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24/04/2023 às 02h10min - Atualizada em 03/05/2023 às 21h00min

O intervalo proibido, 'Diabolus in Musica', o que é o trítono?

Considerado diabólico na Idade Média, esse intervalo de notas já foi a pedra fundamental de um gênero musical, conheça o trítono.

João Lameira - Revisado por Nildi Morais
O guitarrista do Black Sabbath, Tony Iommi (Foto: Reprodução/Rolling Stone)

Você já sentiu algo estranho ao ouvir as primeiras notas de alguma música? Uma sensação de que algo está errado, uma tensão, algo fora do lugar? Normalmente isso é causado por uma dissonância - quando duas notas musicais entram em “choque”. E uma das mais famosas e mais utilizadas no mundo da música é o trítono.

 

Você pode nunca ter ouvido falar do trítono, ou conhecer apenas de nome, mas com certeza você já ouviu alguma música que possui esse tipo de intervalo. Entrando um pouco na linguagem mais teórica musical, o trítono é um intervalo entre duas notas que consiste em três tons inteiros ou seis semitons (cada uma das “casas” do violão é um semitom, por exemplo). 

 

Esse tipo de intervalo naturalmente gera uma tensão em nossos ouvidos. Musicalmente, esse tipo de inquietação é muito valioso, pois ele gera uma necessidade de “alívio” por parte do ouvinte. Quando as notas dissonantes são resolvidas com um acorde consonante, essa tensão vai embora e o ouvinte consegue se “libertar”.

 

Diabolus in Musica

 

Antes de falarmos por que esse tipo de som foi considerado o “diabo na música” na era medieval, é importante frisar que até mesmo a sensação de tensão que a música pode causar também é um fator cultural ocidental. À época, a teoria musical era baseada principalmente em escalas diatônicas (o que não acontecia em outras partes do mundo, como, por exemplo, no Oriente Médio) e, nesse contexto, o trítono era considerado um intervalo instável que necessitava resoluções difíceis para serem alcançados dentro do sistema tonal da época.

 

Por conta disso, muitos teóricos musicais associavam essa sonoridade dissonante à ideia de que ela representava o caos, a inquietude, ou até mesmo o mal. Entretanto, a história do “intervalo proibido” pode ser apenas uma lenda contada diversas vezes. Na verdade, não existem registros que comprovem que em algum momento a Igreja Católica tenha proibido esse tipo de som - inclusive alguns cantos gregorianos desta época incluem esse intervalo.

 

O que realmente está em registros históricos é a expressão “diabolus in musica”, entretanto, historiadores afirmam que na verdade esse termo refere-se à dificuldade que esse tipo de intervalo impunha aos músicos, para tornar a dissonância algo que pudesse ser resolvido musicalmente. Só que essa história de diabo na música acabou sendo muito interessante para um certo grupo de pessoas séculos mais tarde…

 

O Black Sabbath e a criação do heavy metal

 

No final dos anos 60, uma jovem banda de Birmingham, na Inglaterra, começava a dar os seus primeiros passos. O guitarrista, Tony Iommi, certa vez testando alguns riffs em sua guitarra sentiu um arrepio quando tocou aquele que seria o início da música Black Sabbath e de todo um gênero musical. Na hora ele já sabia disso, conforme ele mesmo afirmou:

 

"Eu lembro que quando toquei aquele riff pela primeira vez, todos os pelos do meu braço se arrepiaram e eu percebi que era aquilo ali. Era como ouvir 'Isso é o que você está fazendo e é para este lado que você deve seguir'”

 

Apesar desse tipo de intervalo já ter sido utilizado em outras músicas antes, como a clássica Purple Haze, de Jimi Hendrix, em Black Sabbath ela soou soturna e “maligna” - do jeito que eles queriam. O baixista e principal letrista da banda, Geezer Butler, era um entusiasta de assuntos do oculto, então aquele foi o estopim que eles precisavam.
 

A homônima primeira música do primeiro álbum do Black Sabbath. (Reprodução: YouTube)

 

O trítono na música atualmente

 

Os anos se passaram, e o trítono passou a ser cada vez mais utilizado na música mundial. Nesse artigo, nós focamos principalmente no heavy metal, por conta de toda a mística do “diabolus in musica”, mas o trítono é também muito utilizado em outros gêneros musicais, como o jazz e o blues. 

A dissonância é um recurso musical muito valioso, que enriquece a obra e muitas vezes traz o ouvinte para dentro da música sem ele nem mesmo perceber. O trítono não tem nada de místico como muitos já pensaram, mas não podemos negar que a tensão é sedutora.

 

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