Personagens de 'South Park'. (Foto: Reprodução/Comedy Central)Provavelmente muita gente ainda acha que desenhos animados são apenas para crianças, e isso, já deixou de ser uma métrica. Atualmente, diversas animações são feitas exclusivamente para o público adulto e prometem reflexões sociais e o esperado humor.
É nessa perspectiva que o discurso de humor do politicamente incorreto pode ser definido nessas animações. Ainda que os personagens possuam traços de animação infantil, o enredo trata de temas mais densos e com uma linguagem inapropriada para os menores.
No entanto, alguns estúdios acabam pesando na dose de “humor” e abrindo portas para o que seria “liberdade de criação”. Vivemos numa sociedade onde o normalizar e ressignificar opiniões ofensivas é cotidiano. A liberdade de expressão é aceita, desde que não ofenda quem precisa lutar para ter espaço ou ser quem é.
Seguindo num ponto mais complexo, os desenhos não têm compromisso com a verdade, sim, porém o problema é como essas animações estão atingindo o público adulto. Pode parecer, que este público seja maduro e saiba como entender aspectos morais sociais ou já possuam pensamentos concretos, mas na grande maioria das vezes, a reprodução de hábitos e identificação dos adultos com desenhos é bem maior.
Podemos observar esse comportamento na Psicologia Social e ver como o indivíduo com uma personalidade “formada” é influenciado socialmente. Essa área da Psicologia estuda como nos tornamos seres sociais quando nascemos.
O público das animações adultas está inserido no que seria a etapa de socialização secundária que ocorre na idade adulta. Nessa fase, encontramos uma pessoa relativamente formada em sua personalidade, e isso caracteriza uma estabilidade de comportamento, mas podem ocorrer influências que geram crises pessoais menos ou mais intensas.
Isso é extremamente importante, pois segundo o IBGE em 2021, a população adulta brasileira era de 43,9% que corresponde a 87,8 milhões de pessoas.
Desenhos animados, em sua maioria, podem criar espaços para liberdade de ofensas entre os adultos, a partir do momento que isso está ligado a sua cultura na estruturação de comportamentos, ao haver coisas que aprendemos e internalizamos. Porque ao invés de reeducar mostrando as ofensas oficiais, isso é relativizado e tratado como uma brincadeira que pode moldar muitas pessoas.
O molde de caráter jamais é feito somente na juventude, a fase adulta ainda é um momento que muitos abraçam perspectivas para serem aceitos.
O discurso do humor politicamente incorreto
O discurso de humor é muito presente na nossa vida cotidiana e temos acesso por meio de desenhos que se tornam um grande canal para adultos como entretenimento atualmente.
O chamado “humor politicamente incorreto” ganhou destaque nestas animações por trazer reflexões mais regradas sem consciência de classes ou entendimentos sociais. Muitos entendem que limitar esse tipo de humor seria regular a linguagem, pensamentos ou condutas. A partir desse fator, é necessário observar como promover normatizações de ofensas na esfera pública pode ser considerado “normal”.
Fica evidente que o humor é paradoxal e, simultaneamente, agrupa e isola pessoas, podendo ser analisado e resistente a isso simultaneamente.
Tendo em mente essa definição de humor, ele pode, sim, criar moldes e formalizar consequências sociais. É fundamental que os desenhos para adultos tenham responsabilidade com o que tipo de humor veiculado sem meras reflexões que só alimentam opiniões externas e internas que podem ser banalizadas.
Além disso, a conhecida “ditadura do politicamente correto” é uma farsa, ela incomoda, ao interferir em padrões que não celebram o social, mas sim “jaulas de estereótipos”. A verdadeira opressão está naquela que é silenciosa, mas é dominante.
