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22/03/2023 às 23h54min - Atualizada em 22/03/2023 às 23h53min

A democratização da leitura

Afinal, é errado piratear livros se eu não tenho dinheiro?

Raquel Oliveira - Editado por Luana Zuin

O Brasil é um país plural, onde possuímos diversas etnias, cultura e religiões, onde mais de 60% da população considera que o ato da leitura é uma fonte de conhecimento para a vida (pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”), porém números nem sempre significam qualidade, principalmente quando a média de livros lidos ao ano é de 2,43 por um brasileiro.

Isso acontece por diversos motivos, mas entre eles existe um que merece maior destaque e se chama Sociedade.

 

A vida social começa dentro de casa, muitas pessoas não geram o hábito de leitura em suas crianças, por questões financeiras ou até por não acharem algo de muito importante. Embora para jovens seja muito comum ouvir os pais mandando irem ler livros, mesmo que muitos pais não fazem esforços para isso. Então entra a questão da escola, onde o ambiente acadêmico deveria fazer esse papel, porém é comum - embora incorreto - que existam escolas que nem biblioteca possuem ou, caso venha a ter, não possuem obras atrativas o suficiente para os alunos por falta de verbas.
Uma outra alternativa seriam as bibliotecas públicas ou comunitárias, que são ambientes que, dependendo do local (região, estado, cidade e bairro), os livros estejam tão danificados e velhos por usuários antecessores que o empréstimo não seja um opção viável para muitas obras.

 

Durante a pandemia (2020 - 2022) o consumo de leitura teve um drástico aumento, desde pessoas que nunca tiveram o hábito de ler, até aumento de influenciadores de conteúdo literário nas redes sociais. O “booktok”, nicho de criadores literários dentro do tiktok influenciou e muito nesse papel durante o isolamento social.

 

Ainda assim, a literatura não é algo viável para todos e muito se questiona sobre como deixá-la mais democrática e acessível para todos. Nas redes, sociais um grande debate sempre acaba sendo recorrente: Afinal, é errado piratear livros se eu não tenho dinheiro?

 

De um lado, temos o fato de que as grandes editoras e fábricas de papel estão constantemente aumentando os preços dos produtos, a fabricação ficando cada vez mais complexa e com isso os valores dos livros vão aumentando por temporada. Por outro lado, como uma fuga deste sistema, muitos leitores optam por lerem e-books, afinal ainda estão lendo os livros que desejam e por um preço muito mais em conta. Entretanto, um problema está neste ponto: a famosa pirataria em grupos de redes sociais, que deixam os e-books completamente de graça, possibilidade um acesso maior, principalmente para aqueles que dizem não poder pagar por uma versão digital na Amazon, mesmo que não seja - na maioria das vezes - algo legalizado.

 

A pirataria em seu todo é o ato de vender ou distribuir conteúdos ou produtos sem autorização prévia do(s) proprietário(s). No Brasil, a pirataria é considerada crime contra o direito autoral que pode gerar prisão de até quatro anos e multa.
 

Muitas pessoas tentam normalizar o ato, fazendo ou compartilhando pirataria de autores estrangeiros, pois a chance de alguma ação jurídica acontecer é muito pequena, ou pelo fato do livro ainda não ter sido traduzido aqui no Brasil. Ainda assim é uma questão complexa, pois muitos grupos de rede sociais pirateam até obras estrangeiras que já foram trazidas com o argumento de que tanto a versão física como a digital não são acessíveis, de que autores estrangeiros são ricos e que as editoras no Brasil são ricas demais pra prestarem atenção em todas pessoas que conseguiram o livro de forma ilegal. Embora, essa situação ainda não seja justa também com os integrantes das equipes que fizeram o livro vim para o Brasil, independente de ser uma Intrínseca da vida ou alguma editora pequena e independente que esteja começando a comercializar livros internacionais agora. Isso fora o que acontece com autores independentes.

 

Em entrevista para Lab Dicas Jornalismo, o portal de notícias literárias Sem Spoiler comentou sou sobre a questão da pirataria e sobre o que significa para o portal essa questão de debate:


LDJ: Sendo um pouco mais social, como é a visão sobre a pirataria? É uma faca de dois gumes, ajuda e prejudica ao mesmo tempo, mas como o portal lida com essa questão?

Sem Spoiler: "Nós entendemos que muitas pessoas não têm acesso aos livros. E também entendemos que os livros empregam muitas pessoas. Como foi dito na pergunta, é uma faca de dois gumes. Nós não somos a favor da pirataria, mas também não vamos ficar condenando as pessoas que pirateiam livros (caso essa seja sua ÚNICA forma de acesso à literatura)."
 
Em contra partida, a autora Sabrina Naud, escritora de "Entre Deuses & Demônios", possui uma visão diferente sobre a mesma questão: "Acho que a pirataria não ajuda em nada. Pelo contrário. Quem acredita nisso é porque está apenas 'passando pano' para si mesmo. Vemos pelo movimento de livros de Kindle ou outras plataformas digitais se tornando virais, não por pirataria. Então a pirataria só é válida quando é uma forma de protesto contra grandes empresas ou autores como J.K. Rowling."

A publicação independente, que é bem difícil, afinal é preciso arcar com o próprio bolso para a coordenação e realização da construção, revisão, diagramação, designer e lançamento (fora caso o autor em questão lança edição física, pois ainda tem o custo da gráfica e de transporte da gráfica ao autor e do autor aos leitores), não é pra qualquer um.

Autores nacionais, em grande parte são independentes de editoras, às vezes pelo projeto não ter sido aprovado por alguma editora, e para que o livro receba alguma atenção e justamente para facilitar o acesso a leitura, já deixam o livro dentro do valor mais prático possível de maneiras que as pessoas consigam adquirir e ainda assim possa ter algum retorno financeiro, já que muito precisam deste retorno financeiro por dependerem dele. O kindle unlimited é uma plataforma que monetiza o autor por páginas lidas, com a pirataria isso acaba sendo - por falta de palavra melhor - um roubo ao autor.



Provavelmente, você, meu caro leitor, já deve ter ficado com raiva ou frustrado por ter feito algo e alguém ter ido lá tirar seus méritos falando que quem fez foi a pessoa e não você. Com a falta de valorização causada pela pirataria em livros nacionais isso se torna um "risco" da carreira, afinal, entra o questionamento "vou trabalhar tanto para quê? Para o meu produto ser dado de graça sem meu consentimento?"
Isso, se formos por em grande escala, gera uma taxa de desvalorização da literatura brasileira e isso, não se trata de livros clássicos, mas sim de livros atuais criados por autores recentes.

Mas aí vem a grande questão. Se a pirataria é tão ruim, o que se fazer contra ela? Qual seria a alternativa mais correta e parcial para ambos os lados? A resposta é simples. Não existe uma ação a longo prazo que der certo, não em seus 100%, visto que isso se trata também de um traço da consciência de cada pessoa. Apesar de que existem coisas que podem ser feitas para diminuir o impacto.

  • Denúncia: Em delegacias de crimes na internet ou busque informações de como lidar com a pirataria de livros (principalmente nacionais).

  • Mudanças nas Estratégias de Mercado das Editoras: Editoras deixarem seus e-books mais acessíveis e passarem a olhar para o mercado de autores nacionais.

  • Apoio a Literatura Nacional: Comprando os livros de autores brasileiros já estará fazendo um grande bem, porém o apoio nas redes sociais para engajar os perfis é algo valioso. Uma curtida ou um comentário ajudam bastante.

  • Compra de Livros em Sebos: Existem diversos sebos físicos e onlines onde se pode encontrar livros por uma preço relativamente mais em conta e dependendo do local é possível realizar trocas.

  • Dica do Portal Sem Spoiler: "Se é uma pessoa que mora em algum lugar onde não tenha acesso à bibliotecas ou internet, acredito que a melhor vertente seria que o governo focasse em auxiliar essas pessoas, oferecendo condições de vida dignas. Se é uma pessoa de renda baixa, mas que possui acesso a um celular com dados móveis, por exemplo, indicaria o BibliOn e o Skeelo, aplicativos que oferecem eBooks gratuitos que podem ser lidos pelo celular."
  • Comentário da autora Sabrina Naud: "A questão é entender quais as dificuldades das pessoas para ler e tentar saná-las. Por exemplo, eu decidi tentar tornar a leitura acessível para o grupo de pessoas com Afantasia e TDAH, que são questões completamente diferentes. Então adaptar livros para essas pessoas (que não são poucas) é um longo estudo constante de teste e laboratório de ideias, utilizando a tecnologia como aliada. Se pensarmos no lviro da forma tradicional como conhecemos, ele só mudou do papel para um tablet, fora isso, tudo é igual como em 1500 e algo está errado aí, pois hoje conhecemos muito mais da mente humana. Não sei porque dificuldade pode variar desde poder aquisitivo a questões mentais, como citei anteriormente. Então cada caso é um caso com soluções completamente diferentes. Mas acredito que tanto autores quanto editoras, estão negligenciando as dificuldades de acesso como todo. Se temos assinaturas de streamings, por que não fazer o mesmo com livros? Por exemplo."


A democratização ao acesso a leitura é um assunto complexo e que nunca vai ser do agrado de 100% das pessoas, porém normalizar algo que beneficie boa quantidade de ambos os lados não é impossível, requer investimento, um governo apto a mudanças e a melhorias e, claro, a conscientização das pessoas.


 


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