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27/07/2019 às 11h11min - Atualizada em 27/07/2019 às 11h11min

“Deslembro”, a mistura de memória, história, ficção e política

Longa aborda a vida de Joana, uma adolescente que volta ao Brasil após o exílio para uma série de descobertas

Ohana Luize
Dados do filme - ArteCult
Dirigido por Flávia Castro, filme chegou aos cinemas brasileiros no fim de junho. (Foto: Divulgação / Internet)
Promulgada em 1979, a Lei da Anistia Política permitiu o retorno de pessoas exiladas consideradas criminosas pelo regime militar vigente à época no Brasil. É nesse clima que Joana (Jeanne Bourdier), uma adolescente que saiu do Brasil para a França com a família, retorna ao país com a mãe, o padrasto e dois irmãos crianças. Para a jovem, o Brasil era o país que “torturava e matava”, conceito definido pelo desaparecimento do pai, um ex-ativista contrário ao governo. O drama, misturado com as inseguranças e descobertas típicas da adolescência, mexe com a vida e as memórias de Joana.
 
Esse é o eixo da história retratada no filme “Deslembro”, dirigido por Flávia Castro, lançado em 2018 e que chegou aos cinemas do Brasil desde o fim de junho deste ano. Conta com a produção de Walter Salles, Gisele B. Camara e é distribuído pela Imovision. A diretora carrega experiências em ficção e documentário, sendo este o seu primeiro longa-metragem ficcional. Apesar disso, a história tem inspirações autobiográficas: a da diretora que viveu o exílio na infância, e da atriz Sara Antunes, que interpreta a mãe de Joana e viveu com os pais exilados na França.
 
O filme conta com boas simbologias e composições de cenário que ajudam a ambientar a história e o período. Escolhe retratar a política, cultura e as consequências do autoritarismo a partir da vivência dos personagens e da família. Chegando ao Brasil, a protagonista questiona o desaparecimento político do pai e passa a conhecer mais da personalidade do homem com quem não teve oportunidade de crescer e estava presente apenas nos espasmos de memória que a inquietavam.
 
Com a ajuda da avó Lucia, interpretada por Eliane Giardini, Joana passa a remontar suas memórias e tirar a limpo o que realmente aconteceu com o pai. É nas cenas das duas que o filme cresce nas interpretações que envolvem emoção, conversas sobre música, humor e mensagens fortes.

Joana tenta reconstruir memórias do pai ao mesmo tempo que lida
com as inseguranças e descobertas típicas da adolescência. (Foto: Internet / Divulgação)
 
Por falar em música, ela é um ponto a parte no longa. Joana sempre aparece ouvindo a banda favorita, The Doors, e em meio às influências estrangeiras como The Beatles, Pink Floyd, Lou Reed, David Bowie. No Brasil ela entra em contato com o rock nacional, a MPB e o samba. Caetano Veloso aparece na trilha com You Don’t Know Me e Cajuína, interpretada docemente por Joana e o namorado Ernesto (Antonio Carrara). Há ainda versos de Fernando Pessoa reforçando o tom poético do filme.
 
A inocência e pureza dos atores mirins são encantadoras. Joana aparece em situações comuns às descobertas de adolescente: o quarto, rodeada de livros e discos, o uso da maconha, o sexo, a escola, o amor, a praia. A mãe é um personagem pouco explorado e não deixa tão claro os sofrimentos que prefere enfrentar silenciosamente, por meio da fuga. Os ângulos não apresentam grandes surpresas e incomoda um pouco o excesso de instabilidade da câmera em algumas cenas.
 
“Deslembro” participou da seleção oficial de Veneza e de Havana, ganhou o prêmio da crítica no Festival de Biarritz e no Panorama Coisa de Cinema/Salvador. Levou os prêmios de público e crítica no Festival do Rio, e Melhor Filme no Festival de Cinema Latino Americano de Pessac (França) e no 21º Festival de Cinema Brasileiro em Paris.
 
Que escolhas podem ser feitas diante dos problemas sociais, como se reinventar em meio às dores e encarar o futuro. Erros podem ser não ser repetidos ou reparados se não os esquecermos? Entre o passado e o presente, Joana sai em busca da sua história.
 
Editado por Alinne Morais

 

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