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12/06/2023 às 20h26min - Atualizada em 23/05/2023 às 22h25min

Dos quadrinhos às telonas: 'Turma da Mônica' acompanha crianças e jovens com cultura, leitura e conhecimento

Universo de Mauricio de Sousa ajuda na alfabetização, gera identificação entre os leitores e pode ser usado como repertório cultural nas redações de vestibulares

Felipe Nunes - Revisado por André Pontes
O mais novo projeto da Mauricio de Sousa Produções é o filme "Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo". (Foto: Reprodução/ Laura Campanella/ Imagem Filmes)

Usa vestido vermelho, tem dentes enormes, é baixinha, anda com um coelho azul e se vê como a dona da rua. Mônica - personagem criada pelo quadrinista Mauricio de Sousa em 1963 - faz parte da cultura brasileira. Através de suas histórias, milhares de crianças e jovens despertam interesse pela leitura e pela cinematografia.  

Isso devido à abrangência da série, que está presente em
diversos meios. Ao decorrer dos anos, Histórias em Quadrinhos (HQs), livros, desenhos, filmes, músicas e séries contam as narrativas não apenas da protagonista, mas também de Cebolinha, Cascão, Magali, Chico Bento, Luca, Papa-Capim, Franjinha, Milena, Piteco, Jeremias e muitos outros personagens.

Atualmente, o filme
“Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo” é o mais recente do universo desenvolvido pela Mauricio de Sousa Produções (MSP) no segmento audiovisual. O longa teve as gravações encerradas na primeira sexta-feira deste mês, (5), e conta com Sophia Valverde (Mônica), Xande Valois (Cebola), Bianca Paiva (Magali), Théo Salomão (Cascão) e Carol Roberto (Milena) no elenco principal.



Na trama central, repleta de mistérios e investigações, a turma infalível embarca em uma missão para impedir que o Museu do Limoeiro seja leiloado. A direção da produção, que ainda não teve a data de estreia divulgada, é de Maurício Eça, conhecido pelo filme “A Menina que Matou os Pais”. 

De acordo com Eça, em 
entrevista ao Gshow, o processo de direção do longa-metragem tem sido emocionante. Ele enfatiza que “Dirigir um filme do Mauricio de Sousa é uma honra e uma emoção muito intensa, além de um desafio” e ressalta ainda: “apesar de fazer parte do universo Mauricio de Sousa, ele tem uma linguagem própria”.

Os
personagens coadjuvantes são: Denise, interpretada por Carolina Amaral; Carmen, vivenciada por Giovanna Chaves; Jerê, desempenhado por Bruno Vinícius; Titi, assumido por Lucas Pretti; DC, papel feito por Yuma Ono. No Instagram oficial da obra (@tmjfilme), alguns atores já apresentaram seus papéis, como: Sophia Valverde, Xande Valois, Bianca Paiva, Carol Roberto, Yuma Ono, Giovanna Chaves e Théo Salomão.

Crianças aprendem a ler com os quadrinhos

Embora as adaptações cinematográficas tenham ganhado destaque nos últimos anos, “Turma da Mônica” tem sua base de fãs formada majoritariamente por sua trajetória no universo das
HQs. Isso porque as histórias - com ilustrações, linguagem de fácil entendimento, pluralidade de temas e diversidade de personagens - são, por vezes, o primeiro contato das crianças brasileiras com a leitura

Em entrevista, Giovanna Moreto, de 22 anos, relembra a importância da série de quadrinhos na construção de sua relação com a leitura. Ela conta ao Lab Dicas Jornalismo que sua mãe a presenteou com o primeiro gibi e que professores a incentivaram a
ler também. 
 

“É uma ótima forma de introduzir as crianças para o mundo da leitura. Por ser dinâmica e contar com imagens, a leitura pode atrair com facilidade a atenção dos alunos, além de ser uma porta de entrada para tramas mais complexas”, argumenta.



Sobre isso, Thaís Silva Rodrigues, pedagoga pós-graduada em psicopedagogia, de 29 anos, considera que as narrativas presentes no universo de Mauricio de Sousa podem ser usadas em qualquer nível escolar. Ela ainda diz que “há décadas, ‘Turma da Mônica’ transmite amizade, justiça, respeito à diversidade, inclusão e assuntos relevantes, como importância da educação, da vacinação e da preservação do meio ambiente”. 
 

“As histórias em quadrinho podem funcionar como ferramenta pedagógica no processo de alfabetização e formação do leitor, uma vez que as HQs usam palavras e imagens, que, juntos, ensinam de forma mais eficiente, auxiliam no desenvolvimento do hábito da leitura e enriquecem o vocabulário dos estudantes”, explica a pedagoga.


Questionada sobre sua experiência com alunos que começaram a ler com os gibis, Thaís, que atua como professora de Educação Infantil, revela que, por meio dos elementos verbais e não verbais, as crianças iniciam sua trajetória nas leituras. “Tenho alunos que começaram com o hábito literário através dos quadrinhos. Mesmo não sendo leitores convencionais, eles criam suas hipóteses vendo as imagens, porque as HQs trazem essas possibilidades”, destaca.

Com relação ao papel familiar no incentivo à leitura infantil, a professora aconselha que o apoio aconteça fora dos portões das escolas. Por isso, acrescenta que ações, como contar histórias aos pequenos antes deles
dormirem ou deixar que eles narrem, de forma autônoma, as histórias que conhecem, auxiliam na criação do hábito de ler.

Usar as histórias como repertório nas redações em vestibulares e identificação com os personagens é possibilidade entre os jovens

A relação criada entre os leitores e os
gibis é firmada em todas as fases da vida. Na infância, os tradicionais gibis abordam as alegrias e descobertas de ser criança. Já na adolescência, a versão de quadrinhos seriada em Mangá, “Turma da Mônica Jovem”, criada em 2008, retrata os desafios vivenciados na pré-adolescência e juventude. 

Em projeções futuras, até mesmo narrativas com foco em adultos podem ser exploradas pelo quadrinista Mauricio de Sousa. Segundo o autor em entrevista à revista
Quem, um de seus sonhos é contar a história de seus personagens em uma etapa madura da vida.

Além da afinidade com as histórias contadas, os jovens são acompanhados pela turminha em uma das etapas mais decisivas depois do Ensino Médio: o vestibular. Isso porque as
redações, presentes na maioria dos processos seletivos de faculdades públicas, como Unesp, Unicamp e USP, podem ser escritas e relacionadas com as narrativas criadas por Mauricio de Sousa.



Ao Lab Dicas Jornalismo, Patrícia Alessandra Mangili - mestra em Ensino da Língua Portuguesa pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) - defende que “intertextualidades muito bacanas” podem ser feitas e ressalta ainda: “As redações podem, sim, ser compostas por ‘Turma da Mônica’, desde as de universidades particulares e universidades públicas até as do ENEM”.

Mangili desmistifica o mito que
assombra tantos estudantes sobre apenas repertórios tidos como ‘clássicos’ serem pontuados pelos corretores e adianta que “Não há uma exigência em nenhum vestibular que as redações devam ter, obrigatoriamente, conhecimentos eruditos de autores clássicos". Ela elucida que “A questão é o vestibulando desenvolver a escrita com um olhar mais semântico e profundo”.

Quando perguntada sobre os possíveis
temas em que a “Turma da Mônica” poderia ser utilizada, a professora especialista em redação elenca preconceito linguístico, gordofobia, alimentação, xenofobia, racismo e capacitismo como eixos temáticos em que HQs, filmes e séries da Mauricio de Sousa Produções podem ser relacionadas. Patrícia destaca ainda que, na produção textual, o uso pode ser feito não apenas como repertório, mas também como fundamentação dos argumentos.

Diversidade de personagens reforça inclusão e representatividade

A turma formada por Mônica, Magali, Cebolinha e Cascão é a mais conhecida nas HQs. Contudo, conforme a série em quadrinhos foi sendo exportada para outros países e conquistando novos públicos, outros personagens foram adicionados às
narrativas, com o intuito de ampliar a representatividade e a inclusão.

No segmento representatividade, ganham destaque:
Milena, a primeira protagonista preta do universo “Turma da Mônica”; Papa-Capim, indígena que mora na Amazônia; Jeremias, personagem preto criado antes mesmo de Mônica; Pelezinho, fruto da parceria com o jogador de futebol Pelé.



Já no que diz respeito à
inclusão, os quadrinhos trazem aos leitores as histórias de: 

  • Luca, personagem com deficiência física; 
  • Tati, garotinha com síndrome de down inspirada em  Tathi Piancastelli
  • Dorinha, integrante cega dos quadrinhos que está sempre com sua bengala e seu cão-guia; 
  • Humberto, personagem surdo;
  • Hamyr, garoto com deficiência física;  
  • André, personagem com autismo;
  • Edu, integrante com Distrofia Muscular de Duchenne (DMD).


Sobre as tramas representativas e inclusivas, Júlia Paes de Arruda, jornalista formada pela Unesp, declara que o universo desenvolvido pelo Mauricio de Sousa Produções é pioneiro na conscientização de temas relacionados à deficiência
 

“A pluralidade é muito grande. Dentro das histórias e em questões especiais, como campanhas sobre Autismo, Síndrome de Down e outras deficiências. Isso faz com que as pessoas se identifiquem. No território nacional, ainda falta muito conteúdo voltado para essas minorias“, pontua.


Ao Lab Dicas Jornalismo, Júlia - que, em dupla, fez seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) com foco na formação da identidade e memória do brasileiro relacionada à  “Turma da Mônica”- comenta que “o processo de produção foi um pouco complicado, porque precisávamos do depoimento de outras pessoas. Através de divulgação dentro da própria faculdade e em grupos de fãs no Twitter e Facebook, conseguimos respostas do Brasil inteiro, até mesmo de pessoas de fora do país”. 



Assim como a entrevistada Giovanna Santana, Júlia relembra que também teve seu processo de leitura iniciado com o universo de HQs criado por Mauricio de Sousa. “Comecei a ler entre quatro e cinco anos e foi a partir dos gibis”, recorda ela. Além disso, ela revela que tem pôsteres, gibis, bonecos e copos temáticos dos personagens até hoje.

“Não tem um personagem ou material que alcance a amplitude que a ‘Turma da Mônica’ tem no país em um nível tão enraizado dentro da nossa cultura. É uma questão de nostalgia também, porque acompanha as gerações ao decorrer dos anos e não envelhece de uma forma ruim”, finaliza Júlia, de 23 anos.


Legião de fãs atravessa continentes

Espalhar a cultura brasileira
internacionalmente é uma das conquistas da “Turma da Mônica”. Estados Unidos, Espanha, Itália e Japão são alguns dos territórios em que a turma se tornou famosa após ter suas histórias adaptadas e traduzidas.

Em entrevista, Giovanna Keiko, japonesa de 20 anos, conta que conheceu o
universo de Mauricio de Sousa através do personagem Cascão, quando tinha três anos. “Eu nem sabia ler, mas já adorava os gibis e toda semana tinha um novo”, relembra.


Keiko, que atualmente mora no Brasil, diz que pretende assistir os novos lançamentos audiovisuais, reforça sua admiração pelo projeto e conta sobre seu favoritismo na narrativa. “Tenho um enorme carinho pela ‘Turma da Mônica’ e admiro muito o trabalho deles [Mauricio de Sousa Produções]. Comecei a ler as histórias do Cascão, mas as da Magali se tornaram minhas favoritas. Também tenho alguns gibis da Mônica e do Cebolinha”, relata.

Das
HQs até as telonas, o universo desenvolvido pelo quadrinista Mauricio de Sousa expande sua importância sociocultural e se mostra como uma ferramenta que, além do entretenimento, serve de estímulo à leitura, auxílio em produções textuais e aumento da representatividade entre seus leitores e espectadores.


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