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17/08/2019 às 14h28min - Atualizada em 17/08/2019 às 14h28min

O Processo, por Franz Kafka

Uma crítica peculiar ao sistema judiciário.

Alessandra Araújo - Editado por Leonardo Benedito
Créditos: Divulgação
“O Processo’’ é um romance do escritor checo Franz Kafka, publicado pela primeira vez em 1925 após sua morte, por seu amigo Max Brod.

Imagine acordar em uma manhã qualquer, em um dia pouco especial e ser, sem razão que se apresente, detido por oficiais de justiça. Eis que Josef K., um homem bem abastado e dono de um bom cargo na sociedade, é preso por sujeitos que dizem representar uma tal justiça, e que K. estava sendo detido em nome de alguma lei. A razão para tanto não é dita em nenhum momento, embora houvesse sido indiciado a percorrer por um processo legal. 

K. tenta relutar à tal situação com muito esforço, mas no entanto não obtém nenhum sucesso, visto que os homens encarregados de o deter pouco sabem sobre seu processo e estavam realmente obstinados a dar continuidade aquela missão. Adiante, foi como Alice de Lewis Carroll entrando no País das Maravilhas, com a diferença de que não eram maravilhosas as coisas que K. viria a encontrar, mas sim inusitadas, anormais e até mesmo extravagantes.

O processo enfrentado por K. tirou-lhe do sossego e da rotina previsível dos seus dias, pois era obrigado a tentar se retirar das acusações buscando quem lhe pudesse socorrer. Todos pareciam saber mais sobre a situação da justiça em questão do que ele mesmo. E a cada direção que o recomendavam mais interminável e claustrofóbico parecia o inquérito. Certamente haviam dois processos: o da misteriosa e meramente aceita justiça, e o da existência agoniada de K. que gradativamente se enfadava.

Do início ao fim do livro, o leitor é envolvido por uma atmosfera que é ao mesmo tempo cotidiana e absurda. Isso fica bastante claro desde o princípio, quando a personagem principal está sendo acusada por algo que não compreende. Além de outros episódios, como quando os servidores da lei precisam ser punidos, posteriormente às reclamações de K., a correção se dá por açoitadas nas costas. Ou o porteiro, que parece estar de acordo com sua mulher sendo levada intimamente por juízes do tribunal quando lhes é conveniente.

As estranhezas são muitas, o mais admirável é o contexto em que o autor as insere. O enredo carrega todo um viés filosófico, afinal, a existência também carrega um certo embaraço e cada ser humano luta com seu próprio processo particular ou em sociedade.  O homem moderno conhece de fato as leis da justiça que regem sua nação, ou justiça seria só mais um desses termos vagos que sabemos razoavelmente do que se trata? Sabemos, pois, que a justiça estabelece uma série de leis e regulamentos buscando garantir segurança entre os indivíduos de uma sociedade organizada, e isso se trata de uma ideal utópico.

 A razão, pode ser claramente vista, afinal, qualquer um que enxergue um pouco da realidade percebe o quão a justiça pode ser burocrática e seletiva. De modo que a justiça propriamente existe, ainda que não seja para todos por igual. Em “O Processo”, ela é estranha e cumpre ritos incompreensíveis para quem está sendo acusado, inalcançável para um cidadão comum. O autor insere na obra uma crítica peculiar ao sistema judiciário: autoritário e confuso.

“O Processo” é uma leitura para se interpretar de muitas formas, em Kafka é de se esperar toda essa névoa extravagante e mesclada do habitual com o incomum e apesar de ter sido escrito há tantos anos, a crítica por ele feita pode ser, também, comparada com a atual realidade da sociedade em que estamos em vários aspectos. 

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