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03/03/2023 às 09h47min - Atualizada em 03/03/2023 às 09h37min

Cultura ou preconceito?

As polêmicas envolvendo as marchinhas de Carnaval

Simone Santos - Editado por Nicole Bueno

Cultura ou preconceito?

As polêmicas envolvendo as marchinhas de Carnaval 

 

Por Simone Santos 

 

    Marchinhas de carnaval são tradicionais e fazem sucesso no carnaval brasileiro. O gênero musical surgiu no Brasil nos anos 20 e ficou predominante até os anos 60. Posteriormente, veio a aparição dos sambas enredos. Entretanto, as marchinhas ainda ganham destaque no carnaval contemporâneo. 

    A primeira composição de marcha foi criada em 1899 por Chiquinha Gonzaga, nomeada “Ó Abre Alas” produzida para o cordão carnavalesco Rosa de Ouro. Em 2011, a revista Veja elegeu as 10 melhores marchinhas de carnaval e Ó Abre Alas ficou em quarto lugar. 

    É inegável o valor cultural que as marchinhas representam. No entanto, algumas de suas canções são polêmicas e preconceituosas. As músicas “Maria Sapatão” e “O teu cabelo não nega” apresentam versos questionáveis. 

    A marchinha “Maria Sapatão” ficou muito famosa no carnaval e se popularizou na voz de Chacrinha, que também ajudou na composição de autoria de João Roberto Kelly. A música ficou muito famosa na década de 80, quando não se discutia se a letra seria homofóbica ou não. Mas, os versos da canção “Maria Sapatão, sapatão, sapatão, de dia é Maria, de noite é João” foram escritos de maneira cômica e para ridicularizar a sexualidade da pessoa dita na música. Isso fica mais claro nos versos a seguir “O sapatão está na moda, o mundo aplaudiu. É um barato, é um sucesso, dentro e fora do Brasil”. 

    Após tantos anos de seu lançamento, a música ainda é muito ouvida no carnaval e mesmo a letra sendo homofóbica, em 2011 foi eleita em 9ª a melhor marchinha de carnaval de todos os tempos pela revista Veja. 

    Outra música polêmica e com letra evidentemente racista é “O teu cabelo não nega” de autoria Lamartine Babo. A letra expressa o preconceito racial contra a mulher negra. Praticamente a música inteira é problemática, mas o refrão é o que mais chama atenção. “Mas como a cor não pega, mulata, mulata eu quero o seu amor”. Fica claro que se a cor fosse “contagiosa” ele não se relacionaria com ela. 

    Na primeira versão a canção foi intitulada como “Mulata”. Esse termo vem sendo discutido ao longo dos anos e visto como extremamente preconceituoso. Para alguns estudiosos da etimologia da língua portuguesa, a palavra mulata e mulato origina-se da palavra mula/mulo, animal híbrido originado do cruzamento do burro com a égua ou do cavalo com a burra. No Brasil colonial, o termo apareceu referindo-se à junção de pessoas brancas com pessoas negras. Ou seja, os filhos de um homem branco com uma mulher negra ou vice versa, seriam “mulatos”. 

    Mudaram o título da música não porque viam problema, mas para chamar mais atenção para o refrão. Até porque isso não era discutido na época.  Assim, a composição ficou com o mesmo título do refrão e uma enxurrada de preconceito nos demais versos. 

    Algumas pessoas não veem problemas nas músicas apresentadas aqui, outras acham bastante preconceituosas. Para o estudante de jornalismo  e fã de marchinhas, Pedro Otávio Araújo (20) deveriam introduzir novas músicas ao gosto dos brasileiros. “E que as antigas sejam usadas para mostrar o progresso intelectual da sociedade, mesclando o antigo e o novo numa tentativa de compreensão do passado”, contou o acadêmico. 

    

    


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