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21/03/2023 às 12h14min - Atualizada em 21/03/2023 às 12h03min

A dança como ferramenta de inclusão social e expressão da identidade

A linguagem do corpo é marcada na história por manifestações culturais e sociais

Valéria Soares - Editado por Nicole Bueno
Luiz Felipe encontrou na dança a transformação da sua carreira profissional. Formado em Turismo, passou a trabalhar como dançarino e articulador cultural na sua cidade Natal, Teresina, Piauí, no ano de 2019, em atuações artísticas da escola de teatro Gomes Campos. 

Através do seu envolvimento com a valorização da cultura de matriz africana, articula grupos como o Cultura Negra. Nesse trabalho, produz oficinas de danças afro e percussão para as comunidades locais, onde visa a formação de novos profissionais. Começou sua trajetória no grupo cultural Coisa de Nego,  onde encontrou uma identificação com suas raízes culturais para formatar a dança como um trabalho.

Assim,  dançar  passou a ser para ele uma expressão que desperta sentimentos e reavalia sensações. “ A dança, ela te dá uma troca energética que vai gerando a predencias entre entre cada corpo que compõe aquele espaço”, comenta. 

A história da dança começou já na pré-história. Segundo pesquisadores, os primeiros registros de movimentos gestuais foram encontrados nas pinturas rupestres. Com o som da natureza, das batidas das mãos e pés, os primitivos expressavam ao movimentar o corpo uma das primeiras linguagens de comunicação entre os homens. 

O pesquisador de dança da Universidade Federal da Bahia, Carlos Dumas,  destaca que a dança é inerente ao humano. 


“Desde da época primitiva, das primeiras manifestações corpóreas dos primatas. Ainda quando não existia a comunicação oral verbal.  O corpo, o movimento, o gesto, as expressões foram as formas iniciais de eles externarem os seus pensamentos, externarem os seus desejos, externarem as suas vontades e de uma forma intrínseca de se comunicar com o outro”, explica. 

 
Ao longo da história a dança foi expandindo para além de forma de comunicação corporal. Carlos Dumas aponta que o termo dança para a sociedade ainda é vista de uma forma muito limitada. “Dança não é só coreografia. Não é só passos de dança”. Para o profissional que tem mais de 15 anos de carreira artística, a dança representa um ato  cotidiano de se levantar, de sentar, de falar, de interagir como outro. “ A dança dentro do fator social, possibilita que haja uma interação entre o outro por meio do corpo”, complementa.
 
Nos seus estudos, o pesquisador traz o conceito de corponectividade. “ A dança foi introduzida dentro das ciências, como Educação Física e entre outras ciências ainda de forma dualistas. Que separa o ser humano corpo e mente, alma e espírito”, aponta. No entanto, a corponectividade traz o conceito para a dança de conexão com cultura, saberes e vivências do outro.” Os corpos carregam uma história. Eles trazem uma mensagem. Os povos se conectam entre si por meio do corpo. Esse corpo ele está de alguma forma conectado, independentemente da sua cultura. E isso é que define a identidade desses povos”. 
 
A formação da identidade dos povos através da dança é marcada por contextos históricos e sociais. “ A dança é gravada na história como uma mensagem por meio do corpo. O corpo carrega nos seus traços, as suas culturas, seus ensinamento, as suas tradições”, frisa o pesquisador.


A dança brasileira teve influencias europeias, indígenas e africanas para consolidar sua formação. 


No Brasil, as cinco regiões possuem danças características da localidade. Na cultura popular tem-se entre as mais famosas o samba, carimbó, frevo, forró, maracatú, coco, baião, bumba-meu-boi, axé, lambada, as danças indígenas. 

Nesse processo de expansão de algumas manifestações culturais da dança como o samba, a capoeira, danças de matrizes africanas e mais tardiamente o funk, foram marginalizadas como expressões culturais. Pesquisadores da dança, principalmente dos grupos de estudos da Bahia, lutam para dar visibilidade as culturas que ainda são colocadas margem.  “O funk ainda mesmo com o seu alcance, através inúmeras cantoras como a Anitta, que fez  o funk chegar a lugares que eram extremamente rejeitados, ainda sofrem preconceito. As danças de matrizes africanas, por ainda se ter um fanatismo religioso, ainda é vista de forma muito preconceituosa”, comenta o pesquisador Carlos.

Ele avalia que as artes em geral no Brasil precisam de mais valorização. “A dança na escola é trabalhada apenas como uma dança decorativa e comemorativa”, comenta.  Para o pesquisador, a dança não é uma mera prática corporal.  


“ A dança  é história. É a ciência de todas as especificidades que compõe a área de conhecimento em dança, em seus múltiplos e interdisciplinares saberes, que são extremamente importantíssimas para permanência da nossa história”. 


A história que constroi dançando e multiplicando saberes através de pesquisas, passou a ser o sentido da carreira do dançarino Luiz Felipe. A cultura negra é uma das vertentes que ele aborda para sua formação. “Eu realizo projetos culturais para a negritude, o preto na sociedade tenha espaço”. Foi por meio do corpo em movimento que se muniu de  história e identidade das suas origens, para reafirmar a dança como ferramenta social de inclusão.
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