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06/03/2023 às 14h25min - Atualizada em 06/03/2023 às 14h24min

A etnofotografia e a luta pelos direitos indígenas

Como uma forma de arte ajuda atrair olhares para grupos sociais muitas vezes esquecidos e marginalizados

Gisele Veríssimo - Revisado por Flavia Sousa
Exposição no Museu do Amanhã cria ambiente de floresta e busca conscientizar as pessoas (Foto: Divulgação/Sebastião Salgado)

Pouco conhecida no mundo da arte, a Fotoetnografia tem uma função importante: com o objetivo de coletar dados de um determinado povo e cultura por meio do registro fotográfico, o termo designa uma das modalidades da antropologia visual, criada pelo antropólogo brasileiro Luiz Eduardo Robinson Achutti. 

A Fotoetnografia colabora, então, para a preservação de características socioculturais e antropológicas de um determinado grupo, tornando-se fundamental para a compreensão das mudanças históricas que ocorreram ao longo do tempo e para a provocação de pensamento crítico acerca da formação e permanência da identidade de um povo.

Assim, o trabalho dos profissionais da fotografia torna-se essencial. No Brasil, um dos nomes que o representa é o de Sebastião Salgado, fotógrafo mineiro que tem sua fotografia documental reconhecida em todo o mundo: já ganhou diversos prêmios como o 40º Prêmio Jabuti de Literatura na categoria Reportagem, em 1998, e Praemium Imperiale do Japão, considerado o "Nobel das artes", em 2021, além de tornar-se o primeiro brasileiro a fazer parte da Academia de Belas Artes da França.
 

Exposição Amazônia 

Recentemente, o Museu do Amanhã recebeu uma das exposições mais simbólicas do artista. “Amazônia”, que está em tour pelo Brasil, conta com 194 fotografias e é resultado da imersão que Sebastião e sua esposa, Lélia Wanick Salgado, realizaram durante sete anos na maior floresta tropical do mundo. 

As imagens, para além da vegetação, fauna e flora, e recursos naturais, evidenciam povos locais que são donos de uma rica cultura e até hoje lutam pelos seus direitos básicos de sobrevivência. Na exposição, o visitante também pode conhecer o Instituto Terra, iniciado em 1998 pelo casal. Além de formar mão-de-obra capacitada, o instituto já empreendeu o reflorestamento de cerca de 600 hectares de Mata Atlântica em Minas Gerais.

Para Carolina Oliveira, publicitária e estudante de pedagogia, a exposição é arrebatadora: “Eu fiquei maravilhada. A primeira coisa que me chamou a atenção foram as fotos da floresta, a imensidão da Amazônia é soberana e realmente belíssima de ver. Cada detalhe da floresta é simplesmente encantador, não tem como você olhar para essas fotos e não soltar o ar maravilhado”.

“No centro da exposição havia fotos de povos de diferentes etnias. E é incrível ver como cada etnia é tão única. Seus costumes, suas festas, suas características, tudo muito particular daquele povo específico. É importantíssimo você poder ver assim tão "de perto" as diferenças entre as várias etnias que vivem no nosso país. O Brasil é riquíssimo, cada povo que habita a floresta é único”, completa.

No seminário que leva o nome da exposição, Sebastião explica: “A arte pode defender a floresta [e] tem defendido a floresta. Os grupos indígenas, com os quais eu trabalhei e convivi, possuem uma quantidade incrível de artistas. Esses artistas estão totalmente ligados à natureza”.

“A sobrevivência do nosso planeta e de nossa espécie está ligada à sobrevivência dessa floresta e as comunidades indígenas são o centro dinâmico de proteção dela”, afirma.

Com o debate, é possível aprender mais sobre a cultura dos povos nativos e do povo Tikuna, ao ouvir a artista, cantora e compositora indígena We’e’ena Tikuna. Cristino Wapichana, escritor, músico, compositor e cineasta também indígena dá contribuições com reflexões acerca do uso indevido de recursos naturais: “Uma floresta em pé é que dá equilíbrio”. 

Nesta entrevista, cedida ao Canal Arte1 no ano passado, Sebastião Salgado dá ênfase à riqueza cultural que os povos indígenas possuem: “Nós teríamos que tratar esses indígenas tão bem, venerar, porque eles são uma referência da humanidade”. E completa: “Para mim a importância dessas fotografias e dessa exposição é o conjunto dessas variáveis. Nossa esperança é que as pessoas que saiam da exposição não sejam as mesmas que entraram. Porque temos certeza que [ela] pode transformar”.

Saiba mais sobre a Exposição Amazônia no instagram

A obra de Salgado deixou o Museu do Amanhã em fevereiro, mas você pode visitar outras exposições que evidenciam a importância da preservação do meio ambiente e dos diversos povos que habitam nosso país. O Museu está localizado na Praça Mauá, 1 - Centro. Rio de Janeiro, RJ. Funciona de Terça a Domingo, das 10h às 18h (última entrada às 17h), inclusive feriados.

Tenha uma experiência imersiva pelo trabalho de Jimmy Nelson clicando aqui.

Leia mais:
Fotografia e suas significações na era das redes sociais.


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