão de tempo Kobra mudar para o grafite. A transição veio através do Hip-Hop. Esse movimento que ganhou as periferias no início dos anos 80 vinha acompanhado do Break, da galera dos skates e grafiteiros. Kobra entrou para o grupo Jabaquara Breakers, e a partir daí, sua assinatura com “K” passou a ser reconhecida na cidade.

Trabalhou como Office Boy, até mesmo estagiário no Banco do Brasil, somente em 1994 que ele passaria a ganhar dinheiro com seu grafite. Pintando peças publicitarias e cenários no Parque Playcenter, onde teve oportunidade de aprimorar técnicas de aerógrafo e juntar dinheiro para financiar seus primeiros murais. No ano seguinte, treinou uma equipe e fundou o Estúdio Kobra, daí em diante, seu trabalho passou a ser bastante requisitado pelas agências de publicidade.

Mas sua relevância como artista com reconhecimento midiático e notável aconteceu em 2007 com o projeto Muro das Memórias. O artista reproduziu fotos da antiga São Paulo, em diferentes regiões da capital, litoral e interior do Estado.

 

Mural em Santos, na rua do Museu do Café, é um dos principiais trabalhos do projeto Muro das Memórias. (Reprodução: @Kobrastreetart/Instagram).



Esse seria o primeiro de muitos projetos que colocaria Kobra como referência mundial no Muralismo, e o levaria para cinco continentes a fim de espalhar amor à arte às cidades, transformando paisagens cinzentas das grandes metrópoles, deixando-as mais coloridas e alegres, promovendo reflexões essenciais para a sociedade.

Do Grafite ao ‘Artevismo’

Ativista da Paz é como Eduardo Kobra se define, mas também é como sua arte se insere na sociedade. Desde seu primeiro projeto em SP, o artista contextualiza seus trabalhos às pautas atuais abordando temas como racismo estrutural, causas ambientais, crise imigratória e liberdade religiosa.

Em entrevista ao programa À Prioli, Kobra conta que seus projetos são baseados no caminho que trilhou, como paz, tolerância, respeito, coexistência, união de povos, história e memória. Essas características saltam aos olhos daqueles que apreciam seu trabalho e, talvez por isso, sua arte penetra diferentes espaços, saindo das ruas e invadindo museus e galerias renomadas.


“A beleza da ‘Street Art’ é justamente essa, uma arte acessível a todos e democrática”, afirma Kobra.

Além de Martin Luther King, Kobra já homenageou varias personalidades e ativistas importantes como Nelson Mandela, Malala Yousafzai, Mahatma Gandhi e Desmond Tutu. (Reprodução: @kobrastreetart/Instagram).



Durante a Pandemia, foi criado o Instituto Kobra de Arte e Cultura.  Já neste ano, o artista ganhou da Prefeitura de Itu (SP), cidade onde escolheu para morar, um espaço para sediar o centro cultural. Trata-se de um casarão antigo com uma área em volta de mais 5.000 metros quadrados, o que Kobra chamou de “papel em branco” que será usado como instrumento de transformação social de jovens e adolescentes em estado de vulnerabilidade no Brasil.

Gostou de saber mais sobre a vida desse artista? Confira seus principais murais aqui.


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