Após anos alegando que o sistema de votação via correio está repleto de fraudes, os republicanos - assim como o ex-presidente americano Donald Trump - estão trabalhando para reverter o sistema antes das eleições presidenciais e para o Congresso dos EUA, que ocorrerá no próximo ano.
Em sua terceira candidatura à Casa Branca, Trump declarou aos participantes da Conferência de Ação Política Conservadora no início deste mês que é hora de "mudar nosso pensamento" sobre as votações antecipadas e pelo correio.
Trump vêm divulgando os planos de sua campanha em discursos de e-mail para arrecadação de fundos, onde incentiva a "colheita de votos", prática onde terceiros coletam e entregam as cédulas de outros eleitores.
Segundo ele, seu partido "não tem escolha" a não ser derrotar "os democratas em seu próprio jogo".
Para Trump, isso é uma reversão total para um político que em novembro do ano passado emitiu um comunicado na Truth Social, sua rede social, alegando que: “você nunca pode ter eleições livres e justas com cédulas por correio – nunca, nunca, nunca".
A mudança no tom da mensagem reflete a visão entre os estrategistas republicanos de que, as implacáveis alegações de Donald Trump sobre uma possível fraude eleitoral em 2020 e a dura retórica do Partido Republicano sobre uma forma de votação amplamente usada em estados-chave, como o Arizona, contribuíram negativamente para o decepcionante resultado das eleições de meio mandato, as famosas 'mid-terms'.
Os republicanos temem que isso possa colocar em risco as esperanças do partido de conquistar a Casa Branca, assim como outros cargos no próximo ano.
Segundo Paul Bentz, pesquisador do Partido Republicano, em Phoenix, Arizona, isso "é um problema criado pelos republicanos entre os republicanos".
A maioria dos eleitores do Partido Republicano no Arizona ainda vota mais cedo, entretanto uma "parte considerável mudou seu comportamento de volta para votar pessoalmente no dia da eleição",
Trump, disse ele, "reprimiu efetivamente uma parte de sua própria base de apoio".
Agora, autoridades republicanas em todo país lutam para descobrir como mudar as atitudes dos eleitores antes que o período eleitoral de 2024 realmente comece. É esperado que uma revisão do Comitê Nacional Republicano sobre as próximas eleições se concentre em maneiras de encorajar a votação antecipada entre os fiéis dos republicanos.
No estado da Pensilvânia, onde um campo de batalha presidencial viu os democratas ganharem vantagem nas últimas mid-terms, os funcionários do partido lançarem comitês para explorar maneiras de recuperar a vantagem de voto via correspondência.
Membro do Comitê Nacional Republicano da Pensilvânia, Andy Reilly, declarou à CNN que "qualquer partido que vote por 50 dias vai vencer o partido que votou por 13 horas".
Antes das últimas mid-terms, em novembro do ano passado, alguns republicanos expressaram preocupação de que a retórica contínua de Trump sobre a votação por correio e a segurança eleitoral pudesse desencorajar o comparecimento dos republicanos, levando-os a perder as eleições.
Aliados ainda alertaram o ex-presidente de que os democratas tinham infraestrutura instalada e que falar mal do sistema por correio colocariam os republicanos em desvantagem, porém ele não só não ouvia, mas também dobrou as acusações.
No fim, o partido de Trump teve desempenho inferior nas eleições de meio mandato - não conseguindo virar o Senado americano, ganhando apenas uma estreita maioria na Câmara dos Representantes e derrubando apenas um governador democrata.
“O que precisamos é que nossos eleitores votem com antecedência”, disse a presidente do RNC, Ronna McDaniel, aliada de Trump, durante uma entrevista à Fox News em dezembro de 2022, no mesmo dia que Raphael Warnock, senador democrata, fora reeleito na Geórgia, consolidando a posição de seu partido na maioria do Senado.
“Ele não acredita que as derrotas em 2022 tenham algo a ver com a conversa de negação eleitoral, não importa quantas pessoas digam a ele”, disse uma fonte próxima de Trump à CNN. “É porque ele ainda ouve as pessoas que dizem que a base se preocupa com isso”.
Desde as mid-terms, conselheiros próximos estudam leis estaduais e apresentaram a Trump uma pesquisa sobre como os democratas estavam trabalhando dentro do sistema e usando a votação via correio, assim como a coleta de cédulas a seu favor, bem como um plano em que os republicanos conseguissem fazer, ajudando-os assim a vencer a eleição de 2024.
“A mensagem [para Trump] foi: ‘Se não fizermos assim, nunca venceremos”, disse à CNN um aliado de Trump.
Nikki Haley, ex-governadora da Carolina do Sul, a primeira republicana a desafiar Trump pela indicação do partido Republicano, pediu para que o partido adote o voto antecipado e à distância. A fala foi dita no evento à Coalizão Judaica Republicana, ela ainda argumentou dizendo que os republicanos "ficaram em nossas mãos" na eleição, enquanto seus opositores - os democratas - acumularam votos iniciais.