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10/05/2023 às 01h55min - Atualizada em 16/05/2023 às 12h29min

Mais um tijolo no muro? Conheça a história por trás do álbum The Wall, do Pink Floyd

Considerado uma obra-prima conceitual, o álbum reflete o clima social e político da época em que foi escrito, além da vida pessoal de Roger Waters.

João Lameira - Revisado por Nildi Morais
Pink Floyd à época, respectivamente: Richard Wright, Roger Waters, David Gilmour e Nick Mason (Foto: Reprodução/Roadie Metal)

Lançado em 1979, o clássico ‘The Wall’ é o décimo primeiro álbum da lendária banda de rock progressivo Pink Floyd. Considerado uma obra-prima conceitual, o álbum é o último da banda a contar com a clássica formação com Roger Waters nos vocais e baixo, David Gilmour também nos vocais e na guitarra, Nick Mason na bateria e Richard Wright nas teclas.

 

Composto majoritariamente por Waters, até hoje o álbum é considerado um dos maiores clássicos da música mundial, todos conhecem e cantam os versos “We don’t need no education”, até mesmo considerando-os erroneamente um hino antieducação, como o próprio compositor já deixou claro em entrevista:

 

"É um equívoco popular interpretar a música como antieducação. A educação é a coisa mais importante na vida de qualquer pessoa, na minha opinião. É algo em que deveríamos investir muito mais dinheiro. A frase ‘We don’t need no education’ é uma passagem satírica dentro de um contexto de narrativa muito mais amplo. As pessoas simplesmente interpretaram mal, mas as crianças adoraram. Acho importante que os jovens se rebelem. Não há nada pior do que uma geração de jovens que aceitam o status quo sem questionar. O que eu tento encorajar é que eles pensem sobre as coisas e abordem o que está acontecendo na sociedade em que vivem, tentem descobrir como podem melhorar as coisas para seus futuros filhos para que possamos progredir como sociedade."

 

Na verdade, muitos nem mesmo sabem que essa música (‘Another Brick in the Wall’) possui três partes, que estão distribuídas ao longo do álbum e uma verdadeira odisseia da vida de Pink - personagem inspirado no próprio Roger Waters. O álbum reflete não apenas a sua vida pessoal, mas também o clima social e político da época em que foi escrito, além de ter sido lançado num período conturbado da banda.

 

Ao final da década de 70, o mundo estava passando por um momento de incerteza e mudança. A Guerra Fria estava em pleno andamento, a crise do petróleo havia afetado a economia global e as tensões políticas e sociais estavam em alta. Nesse contexto, Roger Waters começou a escrever The Wall, um álbum que refletia a alienação e a desconexão da sociedade, bem como suas próprias lutas pessoais.

 

A vida de Roger Waters

 



O principal compositor desse álbum, Roger Waters, decidiu, através do personagem ‘Pink’, contar e refletir sobre a sua própria história ao longo de ‘The Wall’. Seu pai morreu na Segunda Guerra Mundial, quando Roger tinha apenas alguns meses de idade, e sua mãe lutou para sustentar a família sozinha. Esses e outros momentos, como sua infância traumática e uma educação opressiva, contribuíram para a construção do muro que nomeia o álbum.

 

A construção do muro emocional simboliza a desconexão emocional que Waters sentiu em sua própria vida, enquanto a jornada do personagem principal do álbum espelha suas próprias experiências e lutas pessoais - desde a infância até a vida adulta, quando se torna um homem velho e desesperançoso, que acredita que não precisa de ninguém. Há também, quem afirme que essa última parte é reflexo do crescente controle e autoritarismo que Waters estava exercendo sobre a banda na época da criação do álbum.

 

A situação no Pink Floyd

 

Nesse período, o ambiente de uma das maiores bandas do mundo não era dos melhores. Conhecido por seu temperamento difícil, dominante e controlador, Waters esteve especialmente difícil durante a composição desse álbum. A tensão era tanta que o tecladista Richard Wright foi demitido durante as gravações do álbum - fruto de constantes desentendimentos com Waters. 

 

Os temas de autoritarismo, alienação, conflito e isolamento que Waters puxou de sua história para a música acabaram refletindo a própria banda que, curiosamente, em meio a todo este caos lançou uma obra-prima que influenciou profundamente a música e a cultura popular em geral. Além disso, o álbum foi um estrondoso sucesso comercial, primeiro lugar nas paradas de diversos países, vendendo mais de dezenove milhões de cópias mundialmente entre os anos de 1979 e 90 e resultado em um filme.

 

A vida de Pink

 

Sem mais delongas, vamos às principais músicas que compõem o álbum, passando brevemente por sua história. Abrindo com “In the Flesh?” e “The Thin Ice”, a banda já deixa estabelecido o clima do álbum, em um tom épico que aborda a fragilidade da vida. Em seguida, Waters já inicia a trilogia “Another Brick in the Wall”, aqui abordando a partida do seu pai, deixando apenas uma memória para a família destruída.


"Mother", um dos momentos mais emocionantes do álbum, um dueto entre Waters e Gilmour. (Reprodução: YouTube)
 

A emocionante “Mother” traz Pink conversando com sua mãe, em uma conturbada relação de superproteção, que também contribui para a construção do muro metafórico. Quando chegamos à incrível “Hey You”, Pink já passou por diversas fases da vida e aqui, com o muro construído ele se sente só e reflete sobre a necessidade de conexão humana.


"Comfortably Numb" é uma das mais apoteóticas música da história da banda, com um dos melhores solos de Gilmour - e da história da música. (Reprodução: YouTube)

"Comfortably Numb", uma das músicas mais icônicas do Pink Floyd, chega falando sobre a desconexão emocional que Pink sente perante todos e, após seu épico solo se encerra, entrando na reta final do álbum. Com músicas mais intensas, músicas como “Run Like Hell” chegam para abordar a perseguição e fuga de um mundo opressivo - nesse caso que o próprio Pink criou.

 

O álbum culmina com "The Trial", uma música épica e teatral que encerra a história com um julgamento simbólico do personagem principal e a condenação do muro emocional. "Outside the Wall" encerra o álbum com a mensagem de que o muro emocional deve ser derrubado e as conexões humanas devem ser restauradas. 

 

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