Seria apenas mais um parto comum: gritos intensos de dor e o choro do bebê logo em seguida. No entanto, algo extraordinário acontece: a mãe se recusa a romper o cordão umbilical que a une ao filho. A partir desse momento, mãe e filho ficam “presos” por uma espécie de corrente que os mantém conectados por toda a vida.
O curta-metragem ucraniano "O Cordão" (2018), com roteiro de Olexandr Bubnov e direção de Sergiy Maidukov, traz uma reflexão bastante significativa sobre a relação entre mãe e filho. A obra nos faz questionar a noção comum de que o instinto de proteção é uma forma de amor incondicional, e nos mostra os reflexos da superproteção materna no desenvolvimento da criança. O curta usa uma linguagem criativa e cômica para retratar o contexto.
Com o nascimento do filho, ao invés de enxergá-lo como um ser independente, a mãe mostra que não consegue diferenciar os limites entre ela e seu bebê. Neste cenário de superproteção, ela enxerga o filho como propriedade, uma espécie de extensão do próprio corpo. A convivência entre ambos se torna quase simbiótica, com pouco espaço para privacidade, desenvolvimento pessoal e escolhas individuais. Sem momentos de intimidade e individualidade, o filho sofre inúmeros danos emocionais permanentes, que comprometem sua autoestima e incapacitam de seguir a vida de forma autônoma.
A necessidade do rompimento do cordão umbilical é evidenciada no curta quando, com o passar dos anos, a relação entre os dois fica estagnada nos moldes infantis de quando o filho ainda era uma criança. Agora, apesar de adulto, o filho ainda se mantém preso às necessidades da mãe e se vê incapaz de estar no mundo como um indivíduo único e autônomo.
A animação nos faz refletir sobre a importância de respeitar a individualidade da criança desde o seu nascimento, amar e apoiar sua jornada de descobertas e aprendizados.
Amar não é possuir
O trabalho de uma mãe é guiar seus filhos e ensiná-los o que é melhor para sua própria jornada no mundo, amando incondicionalmente mas também estabelecendo limites. É fundamental que as mães deixem seus filhos crescerem livres, e para conseguir isso, é preciso respeitar as necessidades, desejos e opiniões, sem super protegê-los ou sufocá-los com ameaças ou chantagens emocionais.
Em seu blog, a psicóloga Heloise Soares fala que as crianças são criadas para se prepararem para o mundo lá fora, afinal, na idade adulta, elas precisam enfrentar uma variedade de desafios. No entanto, muitos pais acabam se tornando dependentes emocionalmente de seus filhos, sendo protetores e impedindo que eles deixem o ninho e vivam suas próprias vidas. Essa ansiedade pode começar na infância e, se os pais não conseguirem superar seus medos e comportamentos, pode prejudicar a vida de seus filhos em várias áreas.
Outro ponto importante na maternidade é não ser excessivamente dependente, nem mesmo abandonar sua própria vida em função dos filhos. A melhor forma de ensino da autonomia é pelo exemplo, e manter sua própria individualidade é o melhor caminho para ensinar as crianças a terem as delas também. Criar um vínculo afetivo forte com os filhos não significa ser superprotetora, mas estar presente quando eles precisam, compreendê-los e amá-los, respeitando sua individualidade. Desta forma é possível estabelecer uma relação de confiança e ser um porto seguro, sem asfixias.
Antes de qualquer mãe cuidar de uma criança, é preciso cuidar de si mesma, curando as próprias feridas emocionais para, assim, oferecer mais segurança aos filhos. As mães são responsáveis por cuidar e amar essa nova vida que geram, mas não têm o direito de decidir sobre o destino deles. Seu papel é unicamente instrumentalizar as crianças que possam voar com segurança e confiança em si mesmos quando estiverem prontos.