No Brasil, a cultura quilombola é conhecida com uma manifestação cultural que surgiu a partir da resistência e luta dos povos negros escravizados que fugiam das fazendas dos senhores de engenho e formavam comunidades chamadas de quilombos.
A cultura quilombola é rica em música, como por exemplo, o jongo, camdombe, o maçambique e a roda de tambor. Além dessas expressões musicais, também existem outros ritmos de origem africana.
Já na culinária, os pratos como peixe assado, cozido ou frito, arroz com feijão ou frango eo môi, mais conhecido como vinagrete em algumas regiões, estão presentes na cultura quilombola.
Nos quilombos, podem ser encontradas diferentes religiões, incluindo a religião evangélica, a católica e a umbanda. Mesmo sendo religiões diferentes, a crença de cada um é respeitada nas comunidades.
Atualmente, as comunidades quilombolas lutam pela preservação de sua cultura e pela garantia de seus direitos territoriais, além de enfrentarem a discriminação racial e o racismo estrutural presentes na sociedade brasileira.
No Quilombo da Rampa, à 26 quilômetros de Vargem Grande (MA), como forma de preservar a cultura quilombola, Raimundo José e William Cardoso tiveram a ideia de criar a “TV Quilombo” no ano de 2017. Vale ressaltar que o Quilombo da Rampa foi fundado em 1818 e atualmente contém 4 comunidades com aproximadamente 500 moradores.
Segundo Raimundo, a ideia inicial era mostrar a realidade da comunidade de uma forma descontraída sobre a cultura do quilombo para o próprio povo quilombola através do audiovisual.
Os dois já tinham imaginado cada vídeo e cada tema para apresentar no projeto, mas no início não tinham equipamentos necessários.
Apesar de poucos recursos financeiros e tecnológicos, Raimundo e William começaram a dar seus primeiros passos com os materiais que tinham acesso.
“Pela falta de equipamentos, nós imaginávamos como seriam as filmagens e guardávamos na memória. Depois de algumas semanas, o William Cardoso criou uma câmera de papelão que se tornou nosso principal objeto”, completou o fundador da “TV Quilombo”.
Além da câmera de papelão, a “TV” também contava com um microfone de graveto de madeira. Para simbolizar os fios do microfone, os cipós eram importantes.
“Cipó uma planta muito presente na mata e acabaram se tornando fios ligados ao microfone de graveto. Depois que conseguimos o nosso primeiro celular, colocamos o aparelho na câmera de papelão e assim iniciamos as filmagens e fomos aprendendo de maneira natural como fazer as filmagens”, detalhou o fundador.
Para fazer o tripé da câmera, os voluntários utilizam bambu, “Em algumas regiões, o bambu tem o nome de taboca, mas na nossa comunidade chamamos de bambu ou tabó e contém diversos tipos. Para o tripé, o formato mais fino foi o mais adequado”, ressaltou Raimundo.
Para complementar ainda mais as filmagens, o “bambu drone” foi mais um objeto adaptado para a “TV Quilombo”, “Queríamos fazer imagens aéreas, porém não tínhamos um drone. Pensando nisso, pegamos uma vara de bambu de 10 metros, amarramos o celular na ponta da vara com o cipó. Esse objeto foi essencial para as imagens da nossa roda de Tambor de Crioula”, detalhou o fundador.