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08/05/2023 às 22h52min - Atualizada em 06/05/2023 às 16h37min

20 anos de pane no sistema - é tempo de celebrar a carreira de Pitty

Em turnê batizada como ACNXX, Pitty comemora os 20 anos de "Admirável Chip Novo" na estrada.

Júlia Vasconcelos - Revisado por Joyce Oliveira
Imagem da capa do álbum 'Admirável Chip Novo'. (Foto: Reprodução/ Tenho Mais Discos Que Amigos)
Admirável Chip Novo é o nome do álbum que, com o pé na porta, apresentou Pitty ao Brasil já mostrando ao que ela veio. Este ano, o icônico álbum de estreia da cantora ganhou uma turnê de comemoração, a ACNXX, pelas duas décadas de lançamento.

O disco que representa a virada de chave na vida de Pitty lançou-a como a artista que viria a ser o novo rosto – e voz e mente – feminino do rock no Brasil e, de modo geral, uma grande representante do rock no país. Hoje, ela é um dos grandes nomes da música brasileira dos últimos tempos.

 
'Admirável Chip Novo' completo. (Playlist: Reprodução/ Spotify)

Suas músicas com sonoridade pesada e críticas duras começaram a tocar em rádios populares nos anos 2000, desafiando aquilo que se entendia como popular, especialmente para a voz de uma mulher. O ACN marca a primeira vez que a cantora da "cena" musical underground de Salvador gravou em estúdio e sela a parceria com a gravadora independente DeckDisc, na qual ela está até hoje.

As quatro primeiras músicas do álbum se tornaram sucesso absoluto. "Teto de Vidro", "Admirável Chip Novo", "Máscara" e "Equalize" são alguns dos exemplos da imperecibilidade de suas canções, mostrando-se relevantes até hoje. Isso é notável pelos números recentes atingidos por suas canções e vale dizer que o primeiro disco de Pitty foi certificado com disco de diamante em 2022, quase 20 anos depois do lançamento.
 
Pitty, banda e equipe com certificados recebidos em 2022. (Publicação: Reprodução/ Twitter - @Pitty)

“Máscara”, aliás, foi o primeiro single da cantora, indo de encontro à aposta da gravadora em “Equalize”, a música romântica do disco. Tamanha consistência do álbum, o ACN teve cinco músicas de trabalho.

E foi seguido de discos igualmente consistentes, 
como Anacrônico, Chiaroscuro e SETEVIDAS, embora nitidamente distintos, espaçados e até mais maduros entre si. Pitty construiu uma carreira sólida e conquistou um público tanto grande quanto fiel, o que é muito valioso para uma artista que não tem medo de experimentar e de se reinventar.



Entretanto, sua carreira não começa com o ACN. Quando ainda morava na Bahia, Pitty foi vocalista do Inkoma, banda de hardcore, e baterista e backing vocal de uma banda de punk rock composta somente por mulheres, a Shes. O amor pela música vem de ainda antes, quando ouvia os discos dos pais e ia ao bar de seu pai ouvi-lo e acompanha-lo em suas serestas.


Entrevista da banda Inkoma em 1998 (Vídeo: Reprodução/ YouTube - Pitty News)


O Admirável Chip Novo foi o que a levou ao Rio de Janeiro. Depois de enviar demos de suas músicas a Rafael Ramos, seu produtor, ela foi enfim gravar o disco que a colocou no mainstream e formou uma banda e possibilitou que seu sonho de viver de música se tornasse real. Por meio da Deck e da gravação do ACN, a banda de Pitty teve sua primeira formação.

“Pra quem nasceu de asa o pecado é não voar”

Muito cedo na vida, Pitty buscou cavar a própria identidade e encontrou espaço no underground de Salvador, abafado pelo axé music e pela cultura popular forte da Bahia. O rock foi essencial em seu movimento de emancipação e, através da música, ela saiu da cidade natal sem garantias.

O resultado desse processo de independência foi uma artista consagrada com hits que ecoam até hoje a plenos pulmões em casas de show e espaços culturais lotados de gente, mas que foram escritos por uma menina no quartinho de sua casa, em Salvador.




A reconciliação com as raízes baianas veio anos mais tarde e está impressa no álbum Matriz, seu último disco autoral, lançado em 2019. Na faixa “Bahia Blues” ela resgata memórias da infância e fala com carinho sobre a Bahia que ela conheceu. Chip Novo, Anacrônico e Chiaroscuro pavimentaram o caminho para que Matriz pudesse correr.

Pitty tratou de mostrar sua linguagem e forma de expressão no primeiro álbum lançado, antes que expectativas alheias ao seu senso crítico e artístico dominassem sua imagem. Ela bancou seu ponto de vista e expressão de tal forma que, sem abrir mão de estar na mídia, manteve a privacidade preservada e se recusou a virar um produto.

Parece ter cravado a bandeira no almejado lugar entre Ratos de Porão e Ivete Sangalo. Ser popular sem deixar de ser o ídolo "de carne, osso e coração”, como disse em discurso feito em 2005 no VMB, premiação da MTV.

O aniversário do "Admirável Chip Novo" indica que é tempo de celebrar a grande artista e a mulher corajosa o suficiente para espraiar suas asas e brigar pelo seu espaço no rock, na música, no Brasil e no corpo de mulher 
tudo isso sem tirar o coturno do pé.  "[...] saí da minha terra natal, arrisquei tudo por um sonho.", disse Pitty em suas redes sociais sobre os 20 anos do disco que transformou sua vida e marcou o rock brasileiro de maneira irreversível. E, bem, a "maior cartada" de sua vida a fez inspiração para muitas mulheres e referência para muitos artistas.

 

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