Capa da obra “Elas no singular”, estrelando Clarice Lispector (Foto: Reprodução/HBOMax)Marcada pela sua riqueza e diversidade, a literatura brasileira possui muitos nomes importantes e reconhecidos internacionalmente, entre eles, diversas mulheres, singulares e especiais. Buscando valorizar e homenagear nossas escritoras brasileiras, Fabrizia Pinto dirigiu a profunda e encantadora série documental “Elas no Singular”, de 2018 e disponível na HBO.
Dividida em 8 episódios, a série conta, individualmente, a vida e obra de grandes autoras, sendo elas Clarice Lispector, Hilda Hilst, Conceição Evaristo, Lygia Fagundes Telles, Rachel de Queiróz, Adélia Prado, Cora Coralina e Nélida Piñon. Com estilos e gêneros de escrita diferentes, a produção reúne aspectos e obras marcantes de cada uma das escritoras, compondo um quadro rico de memórias e relatos.
A diretora Fabrizia Pinto conta que, no início da produção, o objetivo era retratar 20 grandes escritoras, mas esse número precisou ser reduzido. Afinal, são muitas as admiráveis e inspiradoras mulheres da literatura brasileira.
Sensorialidade e profundidade
Traço marcante da série e que garante conexão com o espectador, as falas e narrações estão em primeira pessoa, não deixando margem para interpretações e especulações de terceiros. Tanto os relatos e entrevistas antigas das escritoras, quanto às leituras dos seus depoimentos, feitas por atrizes, estão todas no mesmo formato.
O objetivo de Fabrizia é claro e certeiro. Aproximar as pessoas das autoras e propor um novo olhar, abandonando o mito da intocabilidade do escritor. Essa construção garantiu a representação fiel dessas mulheres, singulares e, além de tudo, humanas.
"Às vezes, o fato de me considerarem escritora me isola... Me põe um rótulo.Tudo o que eu digo, a maior bobagem, então é considerada como uma coisa linda ou uma coisa boba, tudo na base de ser escritora.”
Conta Clarice, em entrevista inserida na série “Elas no Singular”.
Mecanismo importante para criação de laços afetivos, a série recorre a memórias, relatos de pessoas próximas, gravações, entrevistas antigas e muitos outros arquivos para construir uma rica biografia de cada artista.
Para aqueles que ainda não conhecem as obras de cada escritora ou, até mesmo, para os que já tiveram algum contato, a mise-en-scene da série é repleta de trechos, escritos ou narrados, dos textos das autoras. Ou seja, uma rica e complexa construção, que envolve recortes pessoais, obras e histórias diversas, montando o mais completo perfil de cada uma das oito mulheres.
Desde os aliens vistos por Hilda, no episódio “Obscena Lucidez”, até a infância dura de Cora Coralina, em “Entre pedras e flores”, a série aborda as vivências de cada escritora, em tempos distintos, explorando sonoridades e imagens que nos afetam multi sensorialmente. Afetações que nos trazem conforto, assemelhação, carinho, além das inúmeras emoções que aqui não cabem.
A série contempla, fielmente, sua descrição na HBO: “Um encontro com algumas das maiores escritoras brasileiras, que dão voz às suas histórias pessoais, seus caminhos poéticos, amorosos, criativos e sombrios [...]”. Ouso dizer que a produção vai além, que supera as expectativas do espectador e faz com que cada um tenha uma diferente, mas profunda, experiência.
Para quem ainda não assistiu, fica aqui a minha indicação, sincera e carinhosa. Essa é uma série inspiradora e que destaca a importância das mulheres, não só na literatura, mas em todas as formas de existência e labor. A produção é um convite para mergulhar profundamente na história dessas grandes escritoras.
