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22/03/2023 às 17h35min - Atualizada em 22/03/2023 às 16h59min

A importância do diálogo sobre a cultura afro-brasileira na Educação

Em 2023, ainda com resistência, lei que obriga instituições a abordar o tema completa vinte anos

Gisele Veríssimo - Revisado por Flavia Sousa
Imagem utilizada na exposição "Corpo-imagem dos terreiros", em 2014. (Foto: Reprodução/Resumo Fotográfico)

Em Janeiro deste ano, a lei 10.639/03 completou vinte anos. Sancionada durante o primeiro mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva, é considerada um marco na educação brasileira: O texto garante a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira na Educação Básica, “no âmbito de todo o currículo escolar”.

 

Assim, as instituições de ensino em todo o país adotam diversas metodologias para a abordagem do tema e, uma das maneiras de trabalhá-lo de forma didática e lúdica é através dos livros infantis, ferramentas de linguagem acessível que proporcionam um fácil entendimento.

 

Recentemente, uma das obras literárias utilizadas para tal - o livro “Amoras”, lançado em 2018 pelo cantor Emicida - foi alvo de intolerância religiosa. O caso tornou-se amplamente conhecido e rapidamente espalhou-se pela internet.

 

O cantor e a obra

 

Leandro Oliveira - mais conhecido como Emicida - nasceu em 17 de agosto de 1985. O cantor, rapper e compositor é natural de São Paulo, onde participava de batalhas de improviso, o que aos poucos foi acarretando em milhares de visualizações em seu canal do YouTube e do MySpace, na época.

 

Em suas composições, Emicida trata de assuntos como a favela, as religiões afro-brasileiras e a violência policial contra populações da periferia. Em 2020, estreou na Netflix o documentário “AmarElo - É tudo para ontem” que conta, para além da história do negro, do samba e do rap, um pouco sobre a origem do racismo no Brasil e de como a população afrodescendente ficou sem amparo no período pós-abolição.
 

“Tem um velho ditado iorubá que diz: 'Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje'. Esse ditado é a melhor forma de resumir o que eu tento fazer. Eu não sinto que eu vim, eu sinto que eu voltei. E que, de alguma forma, meus sonhos e minhas lutas começaram muito tempo antes da minha chegada".
 —  Emicida (Citação com qual ele abre o documentário)

 

O primeiro livro infantil do rapper, intitulado “Amoras”, foi lançado em outubro de 2018 e inspirado pela música homônima que escreveu para a filha mais velha, Estela, na época com sete anos. Representatividade e negritude são os pontos centrais, que têm extrema importância para o autor: 


Nossa vitória é distribuir esses 'sempres' e demolir esses 'nuncas', que destróem nosso imaginário desde muito pequenos. Então creio eu que essa é a importância da representatividade. A partir do momento que você conta a história e a pessoa se vê nela, nesse caso, as crianças, ela também passa a crer que tem lugar nesse mundo e que tem uma importância tremenda”, disse Emicida em entrevista à revista Crescer.
 

 

O ocorrido

 

“Amoras” foi escolhido como parte do projeto “Ciranda Literária”, da escola particular Clubinho das Letras, em Salvador (BA). O livro foi vandalizado pela mãe de um dos alunos: as páginas do livro foram escritas com trechos da Bíblia e as informações sobre os orixás foram taxadas como falsas. O caso foi classificado como racismo religioso pela advogada criminalista Dandara Amazzi Lucas Pinho da Ordem de Advogados do Brasil (OAB) do estado. 

 

Em seu instagram, Emicida afirmou: “A tristeza é por essas pessoas que querem que a sua religião, no caso o cristão, protestante, conhecidos como evangélicos, seja respeitada, e deve ser respeitada, mas não se predispõem nem por um segundo a respeitar outras formas de viver, de existir e de manifestar sua fé". Veja o vídeo completo aqui

 

Importância da cultura afro-brasileira

 

Recentemente, outro caso simbólico repercutiu na mídia quando Fred Nicácio, ex-participante do BBB 23, foi alvo de intolerância religiosa quando os também ex-participantes Key Alves, Cristian Vanelli e Gustavo Benedeti debatiam sobre o motivo pelo qual o médico estaria de pé no quarto, durante a madrugada. Veja neste vídeo

 

Ambos os fatos acenderam os debates sobre o diálogo e a valorização acerca da história e cultura da população afro-brasileira, e demonstram a relevância da inserção no tema desde os primeiros anos de escolaridade. Vale lembrar que tanto o racismo quanto a intolerância religiosa são crimes, previstos pelas leis 7.716/1989 e 9.459/1997, respectivamente.

 

As contribuições dos povos africanos trazidos para o Brasil na diáspora é perceptível das características cotidianas às mais profundas na cultura brasileira: são palavras, comidas, ritmos, formas de vida e, é claro, crenças, que se perpetuaram como herança de um país marcado pela miscigenação das raças e, consequentemente, da cultura - contribuições essas que são extremamente ricas e, para além de conhecidas, precisam ser respeitadas.

 

Leia mais: A cultura no combate ao racismo

 

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