12/03/2023 às 21h15min - Atualizada em 14/03/2023 às 17h33min
Resenha | Close: tão perto, mas tão distante
A história da beleza e melancolia da amizade entre Leo e Remi.
Rebeca Souza Marques - Revisado por Danielle Carvalho
Capa de divulgação do longa 'Close' (Foto: Reprodução / A24)
Close é um filme de drama do estúdio A24 que retrata de forma intangível uma grande amizade entre Leo (Eden Dambrine) e Remi (Gustav De Waele) que repentinamente acaba por uma tragédia. Durante o decorrer do filme, o diretor Lukas Dhont escolhe mostrar de uma maneira excepcional e com uma beleza extrema – possuindo de certa forma uma melancolia por trás – o quanto os dois meninos vivem uma amizade com um amor puro e genuíno.
Observamos as trocas de olhares com ternura e carinho, o toque físico entre os dois que demonstra a materialidade desse afeto que é difícil de explicar em palavras, as brincadeiras do cotidiano dos garotos, os grandes planos do futuro. Remi sonhava em ser um grande músico e Leo afirma querer acompanhá-lo em sua jornada, demonstrando o grande amor e a vontade de estarem em harmonia por muito tempo. Com isso, um dos grandes momentos que expressa esse grande carinho entre os dois é quando os garotos estão deitados, quase dormindo. Remi passava por uma angústia pois no outro dia tinha uma apresentação e o Leo resolve acalentá-lo contando uma história sobre um patinho e um lagarto, que não foi escolhida atoa, pois percebe-se que conta de forma indireta a relação e a história dos dois.
Além disso, podemos ver o quanto a dupla sente-se livre quando estão juntos. Possuem um sentimento de pertencimento, com uma liberdade de serem quem eles são, pois sentem-se seguros. Essa emoção é bem representada no filme no momento em que os dois correm em um campo de flores.
A proximidade e a distância
Vemos o longa-metragem retratar com uma grande sensibilidade o relacionamento dos dois sozinhos, em um ambiente confortável. Porém, isso muda quando ambiente escolar ser inserido no meio dos dois, sendo um divisor de águas. Close tenta trazer de uma forma interessante o quanto este ambiente influencia na forma que a amizade dos dois ocorre após essa mudança acontecer. Durante as idas à escola, comentários vindos de colegas acerca da forma que os dois se tratavam eram feitos, relatando que existe uma certa crueldade juvenil que insinua que os dois na verdade são um casal romântico. O boato não atinge o Remi, mas deixa Leo extremamente desconfortável, mudando assim a forma que trata o seu amigo. A partir desse momento podemos observar o protagonista passando por um processo de repressão das demonstrações de afeto ao amigo, justamente por sentir o “peso” dos comentários feitos e começa a se afastar de Remi.
Com isso, vemos que existem vários momentos durante o filme que demonstram essa distância dos dois, sendo muito bem enfatizada pelo diretor Lukas, que faz questão de retratar com sutileza esse distanciamento, com cenas que deixam explícitas esse apartamento tanto físico quanto emocional. Dessa maneira, com o Leo se distanciando do Remi, um sentimento de abandono é instaurado no garoto, que se se sente trocado e deixado de lado, em virtude da dificuldade do Leo em lidar com seus pensamentos e sentimentos. A partir daí vemos um Remi extremamente triste e abalado pelo comportamento do Leo.
Dessa maneira, os pequenos atores Eden Dambrine e Gustav De Waele fazem o papel de demonstrar toda essa emoção e esse envolvimento de forma excepcional. A forma como conseguem construir a amizade, o afeto, o carinho e, acima de tudo, o problema principal da trama – o distanciamento dos dois. A maneira que o cineasta trabalha com a câmera para deixar explícito o carinho e afeto dos dois, focando bastante nas expressões, combinando a atuação dos atores deixa tudo mais claro e bonito.
As cores fazem um papel muito importante, a cor da camisa do Remi por exemplo, que desde o início previa a tragédia que estava por vir. O ar melancólico que é trazido a partir da ambientação e da sonoridade nos levam a entender e compreender a beleza e tristeza da obra.
