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21/07/2019 às 22h28min - Atualizada em 21/07/2019 às 22h28min

Velhice e solidão: violações contra idosos maltratam a mente e o corpo

É preciso garantir condições e políticas específicas para uma melhora na qualidade de vida

Ariel Vidal - Editado por Mário Cypriano
Foto: Gerd Altmann
O disque 100 recebeu mais de 37 mil denúncias de violações contra idosos em 2018. Os números expressam um aumento de 13% em relação ao ano anterior. Segundo a divulgação do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, 54% dos casos mais recorrentes acontecem pelos filhos e netos (7,8%), e o local com maior evidência de violência é a casa da vítima (85,6%).

No entanto, vale ressaltar que o artigo 3, no parágrafo único do estatuto do idoso, mostra a importância da valorização que a família deve ter com a pessoa acima de 60 anos, seja ela pai, mãe, ou demais parentes. Exceto que não haja as devidas condições de arcar com as necessidades do individuo. Porém, o ato de deixar o idoso em uma instituição asilar pode causar diversos problemas como a depressão, além de outras sequelas que podem afetar o organismo com a inflamação nas células que protegem o corpo de outras doenças.

De acordo com a psicóloga Cléo Rodrigues, autora de um artigo publicado no livro Labirintos do Envelhecimento, o abandono em asilos pode gerar diversos fatores que afetam a qualidade de vida. “Comportamentos aversivos, agressivos e de isolamento podem ser manifestações sucintas sobre a forma de lidar com essas questões de fundo emocional” explica Cléo. Apesar disso, uma pesquisa realizada pela Universidade Brigham Young e publicada na revista especializada em Perspectives on Psycological Science apurou que a solidão em idosos pode ser tão prejudicial a saúde quanto o uso de quinze cigarros por dia, assim como bebidas alcoólicas.

Isolamento familiar

Os números de idosos no Brasil somam em mais de 28 milhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A amostra afirma que 13% da população do Brasil é idosa, sendo a maior parte no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, com pessoas acima de 60 anos.
Daqui a 40 anos, haverá mais idosos no Brasil. Os dados são do IBGE. Veja o gráfico abaixo.

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Para que haja a qualidade de vida na velhice, conforme o estatuto do idoso, torna-se necessário garantir os direitos de saúde, educação, trabalho, assistência social, habilitação, meios de transporte e cultura. No entanto, entre os idosos, 35% sofrem com o isolamento familiar.

Conforme pesquisas da psicóloga Rafaela Thais, o idoso que é abandonado pelos familiares desenvolve muitos sentimentos nocivos à saúde. “O que perpassa na mente do idoso é a sensação de solidão, de abandono, ingratidão, mágoa, rejeição perante os seus familiares.”

Segundo a assistente social e coordenadora do abrigo ‘Amai-vos uns aos outros’, Heloísa Rosa, os idosos que moram no asilo em minoria tem família, e os que possuem, as visitas variam de quinze em quinze dias ou uma vez ao mês. “Quando o idoso é tirado do âmbito familiar e colocado em um local que não é próprio pode não se adaptar e desenvolver até demência. Alguns idosos chegam e com um mês já são atingidos pela doença”, afirma Heloisa.

A assistente social também conta que as visitas muitas vezes são para cumprir obrigações, como o caso da idosa Albertina Figueira que recebe a visita da filha, que passa todo o tempo no celular enquanto está com a mãe. “A filha vem ao abrigo e fala, _‘Oi mãe, tudo bem’? Come algo com a idosa e logo vai embora, ” relata. Segundo Heloisa, a Dona Albertina possui Alzheimer e não é capaz de conversar sobre o assunto, mas afirma que por essa razão, a idosa não sofre mais com o abandono da filha.

Conscientização na sociedade

A psicóloga Cléo afirma que para este problema entrar em processo de mudança de pensamento é preciso promover a cultura de respeito e conscientização referente aos mais velhos com a aplicação do que é estabelecido no estatuto do idoso. Segundo Cléo, assim como para todo cidadão viver bem são necessários certos cuidados, e com os idosos não seria diferente. “O incentivo a prática de exercícios físicos, alimentação saudável, qualidade do sono, manter boas relações com a família e com terceiros, e dentre outros rituais que seguimos por orientação médica e psicológica contemplam significativamente para estabelecer uma vida mais saudável”, explica.

Cléo Rodrigues também comenta que o estudo tanto universitário quanto básico também contribui para o bem-estar mental do idoso, pois atua na prevenção de doenças como o Alzheimer, demências e problemas relacionados ao funcionamento da memória.

Aumento gradativo da população idosa

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos aumentou em 18% neste ano. Este  crescimento está estimado em um aumento gradativo, sendo que em 2060 os idosos corresponderão a 25,5% da população.

Diante disso, a psicóloga clínica Milena Nascimento afirma que é necessário que a sociedade fale sobre os idosos para que se exponha todos os preconceitos e ocorra o reconhecimento e a mudança. “Revisitar o passado e reinseri-los na sociedade com dignidade e respeito são os passos que a sociedade deve dar. Todos precisam fazer sua parte, como ouvir mais e denunciar qualquer violação”, finaliza.

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